Benefícios cardiovasculares do exercício físico
As pessoas mais ativas, sobretudo praticantes regulares de exercício físico, apresentam maior sobrevida e menor prevalência de eventos como acidente vascular cerebral e enfarte agudo do miocárdio.
O exercício ativa diversos mecanismos fisiopatológicos que são responsáveis pela proteção e controlo de múltiplos fatores de risco, tais como a hipertensão arterial, a dislipidemia, a obesidade e a diabetes. Estes efeitos benéficos são transversais, ocorrendo tanto na população geral, como nos indivíduos com fatores de risco ou naquelas com antecedentes de eventos cardiovasculares, independentemente do género ou da idade.
Nas pessoas com eventos cardiovasculares prévios (prevenção secundária), o exercício físico é essencial, devendo ser prescrito e enquadrado em programas multidisciplinares de reabilitação cardíaca, facto com impacto prognóstico favorável acrescido.
Por outro lado, o sedentarismo, atualmente um verdadeiro problema de saúde pública, constituí um dos principais fatores de risco para a ocorrência de eventos cardiovasculares.
Neste contexto, a prática de exercício físico é uma das principais recomendações para a prevenção da doença cardiovascular emanadas por várias organizações como a Sociedade Europeia de Cardiologia, estando recomendada a prática de 150 minutos por semana de exercício de intensidade moderada ou 75 minutos de intensidade elevada.
Pela evidência crescente que sustenta estes benefícios, a sua maior divulgação e a maior acessibilidade/oferta de atividades, o número de praticantes regulares de exercício físico, tanto em nível recreativo como competitivo, tem aumentado exponencialmente nos últimos anos. Este aspeto é globalmente muito positivo, mas pode criar problemas adicionais, nomeadamente quanto à necessidade e à metodologia de avaliação clínica prévia.
Esta problemática é mais relevante nos ‘veteranos’, visto muitos praticantes iniciarem exercício físico apenas na meia idade, com fatores de risco cardiovasculares descontrolados, sem avaliações médicas prévias e envolvidos frequentemente em modalidades de elevada intensidade. Apesar dos múltiplos benefícios descritos, em indivíduos suscetíveis, com risco cardiovascular elevado ou na presença de algumas doenças cardíacas, o exercício pode despoletar eventos clínicos graves.
Neste âmbito, a avaliação prévia ao início da prática de exercício é fulcral para identificar os indivíduos com risco acrescido, cuja metodologia depende dos hábitos prévios de atividade física, dos antecedentes clínicos e do tipo/intensidade de exercício que se pretende realizar. Particularmente nos atletas ‘veteranos’, como a doença das artérias coronárias constitui a principal causa de morte súbita, justifica-se uma metodologia de avaliação diferente da efetuada em atletas jovens, nos quais as principais causas são doenças cardíacas hereditárias. Outro aspeto controverso é saber se existe uma ‘dose’ a partir da qual os benefícios do exercício diminuem ou possa ser prejudicial. Apesar de necessitar de esclarecimento, são conhecidos alguns ‘efeitos adversos’ cardíacos induzidos pelo exercício extremo.
Em suma, a atividade física e o exercício físico associam-se a múltiplos benefícios cardiovasculares, incluindo o aumento da sobrevida e a redução de eventos clínicos graves. Todas as pessoas podem fazer exercício físico, mas é essencial realizarem uma avaliação médica prévia, que permita estratificar o risco cardiovascular, diagnosticar doenças ‘ocultas’ associadas a complicações graves e prescrever exercício de forma adequada e individualizada na presença de antecedentes cardiovasculares.