Leite: serão mais os benefícios ou os malefícios?
O leite é um alimento com um excelente valor nutricional:
Fonte de proteínas de alto valor biológico, ou seja, contém todos os aminoácidos essenciais (aqueles que o organismo não consegue sintetizar).
Rico em cálcio, um mineral essencial para a formação e integridade dos ossos. O cálcio proveniente do leite, quando comparado com outros alimentos naturais (ou seja, não enriquecidos industrialmente), é muito bem absorvido pelo organismo – a vitamina D e a lactose promovem a absorção deste mineral. Existem outros alimentos com cálcio, como os produtos hortícolas, que também têm boas quantidades de cálcio, mas com uma menor biodisponibilidade, isto é, capacidade de absorção pelo nosso organismo.
Fonte de fósforo, vitaminas do complexo B (B1, B2 e B12), vitamina A e vitamina D.
A lactose é o açúcar do leite e precisa da presença da lactase, enzima intestinal, para se dividir em moléculas mais simples: galactose e glicose. Com o avançar da idade, alguns indivíduos deixam de produzir lactase, o que torna mais complicada a digestão do leite. Sintomas como indisposição, distensão abdominal, flatulência ou diarreia são comuns em indivíduos intolerantes à lactose.
Para indivíduos com intolerância à lactose, o leite sem lactose é um bom substituto, porque não difere na restante composição nutricional. As bebidas de soja são equivalentes ao leite em termos de proteína e cálcio, quando enriquecidas. No entanto, as restantes bebidas vegetais (aveia, arroz, amêndoa, entre outras) não são de todo equivalentes: têm um menor teor proteico e um baixo aporte de gordura, mas apresentam um valor energético superior ao do leite. Isto acontece porque grande parte da energia é fornecida sob a forma de açúcar adicionado.
Estudos recentes relacionam a ingestão de leite com certas patologias.
Obesidade: De acordo com Food & Nutrition Research 2016, não há associação entre a ingestão de leite por crianças e a adiposidade (quantidade de massa gorda corporal). Nos adolescentes, a sua ingestão tem um efeito protetor. Nos adultos que realizem dietas hipocalóricas durante curtos períodos de tempo, ajuda na perda ponderal, reduzindo a massa gorda e preservando a massa magra. Este efeito parece estar associado a uma maior sensação de saciedade. Em dietas prolongadas ou sem restrição calórica não foi observado o mesmo efeito benéfico.
Doenças cardiovasculares: Não foi encontrada associação entre as doenças cardiovasculares, doença coronária ou AVC. Contudo, um consumo de lacticínios com baixo teor de gordura pode estar associado a um menor risco de hipertensão arterial e AVC.
Osteoporose: Nas crianças, um baixo consumo de leite pode aumentar o risco de osteoporose em idade adulta e idosa. Os lacticínios parecem estar associados à saúde óssea nas crianças e nos adolescentes, mas pouca evidência nos adultos.
Cancro: A ingestão de leite tem uma provável proteção contra o cancro colo-retal, gástrico, da bexiga e da mama. Quanto ao cancro do pâncreas, do ovário ou do pulmão parece não existir associação. O único cancro que parece ter um aumento de risco, referente ao consumo de elevadas quantidades de leite gordo, é o cancro da próstata. Contudo, a ingestão de leite parece ter um efeito protetor contra o cancro colo-retal, que ultrapassa este potencial aumento de risco.
Em suma, é importante ter em consideração que os lacticínios têm uma panóplia de nutrientes, que são difíceis de obter em quantidades suficientes numa dieta, que os exclua na totalidade. Os benefícios do consumo de lacticínios parecem ser maiores que os prejuízos associados à sua restrição, devendo ser alimentos consumidos diariamente, de forma equilibrada, numa dieta saudável. Atualmente, as recomendações da Nova Roda dos Alimentos Portuguesa referem 2 a 3 porções diárias. De acordo com a Pirâmide Alimentar da Dieta Mediterrânica, isto é, padrão alimentar considerado o mais saudável e mais sustentável no mundo, recomenda o consumo de lacticínios duas vezes por dia.