Vacinas que previnem pneumonia em crianças podem reduzir doença em idosos
O estudo foi realizado por uma equipa de investigadores e médicos do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e visava aferir o impacto da vacinação das crianças nos internamentos hospitalares de idosos por pneumonia pneumocócica, doença infecciosa grave nos pulmões causada pela bactéria Pneumococo.
A médica de saúde pública no INSA Ana Paula Rodrigues, e uma das autoras do estudo, explicou que "interessava ver" nos idosos "o impacto da vacinação das crianças nos primeiros anos de vida", porque os idosos "são os mais afetados por pneumonias".
Além disso, esclareceu, as vacinas, todas elas, têm "um efeito protetor" na pessoa que a tomou, mas também nas demais ao reduzir a circulação de agentes infecciosos (como bactérias ou vírus) entre a população.
Para o estudo, a equipa do INSA, coadjuvada por uma outra do Hospital Pulido Valente, em Lisboa, analisou o impacto de duas vacinas pneumocócicas conjugadas e as mais usadas em Portugal: uma contra sete serotipos (grupos) de Pneumococo e outra contra 13 serotipos (os sete anteriores e mais seis).
O período avaliado decorreu entre 1998/1999 (quando as vacinas ainda não eram usadas em Portugal) e 2015/2016 (quando as vacinas já eram utilizadas e uma delas, a que protege contra os 13 serotipos de Pneumococo, foi incluída no Programa Nacional de Vacinação).
Na sua metodologia de trabalho, a equipa do INSA socorreu-se das taxas de cobertura de vacinação das crianças (com os dois grupos de vacinas pneumocócicas) e da base de dados dos hospitais públicos de Portugal continental, onde viu o número de idosos (com 65 ou mais anos) internados com pneumonia pneumocócica.
A taxa de cobertura das mesmas vacinas em idosos era baixa.
A partir dos dados e de modelos matemáticos, os investigadores "fizeram um cálculo para a população portuguesa", disse Ana Paula Rodrigues.
O estudo conclui que houve um decréscimo dos internamentos hospitalares de idosos com pneumonia pneumocócica após o uso das vacinas pneumocócicas nas crianças, assinala o INSA numa nota informativa.
Os autores do estudo estimam que, em 2004/2005, "tenham sido prevenidos cerca de 4,6 internamentos por dez mil habitantes" nas pessoas com 65 ou mais anos, depois de, em 2001, ter sido introduzido em Portugal um dos grupos de vacinas (contra 7 serotipos de Pneumococo).
Em 2015/2016, após a inclusão no Programa Nacional de Vacinação de um outro grupo de vacinas pneumocócicas (contra 13 serotipos da mesma bactéria), terão sido evitados "aproximadamente 2,9 internamentos por dez mil habitantes" na população idosa.
"Os resultados apontam para a existência de um eventual efeito indireto das vacinas pneumocócicas conjugadas na redução da pneumonia pneumocócica" nos idosos, devido à "redução da circulação" dos agentes infecciosos em resultado da "vacinação em idade pediátrica", refere o INSA.
A vacina pneumocócica conjugada está indicada para todas as idades, sendo gratuita para as crianças nascidas desde 01 de janeiro de 2015 e para os adultos com doenças crónicas e considerados de alto risco, nomeadamente os portadores do vírus da imunodeficiência humana (VIH/sida) e de certas doenças pulmonares obstrutivas, além do cancro do pulmão, de acordo com o portal do Serviço Nacional de Saúde.