Carência de selénio associado a disfunção da tiróide e cancro
O selénio é um mineral essencial para o organismo, obtido através da alimentação, e que garante a produção de mais de 20 proteínas e a manutenção dos processos biológicos que delas dependem.
“O selénio integra 25 proteínas, atualmente identificadas no corpo humano e designadas de selenoproteínas, moléculas vitais para o nosso organismo com importantes funções biológicas a nível da defesa antioxidante, proteção do sistema imunitário, metabolismo da tiróide e fertilidade masculina”, começa por explicar a farmacêutica Inês Veiga.
Embora sejam apenas necessárias pequenas doses – “na ordem das microgramas (µg)” – os seus benefícios são múltiplos. “A deficiência em selénio tem consequências em todos os processos biológicos onde estão envolvidas estas proteínas, podem originar disfunção da tiróide, maior suscetibilidade a infeções, envelhecimento precoce e até cancro”, acrescenta.
De acordo com a especialista, os alimentos com maior teor de selénio são as castanhas do Brasil, o marisco e as vísceras. No entanto, os que mais contribuem para o aporte diário normal, graças à sua presença diária na alimentação, são os cereais, em especial o trigo.
“Infelizmente, estudos mostram que o trigo produzido em solo agrícola português contém pouco selénio”, refere acrescentado que este é um cenário comum um pouco por toda a Europa onde, desde os anos 80, têm sido implementadas leis para a fertilização do solos com o mineral.
A recomendação de ingestão diária, de acordo com a legislação portuguesa, são 55 microgramas (µg). “Contudo, estudos recentes revelam que esta dose é conservadora e que para maximizar os benefícios do selénio a nível da saúde, a ingestão deve ser 100 µg por dia”, revela Inês Veiga.
Quando grave, a deficiência deste mineral pode originar ainda problemas articulares e cardíacos, no entanto, nem sempre é possível detetar os sinais da sua carência. “Uma deficiência moderada não é fácil de identificar, uma vez que os sinais são atípicos, mas dois bons indicadores são as unhas quebradiças e o cabelo baço, que podem alertar para baixos níveis de selénio no organismo”, explica a especialista.
Como podemos saber então se temos falta deste mineral? De acordo com Inês Veiga, é possível dosear os níveis de selénio no sangue, unhas ou cabelo. “Outra estratégia consiste em avaliar os riscos associados ao nosso estilo de vida”, adianta.
Quer isto dizer que, se tivermos um estilo de vida que aumenta o stress oxidativo, ou seja, o excesso de produção de radicais livres, seguramente vamos necessitar de uma maior defesa antioxidante.
Stress, tabaco, exercício físico intenso, doenças inflamatórias e poluição são fatores que aumentam o consumo deste mineral ao nível da defesa antioxidante.
Não obstante, são descritos vários grupos de risco de deficiência de selénio. “Pessoas que sofrem de doenças inflamatórias a nível intestinal, que comprometem a absorção de micronutrientes como o selénio – por exemplo, a doença celíaca – estão em risco de desenvolver esta deficiência”, afirma a farmacêutica. Idosos (que apresentam fraca capacidade de absorção deste nutriente) e fumadores (que estão sujeitos a elevado stress oxidativo) estão também incluídos nos grupos de risco.
Por outro lado, e tendo em conta os dados do estudo, conduzido ela investigadora portuguesa, Catarina Galinha, recentemente publicado, que mostra que os solos agrícolas em Portugal e o trigo são pobres em selénio, a especialista arrisca em dizer que toda a população portuguesa está em risco de desenvolver deficiência em selénio, sobretudo, durante as próximas décadas.
Perante este cenário, e apesar de não se pretender que a suplementação venha a substituir a alimentação que deve ser variada e equilibrada, admite-se que esta seja a melhor forma de “colmatar uma deficiência inerente à própria alimentação ou necessidades aumentadas do organismo”, como acontece no casos dos fumadores.
“Na verdade, não existindo em Portugal leis que obriguem à fertilização dos solos com selénio, como acontece na Finlândia, recorrer à suplementação parece ser a melhor forma de prevenir a deficiência neste mineral”, justifica Inês Veiga.
“Tendo em conta que em Portugal não há aprovação de suplementos alimentares”, a especialista recomenda que a escolha destes produtos seja baseada em informação científica credível.
Por outro lado, há que ter em conta a forma de selénio presente no suplemento. “A levedura enriquecida com selénio – SelenoPrecise – é a que tem melhor documentação científica (mais de 150 estudos). É composta por mais de 30 moléculas orgânicas de selénio de elevada absorção e foi a primeira a ser aprovada oficialmente pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA)”, esclarece alertando para o facto de que “regra geral, os multivitamínicos contêm formas inorgânicas de selénio que o organismo praticamente não absorve”, como selenito e selenato.
Esta especialista defende ainda que este mineral seja suplementado juntamente com zinco, uma vez que “todo o nosso metabolismo depende da harmonia entre diversos nutrientes”.
Apesar de não existirem evidências de que o selénio possa interferir com a toma de medicamentos, antes de iniciarmos a suplementação, devemos procurar informação jundo do médico assistente ou farmacêutico.
“Não existem pessoas em que não é aconselhada a suplementação. Já começam inclusivamente a surgir estudos em grávidas. Nas crianças com idade inferior a 12 anos, obviamente será necessário ter em conta que as necessidades são inferiores às do adulto”, afirma.
Apresentando-se seguro – só existe o risco de se tornar tóxico para o organismo quando ingerido durante várias semanas em doses superiores a 800 µg -, o suplemento com selénio deve ser tomado à refeição e pode ser utilizado durante todo o ano.
“Não nos podemos esquecer que as necessidades de selénio são diárias e vão aumentando ao longo de toda a vida, porque vamos perdendo capacidade de o absorver”, justifica Inês Veiga.