9º Congresso Nacional de Fisioterapeutas

“O fisioterapeuta através das suas competências únicas actua na promoção e protecção da saúde”

Atualizado: 
09/06/2015 - 17:34
Promover o papel do Fisioterapeuta na prestação de cuidados de saúde é um dos principais objectivos do 9º Congresso Nacional de Fisioterapeutas. Um papel nem sempre reconhecido pelos utentes, mas nem sempre pelas organizações ou por outros profissionais de saúde.

O 9º Congresso Nacional de Fisioterapeutas, que este ano se realiza entre os dias 12 e 14 de Junho no Centro de Congressos do Estoril, irá trazer referências mundiais na área da disfunção do movimento e da dor. “Fisioterapia é saúde” é o mote principal do congresso e a “Dor” será o tema aglutinador que reunirá muitos investigadores e clínicos.

Este evento “aposta claramente na produção científica e na investigação e aí foram submetidos por fisioterapeutas portugueses cerca de centena e meia de trabalhos de investigação”, refere Isabel de Souza Guerra, fisioterapeuta e presidente do Conselho Directivo Nacional da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas, sublinhando que, “temos uma clara imagem de que a fisioterapia está viva e que todo este potencial de conhecimento deve ter expressão na prática clínica com tradução na qualidade de intervenção e dos resultados”.

Estes profissionais são reconhecidos pelos seus clientes e pelos resultados obtidos, mas nem sempre pelas organizações, por outros profissionais de saúde e pelo público em geral. Por isso, este congresso pretende também promover o papel dos fisioterapeutas para o exterior da profissão, numa missão que deverá ser conjunta de todos os fisioterapeutas, que se estimam em cerca de 9000 os profissionais em exercício em Portugal.

Com um programa científico diversificado, este congresso terá ainda espaço para a academia se apresentar através das diversas instituições de ensino superior que formam fisioterapeutas. O leque de “workshops” e de cursos pré e pós congressos é vasto permitindo o contacto dos fisioterapeutas com algumas das mais actuais “ferramentas” de intervenção”.

A Fisioterapia ao fisioterapeuta

A Associação Portuguesa de Fisioterapeutas acredita que a Fisioterapia e os fisioterapeutas oferecem um contributo indispensável para a saúde das populações e para a economia nacional. Contudo, é necessário que esse contributo seja melhor compreendido e reconhecido por aqueles que estão fora da profissão.

O fisioterapeuta é um profissional com uma formação superior e que possui uma carteira profissional outorgada pelo Ministério da Saúde. No entanto, a realidade é que existem outros profissionais sem habilitações e que exercem, por vezes, as mesmas funções de um fisioterapeuta. Isto acontece porque não existe em Portugal qualquer enquadramento legal que penalize esta prática de concorrência desleal e que põe em causa a saúde dos indivíduos.

Por isso, é importante que os utentes tenham o cuidado de se informar sobre as habilitações da pessoa que lhe está a efectuar os tratamentos.

“A fisioterapia intervém com o objectivo de desenvolver, manter e restaurar o movimento e a capacidade funcional em situações em que o movimento ou a função são ameaçados por envelhecimento, lesão, doença, factores ambientais ou outros”, explica Isabel de Souza Guerra, acrescentando que, “o fisioterapeuta através das suas competências únicas actua na promoção e protecção da saúde, tratamento/intervenção, habilitação e reabilitação”.

Para a especialista são mais do que suficientes os estudos realizados que revelam claramente que a fisioterapia é recurso custo-eficaz em saúde, especialmente nas condições crónicas de saúde, e que estes profissionais têm cada vez mais reconhecimento por parte dos utentes.

“Já o mesmo não se verifica ao nível das entidades oficiais e alguns parceiros sociais. A fisioterapia é a terceira maior profissão na prestação de cuidados de saúde em Portugal e na Europa, mas é tratada por alguma classe dirigente como um parceiro menor”, considera a especialista que defende a existência de uma regulamentação profissional adequada, o respeito pelas competências destes profissionais sem atropelos por parte de outros, e que as entidades oficiais olhassem para o que se faz nos outros países da Europa e do Mundo onde o fisioterapeuta é parceiro reconhecido em todas as actividades de saúde.

Para Isabel de Souza Guerra seria necessária uma Ordem profissional: “encetámos um processo de regulação da profissão através de um projecto de criação de uma ordem profissional dos fisioterapeutas, há 14 anos, junto da Assembleia da República, não só para a regulamentação da profissão, mas muito na defesa do interesse dos utentes e sua protecção. Apesar dos nossos esforços sistemáticos, e do reconhecimento tácito de muitos quadrantes sociais e políticos, continuamos a não ter resposta, dando a entender que os nossos dirigentes procuram que a realidade da Fisioterapia em Portugal se afaste cada vez mais do que são os padrões internacionais. E esta opção política não é certamente benéfica para a nossa sociedade nem para os nossos cidadãos”.

Dificuldades dos profissionais

Perante o contexto de crise socioeconómica que a área da saúde atravessa a responsável destaca como principais dificuldades dos profissionais “a ausência de regulação da profissão que faz com que impere o exercício ilegal e o atropelo de competências por outros profissionais de saúde e curiosos”. Por outro lado, as dificuldades têm também a ver com os desafios que se colocam para o futuro:

  • a criação de oportunidades de melhoria na qualidade da prestação;
  • melhorar a eficiência e melhorar os mecanismos que permitem confirmar que a intervenção do fisioterapeuta é custo-eficaz, através de um correcto planeamento e uma eficaz gestão dos recursos humanos;
  • aposta no desenvolvimento profissional contínuo e na melhoria das competências específicas dos fisioterapeutas nos seus vários contextos de exercício.

Para além disso, a responsável considera que o desinvestimento do Serviço Nacional de Saúde, tanto em termos de recursos humanos e prestação de serviços de fisioterapia como na contratualização com entidades externas, tem retirado a uma grande fatia da população o acesso a serviços que lhe permitiria melhorar a saúde e a sua funcionalidade.

Actual Estado da Arte da Fisioterapia

Na opinião de Isabel de Souza Guerra, “ao nível da educação os fisioterapeutas portugueses encontram-se tão bem preparados como os seus congéneres internacionais. Temos capacidade de prestar cuidados individualizados de elevada qualidade com um leque de intervenções efectivas baseadas na evidência científica em fisioterapia, por profissionais com fortes competências clínicas e de relacionamento interpessoal”.

É certo que há profissionais que se debatem com constrangimentos diversos para poderem oferecer os melhores serviços, o que reforça a necessidade da existência da Ordem de Fisioterapeutas no interesse dos profissionais e dos cidadãos que servem.

“Um pouco por todas as áreas de saber, estamos a progredir para trazermos melhores serviços e melhor qualidade aos portugueses. Sublinhe-se, nomeadamente nas técnicas de ventilação não-invasiva com provas dadas e merecedora de lugar de destaque nas revistas científicas internacionais” ressalva a especialista.

A investigação em neurociências tem ocupado ainda um lugar relevante e permitirá ajustar e actualizar algumas abordagens da fisioterapia em condições neurológicas, designadamente na recuperação do movimento após acidente vascular cerebral. Sempre, conclui Isabel de Souza Guerra, com o objectivo último da melhoria da saúde e da qualidade de vida dos utentes. “É isto que temos feito desde que existem fisioterapeutas em Portugal”.

Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
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