Fertilidade

Apoio emocional e preservação do potencial reprodutivo, chave para viver com endometriose

Atualizado: 
16/01/2020 - 10:16
A endometriose é uma doença tão dolorosa como desconhecida. Afeta milhões de mulheres em todo o mundo – calcula-se que uma em cada 10 sofra com os seus sintomas – e é uma das principais causas de infertilidade. Consiste no aparecimento e crescimento do tecido endometrial fora do útero e caracteriza-se por provocar fortes dores pélvicas durante a menstruação ou dor pélvica crónica, que pode chegar a ser incapacitante.

A procriação medicamente assistida pode ser a resposta adequada para os problemas de fertilidade destas mulheres. A vitrificação de ovócitos pode ser a solução para concretizar o projeto reprodutivo no futuro. Tanto para as mulheres que se submetem a uma cirurgia que possa comprometer a fertilidade, como para aquelas que simplesmente desejem adiar a maternidade. De facto, nos últimos 10 anos, mais de 300 mulheres procuraram o IVI com problemas de fertilidade derivados da endometriose.

Para João Calheiros Alves, ginecologista, especialista em medicina reprodutiva do IVI Faro, na atualidade o enfoque clínico em relação a esta doença está a mudar: “não houve nenhum avanço no tratamento sintomático da endometriose nos últimos nos, continua sem existir cura. A diferença é que agora o diagnóstico e início do tratamento são mais pragmáticos e isso ajuda a melhorar a qualidade de vida de quem padece endometriose.”

“Antes podia demorar até 6 anos até ser diagnosticada a endometriose a uma mulher e poucos médicos a tratavam”, explica o Dr. João Calheiros Alves. A idade média em que se deteta esta doença é aos 27 anos e calcula-se que cerca de 70% receberam anteriormente diagnóstico errado.

A falta de informação, junto com a ausência de consciencialização social sobre este problema, provoca que muitas destas mulheres se sintam sozinhas e incompreendidas em relação à dor.

“O nosso trabalho passa muito por consciencializar a sociedade de modo geral e os profissionais de saúde para a existência e consequências desta patologia na vida da mulher. Felizmente o nosso trabalho começa a surtir resultados, contudo começamos a deparar-nos com um outro problema, que é a falta de profissionais que compreendam verdadeiramente a doença e se dediquem a aprofundar os seus conhecimentos para acompanhar de forma adequada as portadoras desta patologia,” salienta Susana Fonseca, presidente da Associação Portuguesa de Apoio a Mulheres com Endometriose.

A endometriose
Esta doença crónica ocorre quando o endométrio – a parte que reveste o interior do útero e se desprende em cada ciclo através da menstruação – se encontra noutros locais, mais frequentemente na pélvis. Uma vez na pélvis, e com os ciclos menstruais da mulher, produzem-se pequenos sangramentos, que se não forem corretamente eliminados pelo próprio organismo, serão responsáveis, em parte, pelo quadro de dor e infertilidade.

A importância de um bom diagnóstico
A endometriose é uma doença crónica, pelo qual é importante que se diagnostique o quanto antes e se trate de forma adequada. Uma vez que pode piorar, é importante que a mulher disponha de toda a informação possível desde o primeiro momento.

Apesar de depender da idade e do contexto clínico, calcula-se que nos casos de endometriose, sem importar que seja moderada ou severa, a taxa de gravidez espontânea por ciclo é inferior a 2% (e entre 2 e 4,5% nos casos mais leves), muito inferior aos 20% das mulheres que não padecem da doença.

Nos casos com maior sintomatologia recomendam-se medicamentos paliativos e, se necessário, pode efetuar-se uma cirurgia pélvica por via laparoscópica para eliminar as lesões, apesar de existirem casos em que é necessário retirar parte dos ovários ou inclusivamente os ovários por completo, prejudicado desta forma a fertilidade da paciente.

A presidente da MulherEndo reforça ainda que “apesar da fertilidade ser um fator de peso na vida da mulher, a Endometriose é muito mais do que uma doença que pode prejudicar a gravidez. A Endometriose é uma doença complexa que pode afetar vários órgãos e comprometer a qualidade de vida da paciente prejudicando a vida pessoal, familiar, profissional e social. A Endometriose é hoje um problema de saúde pública!”

7 Conselhos MulherEndo para melhorar a qualidade de vida das mulheres com endometriose

Uma vez diagnosticada a endometriose, a mulher deve considerar alguns aspetos que poderão melhorar a sua qualidade de vida. Nem sempre são fáceis de aplicar. Sobretudo deve investir algum tempo a interiorizá-los e depois ver como poderão ter aplicação prática na sua vida.

Apoio Psicológico
Esta é uma doença que causa sentimentos de incapacidade, culpa, medo, angústia, incerteza. Portanto é importante ter alguém que nos ajude a lidar com todas estas fases. O objetivo é que não tornemos algo que já é grande e complicado, em algo muito difícil de lidar. Uma mente serena e organizada, lida melhor com a situação, tem menos ansiedade e menos stress. Deste modo encontra respostas mais rapidamente e de forma mais acertada quando surgem os problemas. Já para não falar que o estado de stress e ansiedade causa mais inflamação e consequentemente mais dor!

Alimentação equilibrada – apoio nutricional adequado
A alimentação pode ser a chave para uma vida com menos dor. Não conseguimos controlar a doença pela alimentação, mas conseguimos controlar a sintomatologia. Uma alimentação anti-inflamatória, sem produtos processados, açúcares e com pouco glúten pode ser a chave para reduzir inchaço, perder o peso ganho com a toma de medicação e para que a sintomatologia da doença seja atenuada.

Desporto adaptado
Nem todos os desportos são adequados. Mas existem alguns que certamente nos farão sentir melhor. Yoga, pilates, caminhadas e natação são alguns exemplos. O importante é perceber qual é mais eficaz para cada uma de nós e mexer o corpo. Por menos vontade que se tenha. Um corpo parado é um corpo mais doente!

Tempo para mim
Há estudos que ligam a Endometriose a mulheres que se preocupam primeiro com todo o universo e só depois consigo. Mulheres que em vez de lerem um livro que lhes apetece estão preocupadas em como resolver os problemas dos amigos/familiares. Mulheres que em vez de verem uma série preferem ir fazer voluntariado e resolver os problemas do mundo. Não que este tipo de personalidade/vivências não seja positivo. É! Mas há que encontrar um equilíbrio. Precisamos de cuidar de nós. Ter tempo para ler, se nos apetecer, para ver uma série, para tomar um banho mais relaxado, para ir ao cinema, para não fazer nada! Desligar do mundo é essencial!

Saber parar
Nos dias de mais dor é importante parar. Deitar, colocar um saco de água quente/ou de gelo na zona que nos está a doer com mais intensidade ou tomar um banho quente relaxante.

Dormir bem
Se o nosso corpo/mente não descansa no mínimo 7/8h por dia todo o quadro de dor piora.

Gostar de mim
Eu não tenho culpa de ter uma doença crónica, de não poder ter filhos, de não conseguir exercer a minha profissão. Eu não tenho culpa e não me posso culpar por isso! Mas posso aprender a virar a página e a transformar o mau em algo positivo. Consequentemente é possível viver bem e feliz com Endometriose!

Fonte: 
Grupo IVI
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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