Salmão geneticamente modificado? No Canadá já está à venda.
Com o desenvolvimento da Engenharia Genética surgiu a possibilidade de alterar o ADN de alguns seres vivos com o objetivo de potencializar ou criar determinadas características que seriam inviáveis de serem produzidas pela natureza. Desenvolver produtos com melhor resistência e qualidade com vista a aumentar o lucro dos produtores é um dos principais objetivos da manipulação genética.
De acordo com Alexandra Vasconcelos, a manipulação genética (ou transgénica) “consiste em precipitar cruzamentos impossíveis de ocorrerem de uma forma natural – entre uma planta e um animal, uma bactéria e um vírus, ou entre plantas diferentes”.
“No caso dos alimentos estamos perante produtos que são fisicamente semelhantes aos naturais mas cuja composição apresenta elementos que nada têm a ver com os originais uma vez que a inserção de genes diferentes numa planta pode causar efeitos imprevisíveis nos seus processos bioquímicos e metabólicos”, explica. E é neste ponto que reside a polémica!
A alteração do código genético de uma espécie com a introdução de uma ou mais sequências de ADN, provenientes de outra espécie sexualmente não compatível, vai dar origem a um novo gene na Natureza.
A falta de estudos que determinam o impacto ético, económico, político e na saúde pública causa alguma apreensão no meio medico-científico.
Entre as vantagens apontadas pela indústria de produção transgénica destaca-se a possibilidade de se produzirem sementes com maior qualidade nutritiva, o aumento e melhoria da produtividade, a redução dos custos de produção e a resistência a doenças e pragas.
Quanto a desvantagens, inúmeras entidades e organizações falam em danos irreversíveis para a saúde pública e “desastre” ambiental, que poderá colocar em risco várias espécies.
“O grande problema dos transgénicos na saúde do homem prende-se com a produção de proteínas desconhecidas a partir das sequências de genes modificados no alimentos e que depois são consumidos”, afirma a especialista acrescentando que, em 2002, os cientistas descobriram que um dos fragmentos e um gene desconhecido, existentes nos organismos transgénicos, codificaram o ácido ribonucleico (RNA) originando uma proteína cuja função é totalmente desconhecida.
“Os organismos geneticamente modificados (OGM), para além de alterarem ecossistemas ambientais, promovem a diminuição da biodiversidade, a possibilidade de desenvolvimento de pragas, o desenvolvimento anormal de algumas espécies e, a longo prazo, ao aumento do uso de pesticidas e herbicidas”, esclarece Alexandra Vasconcelos.
Por outro lado, o aumento de alergias, tumores, de substâncias tóxicas para a saúde, assim como o aumento de resistência a antibióticos são alguns dos danos apontados em termos de saúde pública.
“No entanto, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), pode-se produzir e consumir alimentos geneticamente modificados. Estas organizações defendem que a tecnologia de manipulação genética, realizada sob o controlo dos protocolos de segurança, não representa maior risco do que as técnicas agrícolas convencionais de cruzamento de plantas”, refere a especialista acrescentando que “a capacidade de suportar pragas é apenas uma das características positivas e que reúne consenso”.
Apesar da luz verde dada por estas organizações, a verdade é que as medidas que visam garantir a segurança dos alimentos transgénicos “são ainda poucas e foram desenvolvidas com base numa experiência ainda reduzida de utilização desta técnica”.
“A organização Greenpeace defende que sejam estabelecidos mecanismos de proteção ambiental para prevenir os riscos dos trangénicos, opondo-se mesmo ao seu uso para a alimentação humana e de animais”, refere Alexandra Vasconcelos.
De acordo com esta organização, muitos dos estudos apresentados são, aliás, realizados pelos próprios produtores de sementes geneticamente modificadas e não refletem o impacto a longo prazo. “A Greenpeace considera que ainda não há estudos independentes sobre os possíveis efeitos destes produtos para a saúde humana”, reforça.
Milho transgénico representa 6% da plantação deste cereal em Portugal
Atualmente, na União Europeia apenas está autorizado, para fins comerciais, o cultivo do milho transgénico MON810. A seguir a Espanha, Portugal é o país que mais o planta.
Os dados já divulgados revelam que, em 2014, o milho transgénico representava cerca de 6% do total da cultura de milho em Portugal. No entanto, para plantá-lo é preciso obedecer a uma série de regras, como manter distâncias mínimas de outras culturas, criar zonas de refúgio com milho convencional, notificar os vizinhos e fazer cursos de formação.
Em Portugal, compete à Direção-Geral de Proteção das Culturas do Ministério da Agricultura a elaboração e atualização das normas técnicas para o cultivo de variedades geneticamente modificadas e a definição dos conteúdos técnicos das ações de formação que os agricultores têm obrigatoriamente de frequentar para desenvolver a sua atividade relacionada a este tipo de produtos.
No entanto, serão estas medidas suficientes para garantir a segurança? O próprio coordenador da área da agricultura da Greenpeace Espanha, Luis Ferreirim, considerou que “o que pedimos é que Portugal, Espanha e os outros três países europeus que os usam (República Checa, Eslovénia e Roménia), uma minoria na UE, sigam o caminho da maioria. Já são nove países que proibiram o cultivo de transgénicos, entre eles a França, o maior produtor da Europa, o que demonstra que não são necessários”.
Apesar das vozes que se levantam contra os produtos transgénicos, a verdade é que vão surgindo no mercado cada vez mais alimentos geneticamente modificados. “A soja e o milho são os mais comuns. No entanto, não podemos esquecer que muitos animais são alimentados com produtos transgénicos, não se sabendo ainda os seus efeitos e o respetivo impacto”, afirma a especialista em medicina biológica e anti-envelhecimento.
Óleos alimentares, papaia e mamão são outros exemplos de alimentos que podem ser produzidos recorrendo à modificação genética e são comercializados em vários países, incluindo Portugal.
Sabe-se ainda que para além do Salmão, agora comercializado no Canadá, já existem mais de 30 espécies de peixes sujeitas a tratamentos genéticos, para além de vacas, porcos e galinhas.