Será que devemos beber leite?
Desde há muitos anos que o leite assume um papel importante na nossa alimentação diária por nutricionalmente ser um dos alimentos mais completos, constituir uma opção económica, de fácil acesso e cómoda! É muito fácil “enfiar” um pacote de leite na mochila dos nossos filhos e ficar com a sensação de que os estamos a alimentar convenientemente.
Mas será que o leite é mesmo um bom alimento?
O leite é sem dúvida um alimento completo, no entanto, e muito por isso, é composto por substâncias dificilmentente digeríveis pelo homem adulto e que pela sua semelhança estrutural confunde muitas vezes o nosso sistema imunitário.
Os países com melhores indicadores de mortalidade por doenças modernas não bebem leite ou bebem em quantidades muito moderadas: China, Japão, Tailândia. Os países com maior consumo de leite, como EUA, Nova Zelândia, Canadá e Austrália, cerca de 330 Kg leite/pessoa/ano são os que têm maior taxa de osteoporose e fraturas ósseas.
A absorção (saída) do Cálcio nos ossos é aumentada em meios ácidos. Alimentos como a carne, peixe e leite aumenta a excreção de cálcio, se não forem acompanhados com alimentos alcalinizantes como a fruta e os legumes.
Muito se fala da lactose e para muitos a substituição do leite e produtos lácteos pelas versões sem lactose, permite uma melhor digestão e conforto intestinal. A maioria das pessoas produz pouca quantidade de lactase, enzima que degrada a lactose, açúcar do leite em galactose e glucose.
Apesar da ingestão de produtos lácteos sem lactose permitir uma melhor digestão na maioria das pessoas, a ingestão de açúcar é a mesma, uma vez que a glucose e galactose existem em grandes concentrações nos produtos sem lactose.
Mas será a presença de lactose o único problema do leite?
A lactose é apenas um dos muitos problemas do leite, especialmente para os intolerantes à lactose ou pessoas que mostram sensibilidade.
Outros nutrientes do leite e produtos lácteos como as proteínas, caseína, imunoglobulinas, aminácidos, são hoje em dia considerados substâncias potenciadores de inúmeras doenças por activarem mecanismos relacionados com progressão de alguns tumores.
Paradoxalmente, as versões ligth dos lácteos, e por isso chamadas de mais saudáveis, são os produtos sem lactose, baixo teor em gordura ou aditivados com cálcio, no entanto, mantêm o mesmo teor nos nutrientes que hoje em dia estão relacionados com incidência de doenças.
As proteínas do leite de vaca, caseína, lactoglobulina, betacelulina são estruturalmente homólogas com as do ser humano interferindo com o nosso sistema imunitário. Quando o leite é parcialmente digerido o nosso sistema imunitário produz anticorpos contra as proteínas do leite. Acontece que, como somos formados por proteínas estruturalmente homólogas, esses anticorpos acabam por atacar as nossas próprias proteínas.
Algumas proteínas, como a Betacelulina, ligam se aos receptores EGF-R, aumentando o seu número e a sua sinalização.
Este aumento do número de recetores, EGF-R, ocorre numa grande variedade de cancros: Mama, Cólon, Próstata, Ovários, Pulmões, Pâncreas, Bexiga, estômago, Cabeça e Pescoço.
Os produtos lácteos, na sua maioria, têm gordura saturada e a ingestão de altas quantidades desta gordura, constitui um risco acrescido no aparecimento de doenças Cardiovasculares.
Vários estudos associam o consumo de leite a maior incidência de inúmeras doenças além das cardiovasculares, como as auto imunes, cancros, síndrome metabólica, eczemas, acne, osteoporose, diabetes.
Reduza ou elimine o leite e produtos lácteos da sua aleitação se queremos viver mais e melhor.
Referências:
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