Zika pode provocar lesões neurológicas mesmo nas últimas semanas de gestação
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Publicado na revista Clinical Infectious Diseases e hoje citado pela agência de notícias da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), no estudo apresentam-se novos dados sobre os efeitos do vírus do Zika no feto.
“Predominava, até então, o paradigma de que a infeção seria preocupante somente se ocorresse no primeiro trimestre da gestação. No entanto, observamos danos cerebrais em quatro crianças cujas mães foram infetadas faltando entre duas e uma semana para o parto”, afirmou Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) e integrante da Rede de Pesquisa sobre Zika Vírus em São Paulo (Rede Zika).
Os cientistas têm acompanhado um grupo de 55 mulheres com diagnóstico confirmado de Zika durante a gestação, no Hospital de Base de São José do Rio Preto, interior de São Paulo.
À medida que os bebés vão nascendo, também são submetidos a exames detalhados.
Em quatro das crianças expostas ao vírus no último trimestre de gravidez, exames imagiológicos revelaram a presença de lesões no sistema nervoso central características de infeções congénitas.
Além disso, no momento do nascimento, foi possível detetar o Zika ainda ativo na urina e no sangue dos bebés, o que confirma a transmissão vertical (da mãe para o feto) do vírus.
Dois desses casos são relatados no artigo.
“Esses bebés nasceram com peso e altura normal, não tinham microcefalia ou qualquer outro sintoma da doença. As lesões teriam passado despercebidas pelos profissionais de saúde se as mães não fizessem parte de um grupo de estudo”, comentou Nogueira, citado pela agência FAPESP.
Segundo o investigador, o tipo de lesão observada não está associado a manifestações graves em outras situações previamente estudadas, mas as implicações no desenvolvimento neuro cognitivo das crianças infetadas pelo Zika ainda são desconhecidas.
“Agora, pretendemos acompanhar o desenvolvimento dos bebés durante alguns anos e observar se haverá algum prejuízo. Essa descoberta revela mais um espectro da doença e torna-a ainda mais complexa. Não existem apenas os casos dramáticos de microcefalia, mas também outras manifestações menos graves, que precisam ainda ser melhor compreendidas”, disse Nogueira.
O Brasil é o país mais afetado pela atual epidemia de zika, vírus que está associado a complicações neurológicas, sobretudo anomalias no desenvolvimento cerebral (microcefalia) em fetos de mães infetadas.
Segundo o último relatório da Organização Mundial de Saúde sobre o vírus, datado de quinta-feira passada, o Brasil já registou um total de 1888 casos de microcefalia ou malformações do sistema nervoso central potencialmente associadas à infeção pelo Zika.
A epidemia foi declarada em 2015 e desde então 55 países registaram casos da doença, a maioria importados, e 20 países já registaram microcefalia ou outras malformações do sistema nervoso central potencialmente associadas ao Zika.