A Medicina da Longevidade Saudável e os seus 5 pilares
A longevidade é um recurso desejado por todos, o que faz pensar sobre a forma como vivemos e a forma como envelhecemos. Uma pessoa com 60 anos no início da década do Envelhecimento Saudável (2020-2030) poderia esperar viver, em média, por mais 22 anos. No entanto, há uma grande iniquidade quanto à longevidade de acordo com os extratos sociais e económicos.
Em 2020, o número de pessoas com 60 anos ou mais ultrapassou primeira vez na história o número de crianças abaixo de 5 anos. Em 2050, pessoas com 60 anos ou mais ultrapassarão o número de adolescentes e jovens com idade entre 15 e 24 anos e em países desenvolvidos, o aumento será de 310 milhões para 427 milhões de pessoas com mais de 60 anos.
Na maior parte dos países, a proporção de pessoas idosas na população aumentará de uma pessoa idosa em cada seis pessoas em 2030 e de uma para cada 5 em 2050.
Mulheres tendem a viver mais do que homens e entre 2020 e 2025, a expectativa de vida ao nascer das mulheres excederá a dos homens em 3 anos.
O cenário em Portugal…
A classificação demográfica de uma população, como jovem ou envelhecida, depende da proporção de pessoas nas faixas etárias extremas. Em Portugal, considera-se pessoa idosa, a pessoa com 65 ou mais anos de idade.
Portugal, assim como outros países da Europa, tem vindo a registar nas últimas décadas profundas transformações demográficas caracterizadas, entre outros aspetos, pelo aumento da longevidade e da população idosa e pela redução da natalidade e da população jovem.
Atualmente Portugal é o segundo país da união europeia com maior índice de envelhecimento, apenas ultrapassado pela Itália, sendo que em 2015 ocupávamos o quarto lugar.
Em 2015, as pessoas com 65 ou mais anos representavam 20,5% de toda a população residente em Portugal, a esperança média de vida era de 77,4 anos para homens e 83,2 anos para as mulheres e em 2021 a esperança média de vida subiu para 78.1 anos para os homens e 83.5 para as mulheres.
O índice de envelhecimento em Portugal passou de 27,5% em 1961 para 183.5% em 2022.
Entre 2018 e 2080, de acordo com o cenário central de projeção:
- Portugal perderá população, dos atuais 10,3 para 8,2 milhões de pessoas.
- O número de jovens diminuirá de 1,4 para cerca de 1,0 milhões.
- O número de idosos (65 e mais anos) passará de 2,2 para 3,0 milhões.
- O índice de envelhecimento em Portugal quase duplicará, passando de 159 para 300 idosos por cada 100 jovens.
- A região mais envelhecida em 2080 será a Região Autónoma da Madeira, com este índice a atingir os 429 idosos por cada 100 jovens, e a região menos envelhecida será o Algarve, com um índice de 204.
- A população em idade ativa (15 a 64 anos) diminuirá de 6,6 para 4,2 milhões de pessoas.
- O índice de sustentabilidade potencial poderá diminuir de forma acentuada, face ao decréscimo da população em idade ativa, a par do aumento da população idosa. Esteb índice passará de 259 para 138 pessoas em idade ativa, por cada 100 idosos.
- Relativamente à morbilidade, as mulheres em Portugal vivem mais tempo, mas em pior estado de saúde.
O que é o envelhecimento?
De acordo com a Organização mundial da Saúde (OMS) o Envelhecimento individual é um processo condicionado por fatores biológicos, sociais, económicos, culturais, ambientais e históricos, podendo ser definido como um processo progressivo de mudança biopsicossocial da pessoa durante todo o ciclo de vida. Para a Direção geral da Saúde (DGS) o envelhecimento consiste num processo de deterioração endógena e irreversível das capacidades funcionais do organismo.
É sim, um processo biológico, associado ao acúmulo de danos moleculares e celulares. Com on tempo, esse dano leva a uma perda gradual nas reservas fisiológicas com consequente aumento do risco de contrair diversas doenças e um declínio geral na capacidade intrínseca do indivíduo, que em última instância pode levar a morte. Além das perdas biológicas, muitas vezes há perdas de relações próximas e essas mudanças incluem mudanças nos papéis e posições sociais.
No mundo, cerca de 23% da carga global da doença é atribuível a condições que afetam pessoas com 60 ou mais anos. As principais condições que contribuem para esta excessiva carga global da doença são as doenças crónicas não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares, as neoplasias malignas, as doenças respiratórias crónicas, as doenças musculosqueléticas (como a artrose e a osteoporose), os acidentes vasculares cerebrais e an diabetes, os distúrbios neurológicos e mentais, como a demência e a depressão. A multimorbilidade (risco de sofrer de várias doenças crónicas ao mesmo tempo) e a polimedicação são encaradas como um dos principais problemas relacionados com a toma de medicamentos por pessoas idosas, resultando, das múltiplas comorbilidades presentes.
As doenças crónicas não transmissíveis são responsáveis por 88% dos anos de vida vividos com incapacidades em Portugal.
Viver mais pode também significar estar mais exposto a riscos, como a vulnerabilidade do estado de saúde, o isolamento social e a solidão, a dependência física, mental e também económica, a estigmatização e os abusos, quer físicos, quer psicológicos, sexuais, financeiros ou materiais, por discriminação, ou por negligência.
Surge assim o conceito de idadismo como forma de discriminação, assentes em construções sociais que associam o envelhecimento à incapacidade e dependência. O idadismo surge quando a idade é usada para categorizar e dividir as pessoas de maneira a causar prejuízos, desvantagens e injustiças, e para arruinar a solidariedade entre as gerações. O idadismo se refere a estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade delas. O idadismo pode ser institucional, interpessoal ou contra si próprio. Para pessoas idosas, o idadismo está associado a uma menor expectativa de vida, pior saúde física e mental, recuperação mais lenta de incapacidade e declínio cognitivo. O idadismo piora a qualidade de vida das pessoas idosas, aumenta seu isolamento social e sua solidão, restringe sua capacidade de expressar sua sexualidade e pode aumentar o risco de violência e abuso.
O idadismo prejudica nossa saúde e nosso bem-estar e é uma grande barreira para que sejam adotadas medidas que promovem o envelhecimento saudável, conforme reconhecem os Estados Membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Estratégia e plano de ação global sobre envelhecimento e saúde e na Década do Envelhecimento Saudável: 2020‒2030.
Essa complexidade nos estados funcional e de saúde apresentada por pessoas mais velhas levanta questões fundamentais sobre o que significa saúde em idade mais avançada, como a medimos e como podemos promovê-la. São necessários novos conceitos definidos não apenas pela presença ou ausência de doença, mas em termos do impacto que essas têm sobre o funcionamento e o bem-estar da uma pessoa, relembrando que em 1947 a OMS definiu Saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”.
A qualidade de vida é, claramente, a tónica dominante do envelhecimento ativo, podendo esta ser definida como a perceção do indivíduo acerca da sua posição na vida, no contexto cultural e de valores no qual vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Envelhecimento ativo é definido como o processo de otimização das oportunidades para a saúde e refere-se à participação contínua na vida social, económica, cultural, espiritual e cívica, ou seja, vai muito além da possibilidade de ser física e profissionalmente ativo.
As três componentes fundamentais no conceito de qualidade de vida nas pessoas idosas são o bem-estar financeiro, a saúde e a integração social.
Por sua vez, o conceito de “envelhecimento saudável” refere-se ao processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional (interação das capacidades físicas e mentais com o meio) que contribui para o bem-estar e para a qualidade de vida das pessoas idosas. O objetivo principal é o bem-estar, um conceito que contempla todos os elementos e componentes da vida valorizados pela pessoa.
Embora parte da diversidade observada na forma como envelhecemos deve se a nossa herança genética, a maior parte dela surge dos ambientes físicos e sociais que habitamos.
Esses ambientes incluem o nosso lar, a nossa vizinhança, a nossa comunidade, a forma como nos alimentamos, a forma como dormimos, a forma como pensamos e gerimos o stress do dia a dia, se praticamos ou não exercício físico, se modulamos ou não o nosso sistema imunitário e as nossas hormonas.
A saúde é sem dúvida um dos elementos mais valorizados no bem-estar da pessoa idosa. A saúde precária e os declínios na capacidade física e mental não precisam dominar o envelhecimento. A maioria dos problemas de saúde enfrentados por pessoas mais velhas podem ser prevenidas ou retardadas envolvendo-se em comportamentos saudáveis e controlados de maneira eficaz, principalmente se forem detetados precocemente.
Assim surge o conceito de Medicina Preventiva e da Longevidade Saudável ou Medicina do envelhecimento saudável.
A Medicina do Envelhecimento Saudável é um movimento médico que surgiu nos Estados Unidos da América na década de 90, com o objetivo de mudar a forma como era abordado o avanço da idade. Até então, o envelhecimento era visto como algo com o qual não se teria nada a fazer, que deveria se resignar e tratar as doenças típicas do envelhecimento.
Assim em 1992, um grupo de médicos, fundou a American Academy of Anti-Aging Medicine, (Academia Americana de Medicina Antienvelhecimento) que provocou uma verdadeira revolução dentro da medicina.
A primeira medida apontada pelo movimento é a prevenção de doenças ou de complicações de doenças. O primeiro foco é não adoecer, por isso, ela é vista, antes de tudo, como uma medicina preventiva.
Segundo a medicina do envelhecimento saudável, envelhecer com saúde significa manter a sensação de bem-estar e de qualidade de vida que é fruto de uma atitude preventiva e intervencionista, isto é, é necessária uma mudança de atitude, saindo de uma posição passiva para a ativa, estabelecendo verdadeiros pilares antienvelhecimento.
Acompanhe aqui como é possível, sim, interferir nos processos antes que eles aconteçam, adotando hábitos que garantem uma vida mais longa e com mais qualidade de vida.
Os princípios da Medicina do Envelhecimento Saudável podem ser integrados a qualquer especialidade médica e beneficiar o maior número possível de pessoas.
Assim, estabeleceram-se os 5 pilares do Antienvelhecimento, fundamentais para alcançar uma vida longa e saudável:
1. Alimentação: Nutrindo o Corpo e a Mente
A alimentação é o alicerce da longevidade saudável. Ela não apenas nos fornece energia, mas também desempenha um papel crucial na prevenção de doenças e no suporte à saúde mental.
Optar por uma dieta equilibrada é essencial. Isso significa incluir uma variedade de alimentos, desde água, frutas e vegetais ricos em antioxidantes até proteínas magras que ajudam na construção muscular e gorduras saudáveis, como as encontradas no azeite de oliva e abacate, que beneficiam o coração e o cérebro. Reduzir o consumo de alimentos processados e açúcares refinados é fundamental para manter níveis de açúcar no sangue estáveis e prevenir doenças crónicas, prevenindo assim o stress oxidativo e o envelhecimento celular.
2. Sono: O Descanso Renovador
O sono é o período em que o corpo se repara e recarrega, realizando assim o fortalecimento do sistema imunitário a secreção e libertação de várias hormonas e a consolidação da memória. Uma boa qualidade de sono é fundamental para a saúde mental, emocional e física.
A qualidade do sono está diretamente ligada à capacidade do corpo de gerir o stress) e, assim, à qualidade de vida.
“Quem dorme mal, pensa mal”: estabelecer uma rotina de sono consistente, indo para a cama e acordando na mesma hora todos os dias, ajuda a regular o relógio biológico. Criar um ambiente propício ao descanso, com um colchão confortável e um quarto escuro e silencioso, é essencial. Além disso, evitar estimulantes como cafeína e eletrônicos antes de dormir pode melhorar significativamente a qualidade do sono.
3. Exercício: Movimente-se para a Vitalidade
O terceiro pilar, o exercício físico, é um componente-chave da longevidade saudável. A atividade física regular não apenas ajuda a manter um peso saudável, mas também fortalece os músculos e ossos, melhora a circulação sanguínea e aumenta a resistência cardiovascular.
Além disso, o exercício libera endorfinas, neurotransmissores que melhoram o humor e reduzem o stress. Encontrar uma atividade que seja agradável e sustentável a longo prazo é crucial, seja caminhando, nadando, correndo, praticando ioga ou mesmo musculação. O exercício físico é um tratamento cujos efeitos são estendidos ao longo da vida, e não há um único tratamento medicamentoso que possa influenciar tantos órgãos de maneira tão positiva. Realizar pelo menos 150 minutos de atividade moderada por semana e incluir exercícios aeróbicos e de resistência muscular e acima de tudo evite o sedentarismo.
4. Suplementação com Nutracêuticos: Nutrientes Extra para uma Vida Plena
Os níveis médios de minerais nos solos agrícolas caíram em todo o mundo. Nossa comida perdeu de 20 a 60% de seus nutrientes, em grande parte pelo uso de água de má qualidade, de fertilizantes químicos e desgaste do solo. Nessa busca por uma nutrição mais equilibrada e rica nutricionalmente, os suplementos administrados por seu médico ou nutricionista complementam a alimentação e combatem os radicais livres causados por maus hábitos alimentares, estilo de vida e poluição ambiental.
Assim, ajudam a manter os níveis de geração de energia (ATP), a massa magra, o sistema cardiovascular, as articulações, o cérebro e a pele mais saudáveis.
Os nutracêuticos são uma adição valiosa à nossa busca por longevidade saudável. Eles fornecem nutrientes essenciais que podem estar em falta na nossa dieta. Vitaminas, minerais, antioxidantes e outros compostos naturais podem ser utilizados para suprir deficiências nutricionais e fortalecer o sistema imunológico. No entanto, é importante consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer suplementação para garantir que seja adequada às suas necessidades individuais.
5. Gestão Emocional: O Poder do Equilíbrio Mental
A gestão emocional desempenha um papel fundamental na nossa saúde geral. A resposta ao stress e é uma reação adaptativa que foi e é fundamental para nossa sobrevivência, sendo útil e benéfico por curtos períodos. Por outro lado, se esta resposta não for revertida, transforma-se em stress crónico pode ter efeitos devastadores no corpo e na mente, contribuindo para uma série de problemas de saúde. Aprender a lidar com o stress por meio de técnicas de relaxamento, identificar e enfrentar as fontes de stress, praticar meditação e praticar a gratidão, assim como organizar o tempo e estabelecer prioridades pode melhorar significativamente a qualidade de vida. Além disso, cultivar relacionamentos saudáveis e buscar apoio quando necessário são componentes essenciais da gestão emocional.
Conclusões:
As condições de saúde são determinantes no envelhecimento ativo, no entanto a promoção do envelhecimento ativo não se restringe à promoção de comportamentos saudáveis. É essencial considerar os fatores ambientais e pessoais, como os determinantes económicos, sociais e culturais, o ambiente físico, o sistema de saúde e o sexo. A família, a comunidade e a sociedade têm um forte impacto na forma como se envelhece.
A busca pela longevidade saudável envolve cuidar de diversos aspetos da nossa vida:
Alimentação, sono, exercício, suplementação com nutracêuticos e gestão emocional são os 5 pilares que sustentam uma vida longa e plena. Ao adotar um estilo de vida que valorize esses pilares, estará investindo no seu bem-estar a longo prazo e aumentando suas hipóteses de desfrutar de uma vida saudável e duradoura. Portanto, comece hoje a cuidar desses pilares e embarque na jornada da longevidade saudável. Nosso futuro agradecerá.