Alimentos funcionais

Nutrição funcional: os benefícios de uma dieta adaptada à genética

Atualizado: 
28/08/2017 - 12:39
Não é novidade para ninguém que quase todas as doenças podem ser prevenidas à mesa. No entanto, poucos sabem que podemos determinar a dieta mais apropriada a cada perfil genético, de modo a potenciar os seus benefícios na manutenção da saúde e prevenção de doenças. Com a ajuda da especialista em medicina biológica, Alexandra Vasconcelos, explicamos-lhe tudo o que precisa sobre alimentação funcional e seus benefícios.

Foi nos anos 80, no Japão, que “nasceu”o conceito de alimento funcional. Adeptos de uma alimentação saudável foram os japoneses os propulsores de um conceito que mais tarde se espalhou um pouco por todo o mundo. “Em 1980, o governo japonês decidiu regulamentar o uso de alimentos comercializados, até então, como alegadamente promotores de saúde, introduzindo o conceito de alimento funcional”, começa por explicar Alexandra Vasconcelos.

Estes alimentos são semelhantes aos convencionais, usados como parte de uma dieta normal, mas que “demonstram benefícios fisiológicos e/ou reduzem o risco de doenças crónicas, além das suas funções nutricionais básicas”.  

De acordo com a especialista em medicina biológica, estes alimentos têm como vantagem conter “nutrientes essenciais com ações específicas no nosso corpo, em quantidades adequadas e em equilíbrio com todos os outros, para que haja optimização da sua absorção e melhor utilização pelas células”, estando associados à prevenção de doenças e na correção de desordens e desequilíbrios metabólicos que conduzem a doenças crónicas.

Em 1999 foi concluído o Projeto Ciência dos Alimentos Funcionais na Europa (Functional Food Science in Europe – FUFOSE) que assegurava a evidência científica que relaciona o poder terapêutico a cada alimento funcional. “Desde então o poder terapêutico dos alimentos funcionais tem sido largamente estudado em todo o mundo, estando perfeitamente regulamentado e aconselhado o seu consumo”, refere a especialista.

Genes permitem determinar dieta com maiores benefícios

De modo a potenciar os benefícios de uma dieta funcional, os especialistas recomendam uma análise nutrigenética que permitirá identificar quais os alimentos que melhor se adaptam ao nosso perfil genético.

“A análise nutrigenética – que se obtém através  da recolha de uma amostra de sangue ou saliva – permite conhecer os genes de cada pessoa a fim de determinar qual a dieta mais apropriada para conseguir um estado de saúde ótimo e prevenir doenças”, explica a especialista.

Embora 99% da nossa estrutura genética seja completamente idêntica, “existem aproximadamente 10 milhões de variações genéticas ou polimorfismos entre os indivíduos”. “De acordo com estes polimorfismos, as necessidades nutricionais de cada indivíduo podem ser diferentes”, acrescenta.

Através da nutrigenética, é possível identificar as necessidades específicas de cada um com vista a definir um plano de nutrição personalizado. “Um enfoque nutricional personalizado é essencial e absolutamente necessário para uma dieta ótima que permitirá um melhor funcionamento do seu corpo e prevenção de doenças”, reforça Alexandra Vasconcelos.

De acordo com esta especialista, todos temos, aliás, a ganhar com a inclusão de uma alimentação funcional na nossa dieta diária. “Todos nós temos carências micronutricionais”, justifica.

E as razões são basicamente três! “Primeiro pelo excesso de alimentação «dita» moderna (fast-food, pré-cozinhada e industrializada) que aporta apenas uma ínfima quantidade de micronutrientes”, refere Alexandra Vasconcelos. Este défice é agravado por um baixo consumo de alimentos ricos em fitoquímicos, como as frutas, os legumes e as gorduras polinsaturadas.

Por outro lado, hoje em dia, os alimentos apresentam menor densidade nutricional pelo empobrecimento dos solos e cultivo fora das estações. “Os anti-oxidantes dos frutos vermelhos existem em maior quantidade nos alimentos que são produzidos  na sua estação e em condições ambientais normais. Esta concentração decorre da necessidade de adaptação da espécie ao seu ambiente. Se a produção é protegida e facilitada, esta concentração diminui”, explica.

A alteração da flora e permeabilidade intestinal, bem como as alteração do pH do estômago e intestino, “cada vez mais endémicas”, são apresentadas como outras das causas dos défices nutricionais, uma vez que criam condições que dificultam a normal absorção dos nutrientes.

“Por todas estas razões, todas as pessoas beneficiam de uma alimentação funcional rica em fitonutrientes ativos”, reafirma a especialista em medicina biológica.

Fitonutrientes que distinguem os alimentos funcionais

Alexandra Vasconcelos explica, de forma simples que os alimentos funcionais “são classificados de acordo com a sua riqueza em fitonutrientes e estrutura química”:

1. Pré e probióticos, Bifidubacterias e Lactobacilos – regulam o ecossistema gastrointestinal, melhorando todas as suas funções, e são indispensáveis na prevenção de doenças crónicas, cancro e no bem-estar emocional.  “Têm tremenda influência na nossa saúde”, afiança a especialista.

Ajudam na manutenção da barreira intestinal onde se concentra a “grande resposta imunológica”, têm um papel direto na síntese das vitaminas B e K, na absorção de cálcio e ferro e “introduzem melhorias na digestão e absorção dos alimentos”.

“Existem alguns alimentos ricos em probióticos, no entanto, a maioria é rica em prébioticos que ajudam na proliferação do microbioma intestinal. A banana, o chocolate preto, as azeitonas, algas como a spirulina, alguns cereias ou produtos germinados são exemplos de alimentos que ajudam na manutenção do microbioma intestinal”, esclarece.

Relativamente aos produtos lácteos, Alexandra Vasconcelos acrescenta que é muito comum pensar-se que este tipo de alimentos são ricos em probióticos “no entanto, a maioria dos produtos lácteos são UHT – ultrapasteurizados -, um processo que destrói as bactérias saudáveis”. 

Ainda de acordo com a especialista, e apesar de muitos iogurtes serem enriquecidos com probióticos, “na maioria das vezes não é suficiente para mantermos uma boa função intestinal e muitas pessoas beneficiam da retirada da totalidade dos lácteos da alimentação”.

2. Compostos sulfurados e nitrogenados são compostos orgânicos usados na proteção contra a carcinogénese e mutagénese – mutação do ADN -, sendo ativadores de enzimas de “detoxificação hepática”. Isotiocianatos e indóis são também antioxidantes e estão presentes em crucíferas - “legumes cujas folhas se desenvolvem em cruz ou camadas relativamente ao pé principal” -, tais como brócolos, couve-flor, couve-de-bruxelas, couve, repolho, entre outros.

3. Vitaminas e antioxidantes – “os alimentos ricos em nutrientes com ação antioxidante, como o licopeno, carotenóides, flavonóides, catequinas, tocoferóis (vitamina E, por exemplo) e vitamina C, que se encontram nos frutos, hortaliças e legumes de várias cores, reduzem o risco de arteriosclerose, de desenvolvimento de cancro ou lesões oxidativas do ADN e têm uma ação anti-inflamatória”, explica a médica.

4. Ácidos Gordos Polinsaturados – são alimentos ricos em omega-3 e omega-6 que ajudam a corrigir o perfil lipídico “indispensável na prevenção cardiovascular, na boa atividade cerebral e neurológica e na proteção do sistema imunitário”.

“Estas gorduras «boas» existem nos peixes gordos, sementes, oleaginosas, algas, frutos secos, azeite, óleo de camelina e colza”, refere.

5. Fitoestrogénios – “Isoflavonóis e lignanos que podem ajudar a regular desequilíbrios hormonais por terem capacidade de se unir aos recetores estrogénicos. Têm sido também associados a efeitos protetores relativamente a determinadas neoplasias, doenças cardiovasculares e osteoporose”, explica. Encontram-se presentes em alimentos de origem vegetal, como a soja, linhaça, alfafa, em cereais, legumes, frutas e algumas verduras.

6. Fitoesteróis, que quando estão presentes em quantidades suficientes contribuem para a redução da absorção intestinal do colesterol.  Encontram-se nos frutos secos, cereais e óleos vegetais.

7. Fibras solúveis – melhoram o funcionamento intestinal, diminuem a absorção de gorduras e açúcar, contribuindo para a regulação dos valores do colesterol e dos valores glicémicos. “A ingestão de fibras está relacionada com a diminuição da incidência do cancro coloretal”, afirma Alexandra Vasconcelos.

 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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