II Congresso Nacional de Psicogerontologia

"Qualidade de Vida no Processo de Reforma e Envelhecimento Activo"

Atualizado: 
23/02/2015 - 11:46
“A intervenção na promoção a qualidade de vida no processo de reforma e envelhecimento activo deve passar por uma abordagem ecológica, envolvendo as pessoas, as suas famílias, a comunidade e também o poder político”.
Envelhecimento activo

A Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Lusíada de Lisboa vai organizar, dia 25 de Fevereiro, o 2.º Congresso Nacional de Psicogerontologia. O congresso está subordinado ao tema "Saúde e estilo de vida" e tem, como principal objectivo, a promoção do debate entre "investigadores e outros profissionais especialistas na área da psicologia, psiquiatria, gerontologia, geriatria, medicina e serviço social nomeadamente na definição de conceitos e nas suas implicações para as práticas pessoais, interpessoais, profissionais e sociais dos participantes".

Entre diversas conferências e mesas temáticas, vai ser apresentado o relatório do Estudo "Qualidade de Vida no Processo de Reforma e Envelhecimento Activo". O Atlas da Saúde esteve à conversa com uma das coordenadoras do estudo – Prof.ª Tânia Gaspar – que nos adiantou os principais resultados do relatório.

Objectivos do estudo
O estudo pretendeu compreender a caracterizar os factores psicossociais e profissionais promotores de qualidade de vida no processo de reforma e envelhecimento activo e ser um contributo para a identificação de necessidades e planeamento de medidas conducentes à promoção de um processo de reforma e um envelhecimento com maior qualidade de vida em Portugal.

O estudo confirma que a Qualidade de Vida (QV) dos participantes está relacionada com a sua saúde física, psicológica e social/relacional, mas também no seu sentido face à vida, expectativas, cultura e valores. Nesse sentido, uma das principais ideias a reter é de que "a maioria da população estudada reflecte valores satisfatórios ao nível de todas as variáveis estudadas”. Na opinião de Tânia Gaspar “a satisfação moderada dos participantes com a qualidade de vida, factores psicossociais do trabalho, suporte social, sentido da vida e espiritualidade, explica-se, essencialmente, pela satisfação e apoio com as redes de suporte informais, nomeadamente a família, os amigos e serviços tradicionais locais”.

Principais conclusões
O estudo permitiu, conforme nos conta Tânia Gaspar, “melhor compreender os factores que influenciam a QV, para além de ter sido possível identificar factores sociodemográficos que podem ser considerados factores de risco e factores protectores da QV, e que devem ser optimizados e mantidos, na população de maior risco”.

“As pessoas com menor suporte social, pessoas com mais de 61 anos, pessoas com nível de literacia mais baixo e reformados sem actividade profissional activa foram as populações identificados com maior factores de risco”, refere a especialista acrescentando que, “como factores protectores nas pessoas com 61 anos ou mais salientamos a maior satisfação com a família e uma melhor gestão do stress/burnout e pressão do trabalho”.

A espiritualidade, descrita no estudo como as crenças, fé e optimismo surgem como uma forma de lidar com momentos mais difíceis e promovem esperança no futuro. “Embora importante para a maioria dos participantes, a espiritualidade pode ser vista como um factor protector para as mulheres, para as pessoas com doença crónica, para as pessoas reformadas sem actividade profissional”, explica a professora.

O que fazer com este conhecimento?
Uma lacuna identificada no estudo, diz Tânia Gaspar, “é a menor satisfação dos participantes com as respostas do contexto em relação à saúde”. Principalmente no acesso à saúde e informação relacionada com esta temática, bem como uma menor satisfação dos participantes com as actividades relacionadas com o suporte social.

O estudo verificou ainda que “ser reformado com actividade profissional, viver em casa própria e ter maior literacia são factores protectores, estes devem ser promovidos e devem ser incluídos em medidas e programas de promoção de um envelhecimento mais saudável e positivo”, explica a professora.

Deste modo, a coordenadora do estudo, comenta que uma das medidas a tomar deve ser a disponibilização de um maior e melhor acesso à saúde e informação de saúde adequada às necessidades da população. Para além disso, “deve-se criar e dinamizar estruturas promotoras de actividades sociais com qualidade, diversidade e numa perspectiva intergeracional, que previnam o isolamento mas respeitem a individualidade e contributo de cada um”.

Melhorar a qualidade de vida
Mas afinal como se pode melhorar a qualidade de vida no processo de reforma e envelhecimento activo? Tânia Gaspar refere que, “a intervenção na promoção a qualidade de vida no processo de reforma e envelhecimento activo deve passar por uma abordagem ecológica, envolvendo as pessoas, as suas famílias, a comunidade e também o poder político”.

Além do que já foi dito, Tânia Gaspar salienta dois resultados muito relevantes deste estudo:

1- O papel de relevo que o sentido da vida/objectivos de vida tem para a qualidade de vida, satisfação com o trabalho, satisfação com suporte social e espiritualidade. A procura de felicidade, significado e vontade de viver, assim como a abertura à mudança e a novas experiências são ingredientes fundamentais para que as pessoas façam uma gestão desta etapa das suas vidas com optimismo, iniciativa e envolvimento activo e consequentemente tenham um processo de reforma e um envelhecimento positivo;

2- Os reformados com actividade profissional são os participantes que revelam melhores indicadores de satisfação. Mais do que os participantes que estão empregados ou reformados sem actividade profissional. Este aspecto revela que é fundamental, após a reforma, que as pessoas mantenham uma actividade que lhes permita manterem um papel activo na sociedade e que continuem a contribuir com o seu conhecimento, experiência e iniciativa para a mesma.

Esse papel não terá de ser a continuidade da mesma actividade profissional, nem com a mesma intensidade e frequência. Por outro lado são os participantes com 60 anos ou menos que têm mais dificuldade em gerir o stress/burnout e pressão no trabalho, as medidas de promoção de qualidade de vida e de prevenção dos factores psicossociais de risco no trabalho, devem incidir na promoção de competências de gestão do stress e burnout, assim como proporcionar condições psicossociais de trabalho mais favoráveis, nomeadamente melhoria da relação com as chefias, maior autonomia, melhor articulação satisfação/qualidade trabalho/família.

Continuidade do estudo
Participaram neste estudo 1330 pessoas, dos 55 aos 75 anos de idade; a maioria da Grande Lisboa e do género feminino (62,2%). Cerca de metade com idade até aos 60 anos e outra metade com 61 anos ou mais de idade. A maioria casada e com filhos, sendo que um quarto são licenciados e cerca de um quinto têm o 1º ciclo e outro um quinto tem o 12º completo. Metade da população integrante no estudo tem actividade profissional activa e a outra metade está reformada. Mais de um terço tem uma doença que afecta o seu dia-a-dia.

Perante a importância deste relatório está previsto o desenvolvimento de um estudo qualitativo, através de entrevistas a pessoas com idade entre os 55 e os 75 anos de idade, empregadores e profissionais que trabalhem com população dentro deste grupo etário para melhor compreender os resultados do estudo e avaliar a pertinência e viabilidade das medidas de intervenção propostas.

A par desta deste avanço e no âmbito da intervenção a equipa Aventura Social, na sequência do Projecto Dream Teens, propõe-se desenvolver o Projecto Dream YOld com objectivo de promover a participação social activa, e dar uma maior visibilidade e "voz", mais envolvimento social e melhor qualidade de vida a todos, no processo de envelhecimento. Participe e saiba mais em http://www.aventurasocial-associacao.com

Este projecto tem a participação de elementos do Gabinete de Aconselhamento Psicológico da Universidade Lusíada e da Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa e pretende envolver diversas Juntas de Freguesia e Centros Sociais e Paroquiais.

Para já, no dia 25 de Fevereiro, data do II Congresso Nacional de Psicogerontologia, será divulgado o relatório do estudo e, posteriormente, divulgados os resultados pelos parceiros, municípios e poder político, assim como disseminação para a comunidade científica.

Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
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