Saúde mental

Vamos falar de saúde mental?

Atualizado: 
05/02/2020 - 16:07
Cada vez mais se fala em doenças mentais, e muito pouco em Saúde Mental e na prevenção da doença. Neste artigo descodificam-se alguns conceitos, alude-se à realidade da doença, às respostas existentes em Portugal e às estratégias que cada um pode adotar no quotidiano para promover a sua saúde mental.

Quantas vezes se fala em saúde mental?
Provavelmente poucas. No entanto, tem-se falado cada vez mais em doenças mentais. Isto porque é do conhecimento geral que as doenças mentais estão a aumentar, devido à realidade socioeconómica atual, como à falta de intervenções na promoção da saúde mental e na prevenção da doença. Também o estigma, em relação à doença mental, leva a que muitas vezes os doentes e as respetivas famílias escondam a doença e peçam ajuda tardiamente.

O que é a saúde mental?
A saúde mental é mais do que ausência de doença ou de sintomas, mas também a capacidade de enfrentar obstáculos e de ser resiliente face às adversidades. Obtém-se através da promoção do bem-estar e do empowerment.

Que respostas existem para a doença mental em Portugal?
Poucas. Apesar de existir um Plano Nacional de Saúde Mental (2007-2016), que prevê uma panóplia de intervenções e de estratégias de assistência ao doente mental e família, pouco se vê desenvolvido e implementado neste âmbito. Assim, e uma vez que não têm sido criados serviços, equipas e instituições para assistir o doente mental e família, seria importante investir em estratégias de promoção da saúde mental, a desenvolver na comunidade e em parceria com outras instituições e organismos.

Qual a realidade atual?
Segundo relatórios da União Europeia (UE), a doença mental atinge mais de 27% dos adultos, com ansiedade e depressão. A depressão está em 4º lugar a nível mundial, como carga global de doença, e prevê-se o 1º lugar na projeção para 2020.

De acordo com o estudo “A Carga Global da Doença” (Global Burden of Disease), conduzido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças mentais, incluindo o suicídio, ocupam o 2º lugar no grupo das doenças que atingem países com economias estáveis, sendo que das dez doenças mais incapacitantes, nas idades compreendidas entre 15 e 44 anos, quatro são do foro psiquiátrico (depressão major, esquizofrenia, transtornos bipolares e distúrbio obsessivo-compulsivo).

Em Portugal, a doença mental atinge 30% da população, menos de 50% têm acesso a cuidados especializados e constituí a 1ª causa global de doença.

Como promover a saúde mental?
Existem várias formas de promover a saúde mental. Combatendo situações de stresse e ansiedade intensa, aprendendo a utilizar técnicas diversas de relaxamento (umas mais mentais, outras mais físicas). Mas, essencialmente, encontrar o Ser Interior e o equilíbrio interno, para dar resposta às seguintes questões: Quem sou eu? Quem quero ser? Para onde quero ir? Qual o caminho a seguir? Lutar por aquilo que nos deixa feliz, partilhar afetos e acreditar que somos capazes de ultrapassar as adversidades. Simplesmente não desistir! Mesmo quando os problemas nos batem à porta, não cruzar os braços, pedir ajuda e acreditar que vamos conseguir ultrapassar.

Por onde começar?
Devíamos apostar na promoção da literacia em saúde mental, ou seja, na aquisição de conhecimentos sobre a saúde mental, no sentido de ensinar os indivíduos a identificar sinais e sintomas da doença mental, a prevenir problemas de saúde mental, a incentivar a procura de ajuda precoce e a reduzir o estigma associado às perturbações mentais. Investir na saúde mental, apostando no aumento de conhecimentos dos cidadãos, sensibilizando os organismos e instituições para investirem nesta área e desenvolvendo ações de luta contra o estigma. A saúde mental é imprescindível ao desenvolvimento social e económico das comunidades. Envolver as comunidades, no desenho e desenvolvimento de planos locais de promoção da saúde mental, é um importante desafio para garantir mais e melhor saúde mental, a cada comunidade. A reforma da saúde mental é indispensável para assegurar a integração dos serviços de saúde mental no sistema geral de saúde e garantir a acessibilidade na comunidade (Plano Nacional de Saúde Mental, 2007-2016).

Nota: Este texto foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

Referências Bibliográficas

COMISSÃO NACIONAL PARA REESTRUTURAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL (2007). Reestruturação e Desenvolvimento dos Serviços de Saúde Mental em Portugal - Plano Nacional de Saúde Mental 2007-2016.

GOMES, José Carlos Rodrigues e LOUREIRO, Maria Isabel Guedes. O lugar da investigação participada de base comunitária na promoção da saúde mental. Revista Portuguesa Saúde Publica. Lisboa. ISSN 0870-9025. Volume 31, nº 1,(janeiro,2013).

OMS - Organização Mundial de Saúde (2002) - Relatório Mundial da Saúde 2001 – Saúde Mental: Nova Compreensão, Nova esperança. Lisboa: Direção Geral de Saúde.

The Global Burden Of Disease" by C.J.L. Murray and A.D. Lopez, World Health Organization, 1996, Table 5.4 page 270

Autor: 
Andreia Eunice Pinto Magina - Enfermeira Especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica na Unidade de Cuidados na Comunidade de Oliveira de Azeméis ACES EDV II
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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