O papel do Farmacêutico na Homeopatia
Em Portugal, a farmácia comunitária continua a ser a porta de entrada do SNS. Na fase de pandemia que vivemos, ainda mais determinante é o seu papel, pois os utentes evitam os hospitais e os Centros de Saúde. O doente confia e o farmacêutico tem o dever de prestar-lhe o melhor aconselhamento. Se o problema inicial for ligeiro e dispensar a consulta médica, o farmacêutico tem competência para determinar a melhor estratégia para um tratamento rápido e eficaz sem descurar a sua segurança. Essa estratégia pode passar pela adoção de medidas não farmacológicas e de prevenção e pela utilização de diferentes medicamentos e produtos de saúde em conjunto.
Se no final de um atendimento perguntarmos a um farmacêutico qual é o seu desejo para com o doente, muito provavelmente dirá que gostaria que aquela pessoa se curasse.
Na prática, para o farmacêutico que faz um aconselhamento ao balcão, por exemplo, num caso de tosse, é mais importante a rapidez, a eficácia, a segurança do produto e alguns aspetos práticos do que o estatuto legal do produto que está a aconselhar, que podem variar entre medicamentos não sujeitos a receita médica, suplementos alimentares, dispositivos médicos, Fitoterapia e Homeopatia. O especialista quer aconselhar o mais adequado.
Por ser eficaz, rápida na ação e segura, a Homeopatia é uma abordagem a ter em conta como parte da estratégia para um tratamento aconselhado ao balcão. Há condições clínicas em que a utilização dos medicamentos homeopáticos têm vantagens inegáveis em relação a outras abordagens terapêuticas: patologias víricas, stress, ansiedade e patologias de repetição, entre outras.
Nas patologias víricas (como o herpes labial, a zona, a gripe, as amigdalites víricas e as gastroenterites) consegue-se uma resposta muito rápida, sem recorrer a medicamentos de prescrição obrigatória. Nas patologias relacionadas com stress, ansiedade e sono em que habitualmente apenas se excita ou deprime o sistema nervoso, com a Homeopatia consegue-se ser mais preciso na resolução do problema específico daquele doente naquele momento. Nas patologias de repetição, sejam as alergias típicas da Primavera, sejam infeções urinárias ou de ORL durante a época de Inverno pode usar-se Homeopatia para mudar o comportamento do organismo e diminuir a intensidade e frequência das crises. Mas a Homeopatia não se utiliza apenas para patologias crónicas, até porque a Homeopatia é muito rápida na resolução de patologias agudas.
O farmacêutico precisa de estudar e de adquirir os reflexos necessários, porque ao balcão da farmácia apenas tem uns minutos disponíveis para colocar as questões corretas ao doente. A Homeopatia requer observação cuidadosa e o farmacêutico está numa posição privilegiada para a fazer. Ele está habituado a observar e interagir com dezenas de clientes durante um dia habitual de trabalho e com essa dinâmica adquire padrões que ficam na sua consciência e lhe dão as competências que necessita: consegue olhar para o cliente que tem à sua frente e reparar atentamente em pormenores que fogem ao normal. Por exemplo: é fácil identificar um fumador pelo tom de voz e pela tez acinzentada da pele, por exemplo.
Outro fator de observação é facilitado pelo facto de a farmácia procurar fidelizar os seus clientes: a observação por parte do farmacêutico treinado promove uma quase calibração individual a cada visita do mesmo utente habitual. Consegue perceber que D. Alice que é muito faladora, está nesse dia estranhamente calada, ou que o Sr. Costa que normalmente passa despercebido, está com uma tosse irritativa sem expetoração, não parando de tossir a cada 20 ou 30 segundos, sabendo o que é habitual e o que é diferente do habitual.
O mais importante para a observação atenta é o interesse genuíno no bem-estar e na saúde do doente, porque no final, o que o farmacêutico quer é o melhor para quem o visita na farmácia e que nele confia.