Os açúcares e o cancro: qual a relação?
O açúcar é por definição a unidade básica constituinte de todos os hidratos de carbono.
A glicose, frutose e galactose são monossacáridos, isto é, açúcares constituídos por uma unidade apenas. A sacarose (açúcar de mesa), a lactose (açúcar do leite) e a maltose são dissacáridos constituídos por duas unidades de açúcar.
Existem ainda polissacáridos que são constituídos por 10 ou mais monossacáridos e se dividem em dois grupos, de reserva (amido e glicogénio) e estruturais (celulose, pectina e goma guar).
A Organização Mundial de Saúde recomenda que a ingestão de açúcar não ultrapasse os 5% do total de energia ingerida diariamente, o que para um adulto saudável representa cerca de 25 g de açúcar por dia. Tendo em conta que 1 copo (200 ml) de ice tea tem 12 g de açúcar, 1 barra de cereais (25g) tem 16 g de açúcar e 1 iogurte de soja frequentemente tem mais 10 g de açúcar por copo, é fácil perceber que facilmente se excede as recomendações indicadas.
O ideal é optar por alimentos nos quais o açúcar está naturalmente presente, tais como a fruta e os lacticínios magros, evitar ao máximo a adição de açúcar a bebidas ou alimentos e guardar os bolos, biscoitos, sobremesas doces, compotas e marmeladas somente para ocasiões especiais. Mesmo as bolachas e cereais de pequeno-almoço “integrais” ou “diet” podem apresentar elevada quantidade de açúcar adicionado, razão pela qual, devemos estar atentos e proceder a uma análise cuidada do rótulo.
Em suma, o total diário de açúcar ingerido, em açúcar de mesa e produtos açucarados, não deveria ultrapassar as 5 a 6 colheres de chá de açúcar. Para termos uma ideia, apenas uma lata de refrigerante tradicional pode conter até 10 colheres de chá de açúcar!
Segundo o Regulamento (UE) Nº 1169/2011, entende-se por açúcares “todos os monossacáridos e dissacáridos presentes nos géneros alimentícios, excluindo os polióis”. Por isso, nos rótulos dos alimentos podemos encontrar açúcares de diversas formas e com diferentes designações.
Quando encontrar os seguintes nomes, lembre-se que está a consumir açúcares:
Como encontrar açúcar nos rótulos
Quais são, em geral, as principais fontes de açúcar?
Bebidas açucaradas como refrigerantes, sumos e néctares; sobremesas doces; gelados; bolos, biscoitos, bolachas, cereais de pequeno-almoço para crianças; chocolates; rebuçados; caramelos; frutas cristalizadas; chocolate em pó; doces, compotas e marmelada; iogurtes açucarados; bebidas vegetais como bebida de soja e de arroz; mel.
Pergunta comum nas consultas de nutrição… O açúcar alimenta o cancro?
Todas células, cancerígenas ou não, utilizam a glicose como fonte de energia, ou seja, todas são “alimentadas” por este açúcar.
Muitos doentes oncológicos evitam os hidratos de carbono, ou tentam mesmo eliminá-los da alimentação, pois acreditam que o açúcar pode promover o crescimento das células cancerígenas. Contudo, quando se pretende a manutenção de um adequado estado nutricional e quando se está perante os efeitos secundários do cancro e dos tratamentos, esta atitude pode tornar-se perigosa.
A explicação para esta crença baseia-se, em geral, no seguinte:
Alguns tipos de células cancerígenas apresentam uma grande quantidade de recetores para a insulina, sendo mais sensíveis que as restantes células que as células saudáveis à capacidade da hormona promover o seu crescimento. A relação é, assim, indireta e complexa, quando se fala do crescimento de um tumor já existente, o qual pode ser estimulado não pelo açúcar em si mas através da relação entre o tumor, os níveis elevados de insulina e de fatores de crescimento do tumor.
O que está em causa é uma dieta excessiva, rica em açúcares, o que não se relaciona apenas com o cancro mas também com tantas outras doenças crónicas.
Ainda um dado adicional… eliminação dos hidratos de carbono da alimentação é causadora de stress, o que contribui para a ativação de mecanismos que aumentam a produção hormonal e que podem elevar os níveis de açúcar no sangue e prejudicar a função imunitária.
Assim, uma alimentação saudável e a prática de atividade física regular são pontos fundamentais na prevenção do cancro mas também para o prognóstico e qualidade de vida dos doentes oncológicos.
Em suma…
Os hidratos de carbono são imprescindíveis para satisfazer as necessidades energéticas diárias do organismo. No entanto, nem todos têm uma ação benéfica pelo que se deve optar por opções mais saudáveis.
Dentro dos hidratos de carbono simples (de absorção rápida), podemos encontrar os alimentos refinados, nomeadamente o açúcar, bolos, refrigerantes, que nos fornecem as chamadas “calorias vazias”, por apresentarem um menor teor em vitaminas, minerais e fibras.
Nos hidratos de carbono complexos (de absorção lenta) podemos encontrar os cereais integrais, a batata, arroz, massa e as leguminosas secas – feijão, grão, lentilhas – que apresentam um maior teor de vitaminas, minerais e fibra.
Uma forma de percebermos o teor de hidratos de carbono dos alimentos é através do seu rótulo. Recomendam-se alimentos sólidos com menos de 5g/100g de açúcares e bebidas com menos 2,5g/100g. Outra forma de análise é, ao total de gramas de hidratos de carbono devemos subtrair o total de gramas de fibra. Os alimentos que apresentam uma diferença menor serão os mais indicados.
Sara Torcato Parreira
Enfermeira Especialista/Co-coordenadora do Conselho Técnico-Cientifico do Projeto Nutrição Oncológica, da aTTitude, IPSS
Ana Rita Lopes
Nutricionista/Co-coordenadora do Conselho Técnico-Científico do Projeto Nutrição Oncológica, da aTTitude, IPSS