Na maioria dos casos

A Colangite Biliar Primária é assintomática e silenciosa

Atualizado: 
10/09/2021 - 15:59
Pouco conhecida, a Colangite Biliar Primária é uma doença crónica rara, do foro imunológico que afeta primariamente o fígado e os seus componentes biliares. Sem cura, atinge maioritariamente as mulheres, sendo, quase sempre, silenciosa.

Não se sabe ao certo o que a provoca, no entanto, admite-se que “as características de ambiente hormonal serão decisivas na a facilitação imunológica para a sua ocorrência”, daí que a Colangite Biliar Primária afete, sobretudo, o sexo feminino. “Não é contagiosa nem se pensa que seja provocada por algo em particular”, acrescenta Guilherme Macedo, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.

Segundo o especialista, esta doença é frequentemente diagnosticada entre os 40 e os 60 anos, no entanto, chama a atenção para o facto de que “ao fazerem-se analises sanguíneas hepáticas especificas, deteta-se por vezes em idades mais jovens, incluindo durante a gravidez”.  Isto porque, explica o médico, a doença é, geralmente, assintomática e silenciosa.

“O sintoma principal pode ser o cansaço inexplicável ou o prurido. Muitas doentes começam por ser consultadas por dermatologistas. O prurido por vezes é muito incapacitante, levando a feridas na pele, “sinais de coceira”, revela. No entanto, há casos em que predominam os sintomas articulares, “concomitantes a doenças reumatismais imunes a que frequentemente a CBP se associa”.

Tratando-se então de uma doença que pode passar despercebida durante anos, a melhor forma de a detetar “é através de uma análise de sangue, simples, que se faz em qualquer laboratório e qualquer médico a pode solicitar”. Segundo Guilherme Macedo, “a análise mais importante é a fosfatase alcalina”. “Há uma outra análise, muito específica, solicitada numa segunda fase, que ajuda de modo muito decisivo ao diagnóstico: são os anticorpos antimitocondriais”, acrescenta.

Apesar do seu prognóstico ser favorável “quando diagnosticada numa fase assintomática e se inicia de imediato tratamento”, estima-se que em 15 a 20% dos casos mais avançados podem surgir complicações graves. “Quando existe evidencia de sofrimento avançado do fígado, com cirrose e a denominada descompensação hepática, em que a única solução viável é a transplantação”, este prognóstico é mais sombrio.

Após este diagnóstico, e no caso de o doente já ter cirrose, este terá de fazer vigilância através de uma ecografia de 6/6 meses, toda a vida. “Existem vários testes sanguíneos que podem permitir saber se existe cirrose ou não. Mas o mais fiável é uma técnica que se assemelha à ecografia chamada de Fibroscan® (elastografia hepática). Outro exame fundamental é a ecografia abdominal e por vezes é necessário recorrer a uma biópsia hepática para definição e caracterização mais completa da situação”, esclarece o especialista.

Quanto ao tratamento, que serve para manter a doença sob controlo, este consiste “na utilização de medicamentos, como o ácido ursodesoxicólico ou o ácido obeticólico, que modificam as características da bile e da imunologia héptica”.

A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia estima que, em Portugal, existam cerca de mil pessoas com esta doença. Apesar de ter tratamento, o caracter silencioso faz com que se possa tornar perigosa. “Mesmo as doenças raras do fígado podem ser facilmente diagnosticadas, identificadas e tratadas em tempo útil. O silêncio não garante a saúde do fígado, é necessário precaução e atenção regular para adivinhar e entender como o nosso fígado se comporta”, salienta Guilherme Macedo, Presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia. 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock