Valor da exportação de medicamentos duplicou
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De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) enviados ao Diário de Notícias, o aumento foi também significativo quando comparado com 2015: mais 13,8%. Nesse ano, as exportações valeram 799 milhões de euros. Entre os principais países compradores estão os Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido.
Nos últimos anos, na lista de produtos exportados estão vacinas, antibióticos, analgésicos, medicamentos para o sistema nervoso central, cardiovasculares, epilepsia. Genéricos, produção de substâncias ativas para outros laboratórios e também produtos inovadores, como é o caso da Bial. A farmacêutica assinou recentemente um acordo com o Estado no valor de 37 milhões de euros com o objetivo de aumentar a investigação e o desenvolvimento da empresa nas áreas dos sistemas nervoso central e cardiovascular.
Os dados do INE - 2015 ainda são provisórios e os do ano passado preliminares - mostram que a lista dos cinco principais compradores a Portugal se tem mantido estável, com os Estados Unidos à cabeça, desde 2014. No ano passado os norte-americanos compraram 221 milhões de euros a Portugal, valor que tem vindo sempre a crescer, e que representa 24% do total das vendas. Segue-se a Alemanha (com 16% do total das vendas), Reino Unido (12%), Irlanda (9%) e Angola (5,5%). A zona do Médio Oriente, para onde partem hoje uma delegação da Associação Empresarial de Portugal e 13 empresas do setor da Saúde para participar numa feira, no Dubai, é outra das apostas. Apesar do aumento das exportações, os valores ainda estão longe do que o país gasta em compras nesta área. Entre janeiro e novembro do ano passado foram 1,7 mil milhões de euros.
Em entrevista ao Diário de Notícias, o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, salienta as indicações "muito boas" das exportações na área da saúde. "Não só das exportações de medicamentos e produtos farmacêuticos, mas também os princípios base de produtos farmacêuticos e dispositivos médicos estão a ter um crescimento muito interessante, que pode ser superior a 10% ao longo do ano. Penso que em 2016 - os dados ainda não estão fechados - os produtos de saúde deverão ultrapassar os 1,3 mil milhões de euros de exportações", refere o responsável, estimando que no total das exportações o peso da saúde seja pelo menos de 1,5%. "Um aspeto muito interessantes é a expansão que está a acontecer de produtos de inovação de base portuguesa, nomeadamente os da Bial, no mercado dos Estados Unidos que é o maior mercado do mundo em consumo de medicamentos. O setor dos produtos de saúde inclui também dispositivos médicos e hospitalares e há também nessa área várias empresas a fazer investimento e a aumentar a capacidade de produção".
Receita para o futuro: inovação
Em 2000 a companhia suíça OM Pharma decidiu deslocalizar parte da produção para Portugal. Hoje a fábrica de Lisboa assegura parte significativa da produção da empresa e exporta para 65 países. E estão a construir uma nova fábrica em Alfragide para a produção de um novo medicamento para todo o mundo, à exceção dos Estados Unidos. "Produzimos duas vacinas para infeções respiratórias e urinárias que são os principais produtos para exportação e um anti-hemorrágico. Depois para Portugal temos o Aero-OM", diz António Jordão, diretor-geral da OM Pharma Portugal & Head of Southern Europe Vifor Pharma, que salienta que os números das exportações devem ser lidos com cautela, há valor gerado através da exportação paralela e não por criação de valor no país.
Feita a ressalva, salienta o desenvolvimento que o país tem registado e que contribuiu para a subida do valor das exportações. "Temos muitas empresas como a Bial que está na área dos inovadores e tem vindo a crescer, há uma parte importante de produção para terceiros e outra de genéricos. Temos uma estrutura de custos de produção muito equilibrada, com pessoas com muita qualidade e experiência e custos de produção mais baixos que outros países, cumprimos prazos. Foi isso que nos permitiu ganhar o concurso para a nova fábrica", explica, referindo que os principais mercados de exportação da empresa são a Europa, principalmente Itália, América-Latina, Médio Oriente e alguns países da Ásia, tendo também contacto com os países africanos de língua portuguesa. A receita para o futuro é "apostar em inovação e em investigação para se chegar a preços mais competitivos e fazer crescer o valor do mercado de exportações".
Para Joaquim Cunha, diretor executivo da associação Health Cluster Portugal, o aumento das exportações "é o resultado do trabalho feito ao longo dos últimos anos, que demora a aparecer pelo processo de desenvolvimento dos medicamentos inovadores, a própria afirmação externa é um processo lento de consolidação". "Uma vez que a máquina comece a funcionar, anda por ela. Estamos a tirar benefícios disso", diz, salientando a exigência de mercados tão grandes como o dos Estados Unidos, que se torna também "um bom cartão de visita" da capacidade portuguesa. Quanto ao futuro, fala de dois objetivos: "Olhar para a saúde como um setor que gera riqueza, como motor de desenvolvimento de emprego, de exportação. Outro é trabalhar a imagem externa do país no seu todo, a reputação da prestação de cuidados, a produção científica, mostrar que a saúde é uma aposta do país."