14 de Novembro – Dia Mundial da Diabetes

Pé diabético: um acompanhamento tecnológico inovador

Atualizado: 
13/11/2014 - 17:50
Apresenta-se uma inovadora aplicação móvel para registo e monitorização de feridas diabéticas. Além de melhorar a qualidade de vida do utente, contribui para minimizar custos, quer para o cidadão, quer para o Serviço Nacional de Saúde.

O pé diabético é uma das mais graves complicações da Diabetes Mellitus (DM). É causado por um descontrolo metabólico e caracteriza-se por problemas circulatórios ou infecções nos membros inferiores que levam ao aparecimento de feridas. As feridas podem evoluir para gangrena existindo o risco de amputação se não houver um acompanhamento constante. O tratamento é dispendioso e complexo por necessitar do envolvimento de uma equipa multidisciplinar de profissionais de saúde.

Portugal conta com uma das taxas mais elevadas de prevalência da DM levando ao aumento de gastos para o Sistema Nacional de Saúde (SNS) devido aos custos com medicação e com o incremento dos reinternamentos e das amputações de membros inferiores (que aumentou 9% desde 2011) 1.

No sentido de contrariar estas premissas e de facilitar o processo de monitorização das feridas, em particular em doentes diabéticos, desenvolveu-se uma aplicação móvel3 que surgiu da parceria entre o Instituto de Engenharia Electrónica e Telemática de Aveiro da Universidade de Aveiro e o Serviço de Especialidades Médicas do Centro Hospitalar do Baixo Vouga-EPE-Unidade de Aveiro.

Esta aplicação móvel diferencia-se por permitir a captação e manipulação de imagens e por disponibilizar a informação clínica em formato digital junto do local de prestação de cuidados ao doente.

O recurso à imagem valoriza o processo de monitorização das feridas do pé diabético porque os tratamentos ocorrem por longos períodos de tempo, em diferentes locais e por vários profissionais de saúde.

 

Tratamento mais eficaz com registo visual e temporal da evolução da ferida

Existindo acesso a um registo visual e temporal da evolução da cicatrização, o tratamento a aplicar pode ser melhor e mais rapidamente ajustado, e torna-se possível avaliar a eficácia dos cuidados previamente prestados à ferida. Há, portanto, uma monitorização contínua das feridas que é reforçada pela inclusão de uma escala quantificável (isto é, a medição do tamanho da ferida) e que apoia a avaliação da melhoria dessa lesão ao longo do tempo e a decisão clínica.

Por sua vez, a aplicação está ligada a outros dispositivos através de uma rede informática segura e específica para partilha de dados clínicos: a Rede Telemática da Saúde (RTS). Desta forma, os profissionais de saúde podem aceder a registos anteriores (p.e. às imagens captadas), registar informação clínica adicional e processá-la junto do utente, ficando imediatamente disponível para consulta, em qualquer outra instituição do SNS dentro da RTS, quer seja num computador fixo ou noutro dispositivo móvel. Tal processo facilita o acesso ao registo electrónico de cada utente e melhora a colaboração entre os diversos profissionais de saúde de diferentes instituições. A consequência direta deste sistema tecnológico é uma vigilância facilitada e mais eficiente da ferida e a melhoria da actuação aquando da prestação de cuidados ao utente com ganhos óbvios para a saúde dos cidadãos.

No Serviço de Especialidades Médicas do Centro Hospitalar do Baixo Vouga-EPE- Unidade de Aveiro, as consultas em Hospital Dia de Diabetes visam promover a educação dos utentes, prevenir complicações e acompanhar de modo personalizado os utentes com DM.

 

Inovadora aplicação móvel de registo e monitorização das feridas

Por isto, este sistema inovador foi testado neste serviço, ao longo de 9 meses, e contou com a participação de profissionais de saúde escolhidos pela sua experiência e conhecimentos na área da DM, e que prestavam regularmente cuidados a utentes com lesões por complicações do pé diabético. Estiveram ainda envolvidos, utentes com a patologia DM tipo II pois estavam em processo de tratamento de lesões no pé.

O contato quotidiano com utentes que sofrem de pé diabético permitia antever que uma boa estratégia de registo de informação e de comunicação de informação entre profissionais de saúde auxiliaria no acompanhamento da evolução do pé diabético.

De facto, após apreciação junto dos profissionais de saúde, a aplicação móvel foi um sucesso tendo sido considerada uma mais-valia no apoio à prestação de cuidados. Algumas das vantagens apontadas pelos profissionais de saúde foram a facilidade de uso, a versatilidade no acesso a informação e o potencial de expansão a outros serviços e a outras áreas da saúde que envolvam a monitorização de feridas. Foram ainda valorizados, o registo clínico da informação em tempo real e no local de tratamento e o enriquecimento da monitorização da ferida através de captação de imagens.

Numa primeira fase, este sistema tecnológico pretendeu dar resposta efectiva às necessidades identificadas para promover a melhoria contínua na prestação de cuidados de enfermagem a utentes com DM. Porém, para além de possibilitar melhorar a qualidade de vida do utente, contribuirá para minimizar custos quer para o utente quer para o Estado Português. As perspectivas futuras serão as de aproveitar todas as potencialidades da Rede, melhorar e acrescentar funcionalidades à aplicação e, ainda, integrar o sistema com outros softwares já existentes.

A imagem como ferramenta numa aplicação móvel: simulação

da medição de uma ferida (à direita) e do registo de alguns dados

visuais adicionais (à esquerda)

 

Profissional de saúde a fazer o registo visual da ferida em

utente com pé diabético

 

Profissional de saúde a testar a aplicação móvel acedendo

ao registo do utente em ambiente hospitalar

Bibliografia

1 Relatório do Observatório Nacional da Diabetes, 2013 – Diabetes factos e números.

2 Oliveira, I. C., Silva, N., da Veiga, I. & Cunha, J. P. S. (2012). Supporting nursing care assessment protocols with smartphones. In E. Conchon, C. M. B. A. Correia, A. L. N. Fred & H. Gamboa (eds.), HEALTHINF (pp. 81-86): SciTePress. ISBN: 978-989-8425-88-1

 

Nelson Américo de Oliveira e Silva, Enfermeiro no Serviço de Especialidades Médicas do Centro Hospitalar do Baixo Vouga-EPE- Unidade de Aveiro. Mestre em Engenharia de Eletrónica e Telecomunicações.

 

Conceição Fernandes Silva Neves, Enfermeira-Chefe no Serviço de Especialidades Médicas do Centro Hospitalar do Baixo Vouga-EPE- Unidade de Aveiro.

 

Ilídio Castro Oliveira, Professor Auxiliar, Dep. de Electrónica Telecomunicações e Informática, e Instituto de Engenharia Eletrónica e Telemática de Aveiro, Universidade de Aveiro (DETI/IEETA, UA).

 

Autor: 
Professor Ilídio Oliveira e Enfermeiros Nelson Silva e Conceição Neves
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
Foto: 
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