Incontinência Urinária
A Incontinência Urinária (IU) define-se pela perda involuntária de urina, independentemente da causa ou da quantidade. "Há diversos mecanismos pelos quais se pode perder urina sem querer. As queixas e as condições em que as perdas ocorrem diferem um pouco consoante esses mecanismos alterados. A grande maioria das senhoras perde durante os esforços, da tosse, espirros ou outros. No homem esta forma é mais rara e surge em doentes operados (à próstata por exemplo) ”, explica Luís Abranches Monteiro, urologista do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, acrescentando que, "outra causa mais frequente, tanto no homem como na mulher, é a incontinência por bexiga hiperactiva, ou por imperiosidade. O que acontece aqui é o aparecimento súbito, sem aviso de vontade intensa de urinar. É difícil de adiar e obriga a procurar uma casa de banho em segundos ou minutos. Dependendo de vários factores, isto pode resultar em perdas urinárias involuntárias, ou seja, em incontinência”.
É fácil perceber que a IU não mata mas tem forte implicação e limitação na vida social dos doentes. É muito frequente os doentes deixarem de ter uma vida social activa, não sair de casa e auto limitando-se por vergonha. Existe igualmente a ideia errada de que a IU tem a ver com o processo de envelhecimento. Tem antes a ver com modificações relacionadas com a idade que predispõem à sua ocorrência. Na opinião do urologista os preconceitos/mitos relacionados com este sintoma (IU) estão associados à velhice, ou à falta de higiene.
Tendo em conta que existem muitos mitos relacionados com a saúde/doenças, o novo conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde implica uma maior compreensão dos aspectos sociais, com especial importância para a informação, como pilar fundamental para a prevenção das doenças e a promoção de estilos de vida saudáveis. Deixar de lado os preconceitos e procurar ajuda médica para este problema pode ser a solução para milhares de doentes que sofrem, em silêncio e carregam, desnecessariamente, o peso de um tabu.
E não são poucos os doentes com IC, no entanto o especialista alerta que, os números existentes que dizem respeito à prevalência "obrigam a algum cuidado de interpretação”. Ou seja, explica, "ter um ou outro episódio isolado de perdas involuntárias é frequente e não transforma a pessoa em incontinente. Por outro lado, sabemos que muitas destas pessoas não se queixam, donde haverá mais incontinentes do que aqueles que procuram ajuda”. Logo, o número tido em conta é o da existência de bexiga hiperactiva na população geral, cerca de 15 por cento, certamente maior na população idosa, sendo que metade dos 15 por cento terá IU. No que toca aos esforços (IU por esforço), Luís Abranches Monteiro, refere que o número é bem maior, mas quase só localizado na mulher pós-menopausica e multípara.
Quer isto dizer que "se trata de uma doença sub-diagnosticada e a grande razão é o desconhecimento e a vergonha. Sabemos que até há 10 anos os tratamentos eram custosos, em sofrimento e dias de internamento e os resultados nem sempre muito bons. Isto, associado ao tabu, leva a que cada doente não invista na sua melhoria, queixando-se ao médico. Alguns chegam a esconder este facto dos seus familiares”, conta o urologista.
Causas e tratamento
As causas da doença são diversas, embora na IU dita de esforço são fundamentalmente na má função dos músculos que atapetam a pélvis. "De facto, têm como função suportar a uretra aquando dos esforços, mas por razões de idade, sedentarismo, partos ou perturbações hormonais, estes músculos deixam de actuar e a uretra deixa escapar algumas gotas a cada esforço, maior ou menor”, explica Luís Abranches Monteiro, acrescentando que, "nos casos de bexiga hiperactiva as causas são mais complicadas e podem ir desde uma bexiga demasiado sensível até um mau controlo do sistema nervoso sobre a sua função”.
Seja como for, em ambos os casos - IU por esforço ou por imperiosidade -, se os mecanismos forem bem identificados é possível tratar – com cirurgia e/ou terapêutica medicamentosa - e ficar sem perder urina completamente. Contudo, nem sempre é possível, pois há formas de incontinência mais complexas e que não têm resolução tão fácil, mas podem melhorar e passar a perder apenas pequenas gotas em vez de grandes quantidades.
Mitos e verdades sobre a incontinência urinária
A perda de urina é um problema de idosos.
Mito. Apesar da maior prevalência entre os idosos, a incontinência urinária não é exclusiva dos idosos. Pode atingir jovens, adultos, idosos, homens, mulheres e até crianças. Devido ao aumento da esperança de vida, são cada vez mais comuns os casos em pessoas em idade activa.
A incontinência urinária não é uma doença comum.
Mito. De acordo com os dados disponíveis existe em cerca de 15 por cento dos doentes. Trata-se de uma doença sub-diagnosticados e a grande razão é o desconhecimento e a vergonha.
A incontinência urinária é mais comum entre mulheres.
Verdade. As mulheres têm maior probabilidade de apresentar esta condição, devido à gravidez, parto e disfunções hormonais. Cerca de 40 por cento das mulheres após a menopausa perdem urina de forma involuntária. Aproximadamente 8 por cento dos homens que passam por alguma cirurgia da próstata também vivenciam por um período a incontinência.
Incontinência urinária e bexiga hiperactiva são a mesma coisa.
Mito.A bexiga hiperactiva é uma disfunção caracterizada por contracções involuntárias da bexiga que causam uma vontade excessiva de urinar, obrigando o doente a ir muitas vezes ao WC. Já a incontinência consiste na perda de urina. No entanto, os dois problemas podem estar associados.
Hábitos saudáveis evitam o desenvolvimento de incontinência urinária.
Verdade. A obesidade, a obstipação, a baixa ingestão de fibras e o tabagismo podem constituir factores de risco para a incontinência urinária. Por isso, uma alimentação equilibrada e hábitos saudáveis são fundamentais.
A incontinência urinária pode levar à depressão.
Verdade. A perda de urina causa restrições sociais, sexuais, ocupacionais e domésticas. Os doentes isolam-se com medo de passar por situações constrangedoras, seja em viagens, festas e até em actividades rotineiras. O isolamento pode resultar em depressão. Por isso, é muito importante ficar atento aos sintomas e procurar ajuda, uma vez que muitos doentes escondem o problema da própria família e não procuram orientação médica.
A incontinência urinária tem tratamento.
Verdade. Os tratamentos actuais permitem quer a melhoria dos sintomas, quer, em muitos casos, curar a incontinência urinária, seja com recurso a terapêutica medicamentosa, seja através de cirurgia.
O médico que trata desta disfunção é o urologista.
Verdade. Diferente do que muitas pessoas pensam, o urologista não é um médico de homens, assim como o ginecologista é de mulheres. Ele é um especialista no aparelho urinário e, portanto, o mais indicado para orientar sobre qualquer disfunção miccional como a incontinência urinária, tanto em homens, como em mulheres, crianças e idosos. É o urologista que opera as incontinências urinárias mas o ginecologista também. As incontinências urinárias não cirúrgicas são tratadas pelos urologistas, ginecologistas, fisiatras e/ou pelos Médicos de Família.