Um terço dos bebés portugueses não faz suplementação de vitamina D
Raquitismo e osteoporose em idade adulta são a principais consequências do défice de vitamina D no organismo. Estudos recentes têm, no entanto, demonstrado que a função da vitamina D, considerada uma pro-hormona, vai muito além da influência na formação de massa óssea. “Existem receptores para esta vitamina (VDR) em, pelo menos, 38 tecidos do corpo humano, nomeadamente no tecido adiposo, supra-renal, ósseo, cerebral, mama, cartilagem, cólon, epidídimo, folículos pilosos, intestino, fígado, pulmão”, descreve, entre outros, a pediatra Carla Rêgo. Facto que “amplifica a importância de adequados níveis desta vitamina” na promoção da saúde ao longo de toda a vida.
De acordo com a pediatra do Hospital CUF Porto, as evidências apontam para um maior risco de ocorrência de patologia cardiovascular, inflamatória, neoplásica, respiratória, ginecológica e neurológica em situações de défice de vitamina D, em idade adulta.
A suplementação desta pro-hormona é, portanto, essencial para a manutenção de um organismo saudável desde o nascimento.
“A espécie humana está geneticamente programada para produzir vitamina D maioritariamente através da pele, na sequência da sua exposição à radiação solar UV”, começa por explicar a pediatra acrescentando que 90% da vitamina que o organismo necessita para o seu bom funcionamento é sintetizado de modo endogeno.
“Os restantes 10% (...) são provenientes de uma alimentação variada e equilibrada, que deve incluir uma ingestão regular de alimentos ricos nesta vitamina, tais como os peixes gordos (salmão, sardinha, arenque, cavala) fígado de peixe, gema de ovo, cogumelos e lácteos”, refere.
Não obstante, tendo em conta que a exposição solar está formalmente contraindicada pelo menos até ao final do terceiro mês de vida e “considerando que os primeiros anos de vida são os anos em que mais se cresce e, consequentemente, são os que apresentam maior velocidade de formação óssea” é, de acordo com esta especialista, “fácil entender que é determinante o cumprimento da suplementação farmacológica” durante o primeiro ano de vida.
Após este período, explica, a suplementação deve ser recomendada “em certas situações de doença crónica (renal, intestinal, óssea...)”, em casos de obesidade, peles escuras, dietas vegetarianas que excluam os produtos lácteos ou estilos de vida que comprometam a sua síntese cutânea.
Entre a 2ª semana e o primeiro ano de vida, recomenda-se a suplementação diária de 400 UI de vitamina D, “independentemente do lactente efetuar uma dieta exclusivamente láctea até ao 6º mês de vida” ou já terem sido introduzidos outros alimentos.
Apesar desta recomendação, alguns estudos sugerem que esta medida seja estendida ao 2º e 3º ano de vida, algo que Carla Rêgo admite apenas em casos muito concretos.
“A partir dos 12 meses meses a criança é inserida na dieta familiar. Como referi a dieta deve ser variada e equilibrada, contemplando alimentos em vitamina D bem como o aporte diário de 300 a 500 ml de lácteos (leite, iogurte ou queijo), de forma a garantir o aporte de cálcio e vitamina D adequados ao crescimento e a uma série de funções orgânicas”, explica acrescentando que na base da conclusão destes estudos possa estar a recomendação da não exposição solar direta a crianças com menos de três anos.
"Após o 1º ano de vida, a zona geográfica de residência, o estilo de vida, o equilíbrio alimentar e nutricional determinarão a necessidade de suplementação", afirma a pediatra Carla Rêgo
De acordo com a especialista, cabe ao profissional de saúde avaliar, em cada consulta, a necessidade de suplementação através da deteção dos grupos de risco de carência em vitamina D já referidos: obesidade, pele escura, inactividade ou pouco exposição solar, para além de certas patologias, “ponderando nesses casos a suplementação nos meses de outono e inverno em associação à promoção de um estilo de vida saudável e a hábitos de vida alimentares saudáveis”.
Falta de informação pode estar na origem do não cumprimento das recomendações
O Estudo do Padrão Alimentar e de Crescimento Infantil (EPACI Portugal 2012) revela que cerca de 31% dos lactentes portugueses não efetuam suplementação regular de vitamina D.
“A necessidade de haver uma rotina de administração diária nesta fase da vida e a falta de informação acerca da sua importância poderão estar na origem desta elevada percentagem de incumprimento”, tenta justificar a pediatra Carla Rêgo reafirmando que “cabe aos pais conhecerem as consequências para a saúde dos seus filhos e cabe aos profissionais de saúde, em cada consulta de saúde infantil, confirmarem o cumprimento da terapêutica e reforçarem a sua importância”.
Foi com o objetivo de chamar a atenção para a importância da suplementação no primeiro ano de vida, e ajudar a contrariar este número, que foi criada a plataforma “Missão Diária: Ser Mãe” (https://www.facebook.com/missaodiariasermae). À distância de um clique é possível aceder a uma vasta informação sobre tema, esclarecer dúvidas e ficar a par das últimas novidades.
Essencial para um crescimento saudável ao longo da vida, para além de assegurar uma adequada formação de massa óssea, esta vitamina é determinante para a redução do risco de várias doenças crónicas.