A Dieta Mediterrânica
A designação de Dieta Mediterrânica (DM) surgiu pela primeira vez em meados do seculo XX e teve por base os hábitos alimentares tradicionais da Grécia e do sul de Itália, com estudos realizados pela equipa do investigador norte-americano Keys1. Estes estudos permitiram caracterizar os padrões alimentares tradicionais praticados nessas regiões e os seus benefícios para a saúde.
Destacava-se uma boa qualidade de vida, uma “esperança de vida das mais elevadas do mundo”1-1313 e taxas reduzidas de morbilidade e mortalidade provocada por doença crónica1. Este padrão alimentar encontra-se presente noutros países da Europa meridional, como no sul de Portugal, da zona ocidental da Ásia e da orla costeira do norte de África. Apesar da diversidade de costumes e hábitos alimentares de cada um destes povos, apresenta sempre uma matriz comum que é a produção e consumo de azeite1.
A relevância da DM portuguesa levou a Câmara Municipal de Tavira a candidatar-se e a ser inscrita na lista no Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO em 2013, juntando-se às inicialmente classificadas em 2010 (Grécia, Itália, Espanha e Marrocos). Tratou-se de ver reconhecido não só um padrão alimentar equilibrado e saudável, mas acima de tudo de um conjunto de tradições e costumes sobre cultura, ceifa, pesca, criação de animais domésticos para abate, conservação, culinária e em particular a partilha da comida, fundamento da identidade da DM e interacção familiar e social. Pelas suas características nutricionais e paladares a DM tem sido difundida como um modelo de dieta ideal para ser aceite por outros países1, 2.
A Dieta Mediterrânica caracteriza-se por um modelo nutricional que se tem mantido constante ao longo do tempo e do espaço, baseado no consumo de alimentos sazonais. Destacando-se um consumo elevado de cereais (arroz e no pão), hortícolas (nabo, cenoura, alface, couve, abobora, tomate, cebola, feijão verde, entre outros), frutos secos – ricos em fibras, vitaminas e minerais – fruta fresca (maçã, pêra, laranja, uva, melão melancia, pêssego, marmelo, ente outros), rica em fibras, vitaminas, minerais, glícidos e fitoquímicos protectores (como antioxidantes) e o azeite, como principal gordura2. Salienta-se ainda a preferência do peixe em detrimento das carnes e o consumo de quantidades moderadas de lacticínios2. É distribuída por várias refeições ao longo do dia2.
De métodos culinários simples, mas complexa nos sabores
A sua confeção é baseada em métodos culinários simples, mas complexa quanto aos sabores2. É preparada com ervas aromáticas em detrimento do sal2. Como sobremesa predomina a fruta fresca3 e é comida à mesa, sempre em família ou em eventos sociais, promovendo a interacção social, alicerce de uma sociedade4. Tem na sua base as sopas, os cozidos, os ensopados, as caldeiradas, onde se incorporam os produtos hortícolas e as leguminosas, com quantidades mínimas de carne, que usa como condimentos a cebola, o alho e as ervas aromáticas para enriquecer os seus sabores e aromas2. As refeições são acompanhadas por um consumo regular, mas moderado, de vinho tinto ou infusões2. De referir ainda que as sobremesas, ricas em açúcar ou mel, são tradicionalmente consumidas apenas em ocasiões especiais (fig.1).
Quanto aos benefícios, é hoje consensual que em conjunto com o exercício físico regular, a adesão a este padrão alimentar está associado a uma maior esperança de vida, a uma redução significativa da mortalidade5 e a menores taxas de morbilidade e mortalidade por doenças cardiovasculares e cancro5,6. É igualmente associada a uma menor incidência de hipertensão, doenças neurodegenerativas, como o Parkinson e a demência de Alzeimer5,6, à obesidade e à diabetes tipo 26. Isto deve-se à “relação entre ácidos gordos monoinsaturados e ácidos gordos saturados, altamente vantajosa para os primeiros; a ingestão de quantidades elevadas de fibra, vitaminas e antioxidantes, a par de uma ingestão reduzida de proteína de origem animal e sal”7-4.
Pode-se concluir que se trata de um padrão alimentar que importa preservar e promover, pois combina o sabor agradável dos alimentos sazonais com os seus efeitos positivos sobre a saúde e o bem-estar. E ainda, por abranger a história, a cultura e a arte de bem viver dos povos que a partilham. As caraterísticas da Dieta Mediterrânica contrapõe-se com o actual sedentarismo e hábitos alimentares baseados em refeições pouco variadas e/ou omissas, baixos consumos de fruta, legumes e peixe, com excesso de consumo de álcool, de alimentos densamente energéticos, ricos em gordura e hidratos de carbono e produtos de origem animal, como o comprova o aumento exponencial da taxa de prevalência e incidência de obesidade no nosso país.
Referências:
1NESTLE, M (1995). Mediterranean diets: historical and research overview. Am J Clin Nutr. 61 (6): 1313S – 20S.
2WILLET, WC [et al.] (1995). Mediterranean Diet Pyramid: a cultural model for healthy eating. Am J Clin Nutr. 61(6): 1402S-06S.
3TRICHOPOULO, A; LAGIOU, MD (1997). Healthy Traditional Mediterranean Diet: an expression of culture, history and lifestyle. Nutr Rev. 55(11): 383-9. http://gallooliveoil.com/pt/benefits/a-dieta-mediterranica.aspx
4TRICHOPOULOS, D (2002). In defense of the Mediterranean diet. Eur J Clin Nutr. 56(9): 928–9.
5SOFI; F [et al.] (2008). Adherence to Mediterranean diet and health status: meta-analysis. BMJ 337: 1136-44
6KESSE-GUYOT, E [et al] (2013). Adherence to mediterranean diet reduces the risk of metabolic syndrome: a 6-year prospective study. Nutr Metb Dis. 23(7): 677-83
7KOKE, FJ; KROMHOUT, D (2004). Atherosclerosis epidemiological studies on the health effects of a mediterranean diet. Eur J of Nut. 43(suppl.1): I1-I5