Doença de Fabry: doentes não tratados perdem 10 a 20 anos de vida
A doença de Fabry
A doença de Fabry é uma doença hereditária do metabolismo do grupo das doenças lisossomais de sobrecarga. É uma doença genética, rara, crónica, e progressiva, causada pela deficiência de atividade de uma enzima, denominada alfa-galactosidase A, que desempenha um papel importante no metabolismo lipídico. As mutações no gene que controla a produção desta enzima – o gene GLA - podem levar à ausência ou à diminuição de atividade da alfa-galactosidase A, com a consequente acumulação de gorduras nos tecidos e órgãos.
Esta é uma doença de transmissão ligada ao cromossoma X, que se pode manifestar tanto no sexo masculino quanto no sexo feminino, no entanto, está associada a quadros mais graves entre os homens.
Estima-se que afete uma em cada 20 000 mulheres e um em cada 40 000 homens.
Sintomas
Os primeiros sinais de doença podem surgir durante a infância ou já na idade adulta, e evoluir silenciosamente. De acordo com a Comissão Coordenadora do Tratamento das Doenças Lisossomais de Sobrecarga, existem, deste modo, dois fenótipos principais na sua história natural:
1. O fenótipo clássico, mais raro e de início precoce, apresenta manifestações logo na infância ou adolescência.
Formigueiros nas extremidades, dor neuropática, ausência ou diminuição da transpiração, intolerância ao frio, calor ou exercício; crises de febre inexplicadas, alterações gastrointestinais, lesões vermelhas na pele denominadas angioqueratomas, alterações da córnea dos olhos e excreção aumentada de proteínas na urina (proteinuria) estão entre os principais sintomas.
Na idade adulta, o doente pode desenvolver insuficiência renal, acidente vascular cerebral (AVC), surdez e hipertrofia cardíaca, insuficiência cardíaca, arritmias e bloqueios cardíacos.
Este fenótipo está, como descrevem os especialistas, associado a uma atividade enzimática nula ou quase nula (<1%) da enzima alfa-galactosidase A.
2. Quanto ao fenótipo tardio, este caracteriza-se pela manifestação de sintomas com início já em idade adulta. Insuficiência renal, acidente vascular cerebral (AVC), surdez e hipertrofia cardíaca, insuficiência cardíaca, arritmias e bloqueios cardíacos são as manifestações típicas deste fenótipo. A maioria dos casos diagnosticados pertencem a este grupo.
Diagnóstico
Como os sintomas desta doença podem ser comuns aos de outras patologias, é frequente que a doença de Fabry se encontre subdiagnosticada, levando meses ou anos até à confirmação do seu diagnóstico. De acordo com a literatura, estima-se que a doença leve, em média, cerca de 14 anos nos homens e 16 anos nas mulheres, a ser diagnosticada.
Para se estabelecer o diagnóstico é necessário realizarem-se:
- testes de atividade enzimática que permitem estabelecer se o doente tem níveis baixos de atividade da enzima alfa-GAL, uma vez que estes são tipicamente muito mais baixos do que nas pessoas sem a doença.
- Ou, testes genéticos para descobrir que defeitos no gene GLA estão a provocar a doença.
Tratamento
Apesar de não ser conhecida uma cura, existem dois tratamentos disponíveis para controlar a Doença de Fabry: a terapêutica de substituição enzimática e a terapêutica com chaperone.
Segundo a Comissão Coordenadora do Tratamento das Doenças Lisossomais de Sobrecarga, “existem duas formulações de terapêutica de substituição enzimática: agalsidase alfa e agalsidase beta”, ambas demonstrando um bom perfil de segurança clínica e eficácia clínica, nomeadamente na estabilização ou atraso da progressão das manifestações cardíacas e renais.
Mais recentemente, como refere a especialidade, a terapêutica com o chaperone migalastat revelou um bom perfil de segurança e uma eficácia clínica à terapêutica enzimática. No entanto, esta opção está apenas indicada a doentes com determinadas mutações e que demonstram responder a este fármaco.
Podendo afetar vários órgãos ou sistemas é essencial que o doente seja acompanhado por uma equipa multidisciplinar, em Centros de Referência de Doenças Hereditárias do Metabolismo e Doenças Lisossomais de Sobrecarga.
Quando não tratada, esta doença pode causar danos irreversíveis em órgão vitais, conduzindo à sua falência. Nestes casos, o prognóstico da doença é bastante pessimista, estimando-se a perda de 10 a 20 anos na esperança de vida destes doentes, quando comparados com a população geral.