Evitar problemas de coluna

Escolha dos sapatos é muito importante

Atualizado: 
04/03/2015 - 16:09
O salto alto é esteticamente muito elegante para as senhoras mas a sua utilização deve obedecer a algumas regras, uma vez que o seu uso contínuo pode levar a lesões graves na coluna lombar que representa o eixo de sustentação do nosso corpo.

A dor na coluna cervical, dorsal ou lombar é um sintoma comum que pode afectar indivíduos de todas as idades mas com causas distintas. Na idade adulta é muito frequente a má postura ser a origem das dores, que quando surgem não damos muita importância mas com o decorrer do tempo podem trazer consequências mais complicadas.

Importa salientar que a coluna vertebral “é um órgão com uma importante função de sustentação e flexibilidade do tronco, e possui estruturas neurológicas muito importantes para a sensibilidade e mobilidade dos membros”, explica Luís Teixeira, cirurgião ortopédico do Spine Center, em Coimbra.

A coluna divide-se em cinco segmentos: cervical, dorsal, lombar, sagrado e coccígeo. “Ao olharmos uma pessoa com uma postura correcta ela deverá, quando vista de frente, estar com os ombros e a bacia nivelados com o chão, correspondendo à coluna a forma de um eixo rectilíneo”, esclarece o especialista. Vista de lado (perfil) a coluna ela apresentará curvaturas ditas fisiológicas (normais) que garantem a boa distribuição de pressão através dos discos intervertebrais. Ou seja, “teremos no perfil uma lordose cervical (convexidade posterior do pescoço), cifose dorsal (convexidade anterior do dorso), lordose lombar (convexidade anterior da região lombar), e uma cifose sacrococcígea (convexidade anterior da região do sacro e coccis)”, refere o cirurgião ortopédico.

Para manter a coluna de “boa saúde”, Luís Teixeira recomenda “a prática de actividades físicas, uma vez que o fortalecimento na musculatura das costas ajuda na sustentação da coluna e, de certa forma, a contrabalançar a desidratação discal que acontecerá com todas as pessoas”. O especialista recomenda ainda cuidados posturais nas actividades diárias, “como sentar-se correctamente, proteger a coluna quando se carregam objectos pesados, e muitos outros que são importantes para procurar evitar o aparecimento de problemas na coluna vertebral. O excesso de peso contribui para o aparecimento e/ou agravamento da patologia da coluna vertebral por sobrecarga mecânica de todas as estruturas vertebrais”. O controlo do peso é, portanto, também um dos importantes factores a ter em conta.

Calçado vs coluna

A escolha do calçado é igualmente de extrema importância, uma vez que “deve dar estabilidade ao pé que carrega o peso de todo o corpo e que não altere o balanço sagital da coluna vertebral, evitando criar desequilíbrios no eixo de carga que podem ser muito prejudiciais”, refere o especialista sublinhando que, o calçado deve ser o número correcto, deve respeitar o formato do pé evitando a compressão sem alterar a forma de andar, deve ser escolhido o sapato de acordo com a função a que se destina: desportivo, laboral ou para actividades sociais.

O salto alto é esteticamente muito elegante para as senhoras mas a sua utilização deve obedecer a algumas regras: “o salto não deve ultrapassar os 4 cm e deve ter uma base de apoio o mais larga possível para evitar instabilidades. Quando há necessidade de obter maior altura, tal deve ser compensado na parte anterior do sapato para que a diferença final se mantenha nos valores atrás referidos”, aconselha Luís Teixeira.

O sapato com salto alto altera a maneira como a mulher anda. Este tipo de calçado força levemente a cabeça para frente e os ombros para trás. A mudança, aparentemente pequena, causa uma angulação diferente na coluna e o resultado pode ser dores no calcanhar, tornozelos, joelhos ou vértebras. “Além das dores, o salto alto favorece a torção do tornozelo e em idosos aumenta o risco de quedas e fracturas secundárias”, esclarece o médico especialista.

E os modelos dos saltos também podem pesar na equação já que os do tipo fininho “forçam uma maior pressão sobre os calcanhares enquanto os mais largos são menos prejudiciais”. As mulheres que usam saltos diariamente devem, quando possível, retirá-los e apoiar os pés no chão enquanto estiver sentada. Mas, para quem já sofre de dores na coluna, as notícias são menos animadoras, devendo abandonar-se, quase por completo, o uso de saltos e optar por uma terapia como a hidroginástica ou a fisioterapia.

Principais doenças de coluna

“A frequência da patologia da coluna depende do escalão etário em que se insere cada indivíduo”, esclarece Luís Teixeira. Na criança e adolescente, as deformidades (escoliose, etc.) e as malformações congénitas são as patologias mais frequentes. No adulto jovem, a hérnia discal e a patologia traumática são as doenças mais prevalentes.

“Com o avançar da idade as doenças degenerativas como o canal estreito lombar, as discopatias e a espondilolisteses tornam-se mais frequentes, surgindo ainda em idade mais avançadas as fracturas osteoporóticas vertebrais”, explica Luís Teixeira, acrescentando que, os discos intervertebrais sofrem mudanças importantes no seu volume, formato, estrutura e composição, o que tem como consequência uma menor capacidade de realizar a sua função nativa de transferência de cargas e de estabilidade.

O disco é um complexo fibrocartilaginoso que funciona como o principal elo estrutural entre os corpos vertebrais adjacentes. Quando essa morfologia do disco muda com o envelhecimento, ocorre: perda da altura do disco, protusão do disco central para dentro do corpo vertebral e proeminência do anel fibroso. Até que, por fim, ocorre saída de disco do espaço intervertebral (hérnia de disco) pela ruptura das fibras desse anel.

5 conselhos para uma correcta utilização calçado vs coluna

  1. Evitar saltos de altura superior a 4 cm e com base estreita;
  2. Se o fizerem, façam-no por períodos de tempo o mais curto possível;
  3. Praticar exercício físico para fortalecimento da musculatura lombar paravertebral e dos membros inferiores;
  4. Em profissões que permaneçam por períodos prolongados de tempo em pé deve ser usado calçado confortável e sem salto ou com salto muito reduzido;
  5. Evitem usar compensações no calçado (tacão ou palmilhas) sem a indicação de um especialista.
Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
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