Alimentação saudável

Saúde mental e alimentação: existe relação?

Atualizado: 
17/10/2023 - 12:16
Nos últimos anos, a relação entre a alimentação e a saúde mental tem sido objeto de estudo e especulação, sendo cada vez mais evidente o quão interligados estão o nosso corpo e mente. É visível que comer de forma saudável é uma forma de autocuidado, que permite manter o peso aconselhável e assegura a energia necessária para a realização das atividades diárias, físicas e mentais.

Porém, temos todos diferentes hábitos alimentares e é normal que a forma como comemos seja afetada quando nos sentimos sob pressão, em sofrimento ou em stresse. Podemos perder o apetite, comer demasiado ou ter vontade de comer um alimento em particular.

A tradicional divisão entre a saúde física e mental começa a ser menos óbvia à medida que entendemos melhor como os nossos corpos e cérebros funcionam em conjunto - assim como problemas de saúde mental podem provocar mau estar físico, o contrário também se verifica.

Na prática, quer isto dizer que quando negligenciamos a nossa nutrição, estamos a prejudicar não só o corpo, mas também a mente, já que os nutrientes adquiridos pelos alimentos certos desempenham um papel crucial em manter o nosso cérebro saudável. Mas como saber, então, se estamos a comer de uma forma saudável?

Hoje, apesar da multiplicação de tendências alimentares e de um grande acesso a informação sobre as mesmas, estas não deixam de dividir opiniões. O recomendado é que, antes de se adotar qualquer tendência, seja realizada uma profunda pesquisa sobre os seus benefícios e desafios e entender se se adapta à rotina e necessidades de cada um, pois cada pessoa tem as suas especificidades. E claro, reconhecer se é equilibrada e compatível com qualquer patologia identificada previamente.

Importa ainda realçar que a pesquisa deve ter por base fontes de informação legitimas e pode e deve ser complementada com o apoio de profissionais de saúde como nutricionistas ou médico de família. Atualmente encontra-se muita informação e muitas vezes contraditória, pelo que aconselho a verificar sempre a fonte dos artigos lidos. Existem diversas plataformas e sites apoiados por entidades credíveis que devem ser priorizados, como é o exemplo o projeto "Por falar em comida", que conta com a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde e a Médis.

Deve-se sempre procurar ter uma alimentação saudável, com foco em dietas variadas e equilibradas, como é exemplo a dieta mediterrânica, rica em vitaminas, minerais e ácidos gordos essenciais, que diminui não só o risco de desenvolver doenças crónicas como também depressão.

Os alimentos industrializados e processados devem ser evitados, contudo, tendem a ser cada vez mais uma escolha para muitos, que consequentemente se reflete, sobretudo, nas crianças - segundo o estudo COSI (Childhood Obesity Surveillance Initiative) da Organização Mundial da Saúde/Europa, apresentado em junho deste ano, 31,9% das crianças portuguesas apresentam excesso de peso e 13,5% são obesos.

Não nos podemos esquecer que somos modelos para os mais jovens – adultos individuais, Organizações, empresas -, sendo, por isso, igualmente importante, assegurar hábitos saudáveis durante toda a gravidez e nos primeiros anos de vida dos mais pequenos, promovendo a importância da variedade nutricional. As crianças têm maior probabilidade de escolher alimentos nutritivos se os adultos ao seu redor também o fizerem, pelo que priorizar opções mais naturais e caseiras sempre que possível é um passo na direção certa. Quanto mais cedo se habituarem a fazer escolhas mais corretas, mais fácil se torna que as sigam ao longo da vida.

Ajustar a alimentação às nossas condições físicas é também uma recomendação, atenuando possíveis consequências. Por exemplo, se estamos com algum tipo de inflamação no corpo, alimentos como leguminosas, peixe gordo, frutos oleaginosos sem sal devem ser priorizados. Ou se necessitarmos de reforçar a saúde do nosso coração devemos ainda mais privilegiar a dieta mediterrânica.

Não existe uma abordagem única que funcione para todos, mas há opções que devem ser tidas em conta para uma alimentação mais equilibrada, independentemente do plano alimentar escolhido. Para garantir que nosso corpo e mente estejam em sintonia e no seu melhor estado de funcionamento, devemos abraçar uma abordagem equilibrada e estar informados sobre as consequências das nossas escolhas alimentares. Um baixo nível de literacia em saúde é também considerado um fator de risco para doenças como a obesidade, a diabetes, as doenças cardiovasculares, a saúde mental e o cancro.

Ao adotarmos comportamentos saudáveis, estaremos a investir não só na nossa própria saúde, física e mental, mas também no bem-estar das gerações futuras, sendo mesmo uma responsabilidade que todos deveríamos assumir e apostar na literacia de saúde.

Autor: 
Teresa Bartolomeu - Responsável da Oferta de Saúde do Grupo Ageas Portugal
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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