Produção de vacinas
As vacinas têm um processo de produção complexo, combinando métodos de fabrico biológicos e farmacêuticos, sendo por isso designados de produtos biofarmacêuticos. Os lotes produzidos são de grande dimensão e contêm geralmente mais de 100 mil doses, sendo que são diversos os procedimentos de controlo que garantem que cada lote apresente um padrão de qualidade elevado e homogéneo.
Há duas fases principais na produção das vacinas:
A fase biológica,
que envolve a preparação dos antigénios. Nesta fase identificam-se e fazem-se culturas dos microrganismos (bactérias ou vírus), que são posteriormente purificados e atenuados ou inactivados (mortos).
A fase farmacêutica,
que consiste na obtenção final do produto pronto a usar. Nesta fase adicionam-se outros componentes para obter uma formulação final com características ideais para o enchimento e embalagem, com vista à posterior administração.
Ciclos de produção longos
Dependendo da vacina em questão, são necessários seis a 22 meses para produzir um único lote. Os ciclos de produção são muito mais longos do que os dos outros medicamentos. Por exemplo, são necessários nove a 10 meses para fabricar a vacina contra o tétano e 11 meses para a vacina contra a difteria.
Combinar diferentes antigénios para proteger de várias doenças complica um pouco mais a produção. As vacinas combinadas são, assim, o fruto de muitos anos de pesquisa e desenvolvimento e são o mais recente avanço tecnológico resultante da perícia na produção de vacinas.
Não se trata de uma simples mistura das várias vacinas existentes. Uma vacina pentavalente, por exemplo, previne cinco doenças (difteria, tétano, poliomielite, tosse convulsa e infecções invasivas a Haemophilus influenzae do tipo b e, na realidade, exige a produção de 11 antigénios (um para a difteria, um para o tétano e um para o Haemophilus influenzae do tipo b, três para a poliomielite e cinco para a tosse convulsa).
São realizados testes com diferentes composições para estudar a estabilidade e a compatibilidade dos componentes e dos adjuvantes, de modo a obter-se a formulação final.
O facto dos ciclos de produção serem muito mais longos que na indústria farmacêutica tradicional, é principalmente explicado pela necessidade de rigoroso controlo de qualidade dos produtos biológicos. Ou seja, cerca de 70 por cento do tempo total de fabrico é ocupado pelo controlo de qualidade, uma em cada três pessoas de uma unidade de produção está envolvida no controlo de qualidade, são necessários mais de 50 testes de controlo durante a produção de um lote de vacina e em média, são necessários 14 dias para realizar um controlo de esterilidade. Qualquer alteração detectada durante um controlo exige a realização de mais análises, prolongando a duração do ciclo de produção e, consequentemente, um potencial atraso no fornecimento do produto.
A vacina contra o Haemophilus influenzae do tipo b (Hib) é um bom exemplo. São necessários 21 controlos de qualidade ao longo do processo de fabrico. O tempo total dispensado no fabrico é de 20 dias, sendo necessários 192 dias para os controlos de qualidade.
A partir dos anos 70, as evoluções no campo da biologia molecular e engenharia genética abriram as portas para novas tecnologias de produção de vacinas, as vacinas recombinantes. Neste tipo de vacina o antigénio é produzido por outros microrganismos (por exemplo, leveduras).
A cadeia de frio na produção e distribuição
Respeitar a cadeia de frio significa trabalhar, com algumas excepções, com grandes limitações logísticas.
As vacinas devem ser mantidas a uma temperatura entre os +2ºC e os +8ºC e são distribuídas em embalagens próprias para suportar condições extremas, desde temperaturas muito elevadas a temperaturas negativas.
O correcto acondicionamento das vacinas, desde a sua produção até à administração é fundamental para assegurar a sua estabilidade. Devem, portanto, existir equipamentos adequados que suportem a cadeia de frio em todas as etapas da distribuição: fabricante, distribuidor, armazenista, farmácia (comunitária ou de unidade de saúde) e utente.
Assim, a elevada competência e perícia na produção de vacinas englobam vários aspectos fundamentais e intrínsecos a estes produtos: rigorosos procedimentos de controlo de qualidade, perícia na cultura de bactérias e vírus, matérias-primas de elevada pureza e estabilidade na cadeia de frio.
Os processos de fabrico têm os níveis mais exigentes da indústria farmacêutica tendo de cumprir as Boas Práticas de Fabrico Europeias, bem como os padrões da Food and Drug Administration (FDA), dos EUA.