A atividade física em excesso é tão prejudicial quanto não praticar nada?
Se se fizer uma pesquisa no Google sobre este tema, encontrar-se-ão alguns artigos recentes que parecem emitir um parecer unânime: “Training very hard 'as bad as no exercise at all".
Uma das principais fontes deste parecer é o artigo do Journal of American College of Cardiology intitulado “Dose of Jogging and Long-Term Mortality The Copenhagen City Heart Study”.
Num estudo comparativo, os seus autores avaliaram 1.098 joggers saudáveis (com idades compreendidas entre os 29 e os 86 anos) e 3950 non joggers também saudáveis, que foram acompanhados prospetivamente desde 2001.
A análise dos respetivos resultados baseava-se na premissa de que, as pessoas que são fisicamente ativas têm uma diminuição do risco de mortalidade global de 30%, em comparação com aquelas que estão inativas. Apesar desta asserção, a dose ideal de exercício para melhorar o estado de saúde e a longevidade nunca chegou a ser estabelecida em estudos científicos.
As guidelines sugerem que o exercício ideal deverá realizar-se 5 a 7 vezes por semana, ter a duração de 30 minutos e intensidade moderada, embora nos indivíduos treinados se possa também recomendar a combinação de exercícios de intensidade moderada com exercícios de maior intensidade.
Os resultados deste estudo apontam para o seguinte:
- a duração total ideal do exercício deveria ser de 1 a 2.5 horas por semana;
- a frequência ideal deveria ser 2 a 3 vezes por semana;
- a velocidade deveria ser moderada, cerca de 8 km/ hora (equivalente a 6 METS).
Um dos aspetos mais interessantes foi o aparecimento de uma curva em U de mortalidade global, a expressar um comportamento bimodal dos resultados. Assim:
- o grupo que praticou obsessivamente, usando uma elevada intensidade, apresentou uma taxa maior de mortalidade em comparação com o grupo de intensidade moderada;
- o grupo que praticou jogging, com intensidade ligeira e moderada, obteve maior benefício, tendo mostrado uma mortalidade global significativamente menor que a dos sedentários.
Poder-se-á então concluir que:
1- Os benefícios da prática do exercício de intensidade moderada deverão encorajar cada vez maior número de indivíduos a aderir ao jogging.
2- Por outro lado, parece também muito importante salientar a este respeito que “mais não é melhor” quando nos referimos aos efeitos da mortalidade global dos joggers.
3- Pode não ser possível a extrapolação destas conclusões para outras modalidades desportivas, uma vez que não existem ainda estudos suficientes.
Recordo as palavras de um médico australiano que, há alguns anos atrás, no final da sua conferência fazia uma pergunta acerca dos efeitos benéficos do exercício físico intenso e prolongado “ Será possível tomar uma dose muito elevada de uma coisa boa sem que faça mal à saúde?” A sua resposta, já nessa altura, era um NÃO.
Prof. Ovídio Costa. Cardiologista. Diretor do Serviço de Cardiologia da Clínica do Dragão – FIFA Medical Centre of Excellence.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.