Mucopolissacaridoses nem sempre são detetáveis ao nascimento
Neste conjunto de doenças, há um defeito de uma enzima que vai reduzir a degradação dos GAG’s, levando a uma acumulação dos mesmos no exterior e interior das células. Esta acumulação vai perturbar o normal funcionamento dos órgãos onde se acumulam os GAG’s. Por isso os órgãos afetados vai manifestar a doença de uma forma progressiva à medida que se acumulam cada vez mais estas moléculas complexas.
O tipo de GAG’s cuja degradação está comprometida vai condicionar a acumulação em diferentes órgãos (cérebro, osso, fígado, baço) e consequentemente vamos ver padrões de doença diferentes de acordo com o órgão mais atingido pela doença. Estão descritos vários tipos de PMS de I até IX de acordo com o tipo de GAG’s envolvidos e manifestações da doença.
As enzimas que degradam os GAG’s estão inscritas no nosso código genético e a doença ocorre quando os genes apresentam mutações que reduzem a capacidade de produzir enzimas em quantidade e qualidade suficiente para o seu normal funcionamento. Geralmente é necessário que as duas cópias que temos de cada gene estejam afetadas para que haja um défice da enzima. Na doença de Hunter (MPS II) a transmissão é feita através do cromossoma X pelo que os meninos são mais afetados que as meninas. As MPS’s são doenças são hereditárias, podendo passar de pais para filhos, contudo também podem surgir mutações de novo que não presentes nos progenitores.
O diagnóstico destas doenças é complexo e nem sempre são detetáveis ao nascimento. Só ao fim de algum tempo (meses a anos) é que a acumulação de GAG’s vai ser significativa e é que vão surgir os primeiros sintomas: dismorfias faciais, baixa estatura e outras alterações do esqueleto, atraso do desenvolvimento, surdez, problemas respiratórios, baço ou fígado aumentados de tamanho entre outros.
O diagnóstico pode ser procurado na urina onde também se eliminam os GAG’s e no caso destas doenças, há um aumento da excreção dos mesmos. O padrão de excreção urinária de GAG’s ajuda a definir qual a MPS em causa. O estudo genético permite confirmar a doença e a estabelecer um melhor plano de aconselhamento genético para os progenitores.
Neste momento já existe tratamento para várias destas doenças e o que sabemos é que quanto mais cedo for feito o diagnóstico e mais precocemente for iniciado o tratamento, menor a acumulação de GAG’s e por isso menor o impacto da doença. Na doença de Hurler (MPS I), por exemplo, o diagnóstico precoce (<2,5 anos de idade) e a realização de transplante medular podem prevenir a degradação cognitiva, que é a manifestação mais grave da doença.
Para outras MPS’s tais como doença de Hurler (MPSI), doença de Hunter (MPS II), doença de Morquio (IVA) e doença de Morateaux-Lamy (MPS VI), existem outros tratamentos específicos. Estes passam pela infusão das enzimas em falta e que permite repor a que está em falta e aliviar algumas das manifestações da doença. Este tratamento é feito de forma regular (semanal) e por via endovenosa. O tratamento tem um impacto favorável na progressão da doença e na qualidade de vida destes doentes e suas famílias.