Aspectos importantes e impacto na actividade desportiva

Patologia da Articulação Temporomandibular

Atualizado: 
02/06/2015 - 15:39
A patologia temporomandibular é uma causa importante e frequente de dor facial.

Actualmente existe um maior enfoque sobre esta temática, contudo ainda é relativamente comum esta patologia ser subdiagnosticada. Este artigo tem como objectivo, não só dar algumas noções básicas sobre a patologia temporomandibular, como também alertar para a importância da mesma. Por último, pretende chamar a atenção para o impacto desta patologia na actividade desportiva.

Começando pela base, ou seja, pela anatomia é importante saber que o crânio possui duas articulações temporomandibulares. Cada articulação temporomandibular é formada pelo côndilo da mandíbula e pela porção escamosa do osso temporal e compreende um disco articular ou menisco. A articulação temporomandibular tem três graus de movimento. Os músculos temporais, masseteres e pterigoideus mediais e laterais são os responsáveis pelos movimentos de elevação/depressão, protusão/retropulsão e de lateralidade da articulação temporomandibular. A inervação dos músculos mastigatórios é da responsabilidade do nervo trigémeo (V par craniano).

Segundo a Academia Americana de Dor Orofacial, a patologia da articulação temporomandibular pode ser dividida em dois grandes grupos: patologia temporomandibular relacionada com o componente muscular (miogênica) e patologia temporomandibular relacionada com o componente articular (artrogênica), sendo que o primeiro grupo é o mais frequente.

Para uma classificação mais rigorosa, o International Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC/TMD) Consortium (apoiado na International Association for Dental Research), defende uma avaliação mais completa que compreende dois eixos principais e que incluem o diagnóstico clínico e a avaliação da dor e função, assim como o estado psicológico e o nível de incapacidade psicossocial relacionada com a patologia da articulação temporomandibular. Os Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC/TMD), foram substituídos pelos Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (DC/TMD) em 2014 para fins clínicos e de investigação.

Fazendo uma análise demográfica e tendo como base os dados americanos, há a realçar que 5 a 10% da população dos Estados Unidos da América apresenta patologia temporomandibular. Esta patologia é mais frequente e de início mais precoce em indivíduos da raça caucasiana, afecta predominantemente indivíduos do sexo feminino num rácio homem/mulher de 1 para 4 e é mais prevalente em adultos jovens, na faixa etária dos 20 aos 40 anos.

Uma história clínica e um exame físico completos, incluindo uma história e exame dentário, são fundamentais ao diagnóstico e orientação terapêutica de doentes com patologia temporomandibular. A dor periauricular, associada à mastigação, que pode irradiar para a cabeça é o sintoma mais frequente. Podem existir sons (clicks e pops) associados à dor, assim como limitação da abertura da boca e episódios de bloqueio mandibular. Cefaleias, otalgias, cervicalgias, omalgias e tonturas são outros sintomas que podem estar presentes.

Relativamente aos meios complementares de diagnóstico, estes devem ser pedidos de acordo com a indicação clinica. Dependendo do caso clinico, os meios complementares de diagnóstico a pedir podem incluir os exames laboratoriais (se existe a suspeita de doença sistémica como causa), a radiografia (o perfil de Schuller é o mais utilizado), a ecografia (mais usada para estudo de lesões de partes moles) e a RMN (é o exame mais especifico, geralmente é o exame de eleição se o paciente tiver indicação cirúrgica). A análise quantitativa da força de oclusão usando o fenómeno fotoplástico de alguns polímeros e a análise cefalométrica pelo método de Delaire são outro tipo de testes possíveis, em situações específicas. Excepcionalmente pode ser necessário efectuar uma artroscopia diagnóstica.

A maioria das patologias da articulação temporomandibular são autolimitadas e não tendem a evoluir. Por outro lado, o tratamento da patologia da articulação temporomandibular crónica envolve uma equipa multiprofissional e um tratamento mais abrangente.

O tratamento conservador desta patologia deve sempre incluir a educação do doente e pode compreender o tratamento farmacológico, o tratamento de reabilitação, as ortóteses estomatológicas e o tratamento psicológico. Da educação do doente deve fazer parte o esclarecimento da patologia e do prognóstico provável. Os doentes devem tomar conhecimento dos sinais de deterioração e das medidas de autocuidado. O tratamento farmacológico pode incluir medicação anti-inflamatória, analgésica, relaxante muscular e antidepressiva, entre outras. Em situações determinadas, pode ser necessário efectuar procedimentos mais específicos, nomeadamente infiltrações com toxina botulínica, infiltrações com ácido hialurónico e infiltrações com plasma rico em plaquetas. O tratamento de reabilitação é importante tanto nas situações não cirúrgicas como nas situações cirúrgicas. Nestas últimas, o tratamento de reabilitação é parte integrante do tratamento tanto pré como pós operatoriamente. O período de tempo e a sequência do protocolo de tratamento pós-operatório podem variar, entre outros factores, com a resposta do doente à reabilitação e com a extensão do dano tecidular envolvido. O tratamento de reabilitação pode também incluir técnicas de relaxamento usando biofeedback electromiográfico e acupunctura. As ortóteses estomatológicas a utilizar são diversas e devem ser prescritas de acordo com a indicação clinica. As bases fisiológicas para o seu uso assentam no alívio da dor por alterações das relações de oclusão e redistribuição das forças de oclusão. O tratamento psicológico é fundamental em pacientes com perfil psicopatológico ou níveis elevados de ansiedade.

O tratamento cirúrgico geralmente inclui três procedimentos principais: a artrocentese, a artroscopia e a artroplastia. O grau de invasibilidade e de morbilidade aumenta segundo a ordem apresentada. Em situações de maior gravidade que não respondem a nenhum outro procedimento, pode ser necessário efectuar artroplastia da articulação temporomandibular.

A maioria dos doentes com patologia temporomandibular responde ao tratamento conservador e o prognóstico é bom. Em casos de envolvimento secundário da articulação temporomandibular, o prognóstico depende da doença primária. Nas situações de maior gravidade pode ser necessário efectuar tratamento cirúrgico.

A actividade desportiva, principalmente ao nível da alta competição, compreende metodologias de treino muito complexas e objectivos competitivos extremamente exigentes. Este contexto e estas condicionantes podem contribuir para níveis de stress e ansiedade muito elevados. Em atletas com determinado perfil psicopatológico, tais condicionantes podem levar a um maior risco de desenvolvimento de patologia temporomandibular. Por sua vez, é também importante salientar que se for diagnosticada patologia temporomandibular num atleta, esta condição clínica pode influenciar negativamente o rendimento desportivo do mesmo. Pelo explicitado, é fundamental identificar precocemente e correctamente estas situações, efectuando pesquisa primária e/ou orientando os atletas para centros de referenciação especializados nesta área.

NOTA: A autora decidiu redigir o texto não utilizando o acordo ortográfico.

 

Dra. Isabel Lopes, Directora do Departamento de Medicina Física e Reabilitação da Clínica do Dragão – Espregueira-Mendes Sports Centre – FIFA Medical Centre of Excellence

Fonte: 
Espregueira-Mendes Sports Centre – FIFA Medical Centre of Excellence
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
Foto: 
ShutterStock