Vírus infecta mais de 40 mil pessoas
Raramente é fatal, embora possa causar complicações graves, mas está a espalhar-se com grande rapidez num país com más condições sanitárias onde os mosquitos proliferam.
“O meu filho de 22 anos é corajoso, mas agora chora como uma criança. Os braços, pescoço, costas, todo o seu corpo tem dores”, descrevia à agência Reuters Marco Dorival, um habitante da capital do Haiti, Port-au-Prince.
O vírus causa dores intensas e febre, sendo conhecido localmente como “kaze le zo”, ou seja, “quebra ossos”. Muitos doentes não conseguem andar ou sequer mexer os dedos durante mais de uma semana. Não há medicamentos que o tratem, excepto medicação para baixar a febre e aliviar as dores, e o preço destes remédios já duplicou.
Apesar do Ministério da Saúde ter reagido e comprado 400 mil doses de analgésicos, estes desaparecem rapidamente. Gretta Lataillade Roy, directora de uma pequena clínica, contraiu o vírus no mês passado e conta que a medicação desapareceu em apenas 48 horas, tantos eram os casos de doentes.
Muitos trabalhadores da área da saúde ficaram também doentes com o vírus, o que tem piorado a situação, e muitos dos doentes ficarão em casa até à febre e as dores passaram, diz a agência norte-americana Associated Press.
A prevenção básica de doenças transmitidas pelos mosquitos falha porque muita gente não tem dinheiro para repelentes de insectos ou redes mosquiteiras. Para além das condições já precárias, de casas sem sistema sanitário e uso de contentores com água parada que atraem mosquitos, há ainda cerca de 146 mil desalojados pelo terramoto de 2010 que não foram ainda realojados.
“O chikungunya tem sido impiedoso no Haiti”, notava um relatório do Instituto Igarapé, com sede no Brasil. “Falta de infra-estrutura básica, medidas de controlo de mosquitos insuficientes, e desigualdades sociais e económicas profundas pioraram esforços de prevenção e tratamento”, aponta o documento. Piora ainda tudo que haja uma teoria da conspiração sobre a doença – que seria espalhada por estrangeiros para fazerem negócio no Haiti.
O vírus está ainda a espalhar-se por outros países como República Dominicana, e os EUA já começaram uma supervisão apertada de casos entre habitantes que recentemente contraíram o vírus durante viagens às Caraíbas. “Houve uma altura em que não conseguia andar, e quando comecei a conseguir, apenas conseguia todo curvado”, relatou à Reuters Richard Barbour, pastor de Boca Raton, Florida.
Passado uma semana, os sintomas começam geralmente a dissipar-se e os infectados desenvolvem imunidade.
Mas há situações em que pode provocar insuficiência respiratória e ser fatal, especialmente em casos de pessoas com outras doenças: pensa-se que a infecção por este vírus terá piorado o estado de saúde do antigo Presidente Leslie Manigat, que acabou por morrer.