Veterinários tratam cada vez mais animais exóticos
Os novos animais de companhia são um dos temas que os veterinários vão discutir no congresso que realizam em Lisboa durante o próximo fim de semana.
“Embora em medicina veterinária consideremos exóticos tudo o que não é cão nem gato - enfim pássaros, coelhos, hamsters -, depois aparecem aqueles mais exóticos, tipo serpentes e aranhas”, contou o bastonário da Ordem dos Veterinários, Jorge Cid.
Nas clínicas e consultórios “aparece tudo”: muitas iguanas e outros répteis, dragões barbudos [uma espécie de lagarto], serpentes, escorpiões e aranhas.
Estes animais foram “estrelas” numa feira realizada em fevereiro em Lisboa (PET Fest), onde lhes estava destinada uma boa parte da área. “Havia lá isso tudo para vender”, lembrou o veterinário.
A posse destes animais é permitida desde que devidamente documentados. Não podem ser retirados da natureza, mas existe criação.
A Ordem não interfere com as escolhas dos consumidores, mas defende que é preciso ter consciência do risco que podem representar para a saúde pública.
“Há que ter um bocadinho de consciência e de cuidado na posse destes animais, que deve ser mais ou menos controlada”, afirmou o bastonário, referindo que podem provocar algum pânico e colocar em causa a saúde pública.
Nunca se sabe qual será o efeito na natureza da introdução de espécies oriundas de países tropicais.
“No estado selvagem, há sempre doenças que podem ser transmitidas, portanto há que ter um controlo grande de novas espécies que não são indígenas”, disse.
Abandonar uma cobra pode ser perigoso, exemplificou, recordando casos de crocodilos e outros répteis que têm surgido em jardins noutros países, depois de serem abandonados por quem os adotou como animais de companhia.
“Em Portugal isso ainda não se passa, ainda é residual. Acho que as pessoas podem ter tudo o que quiserem, desde que tratem bem e não ponha em causa nem a integridade das outras pessoas, nem a saúde pública”, declarou Jorge Cid.
O bastonário reconheceu que cada vez mais as pessoas querem coisas diferentes e que há modas também nesta área.
Há vários médicos veterinários que são especializados em animais exóticos. “Fazer uma cesariana a uma iguana é uma coisa que não é nada invulgar, é normal, há várias clínicas que já têm dentro da sua estrutura médicos veterinários dedicados a estes animais e também há clínicas que só tratam esses animais cá em Portugal”, revelou.
Uma catatua ou um ovo pode custar 50.000 euros, o mesmo se passando com as araras que atingem milhares de euros: “Há pássaros desses que consideramos exóticos que podem valer fortuna, daí haver pessoas também muito especializadas no tratamento deles”.
Nos congressos, observou, surgem também cada vez mais pessoas interessadas nesta área.
Se uma iguana não consegue “ter os ovos”, os veterinários prosseguem a operação, como de outra mãe se tratasse: “Praticamente tudo o que se faz nas pessoas, fazemos nos animais”.
As aves de rapina são “outro nicho de mercado”. É preciso saber como se tratam estes animais e esta é também uma área de especialização entre os veterinários.
Além das novas espécies de animais de companhia, estarão em análise no Centro de Congressos de Lisboa temas como a intervenção em catástrofe, a legislação, o bem-estar na profissão e a inspeção e segurança alimentar.