Um composto de chá verde poderá melhorar estado de certas trissomias
"Se bem que não se trate de um tratamento curativo, é a primeira vez que um tratamento demonstra alguma eficácia na síndrome", sublinha a equipa de investigadores de Barcelona, que realizou testes clínicos em 84 pacientes com trissomia, com idades entre os 16 e os 34 anos.
A trissomia 21, ou síndrome de Down, é uma anomalia cromossómica para o qual não existe qualquer tratamento curativo e que provoca deficiências intelectuais variáveis entre as pessoas afetadas, cerca de uma em cada mil no mundo.
No entanto, graças a um seguimento médico adaptado, a esperança de vida média dos pacientes com trissomia já ultrapassa os 50 anos nos países desenvolvidos.
Os investigadores utilizaram um dos antioxidantes do chá verde, a epicatequina galato (EGCG, na sigla francesa), devido à sua potencial capacidade de inibir a dominância de um dos genes presentes no cromossoma 21 (DYRK1A) - a epicatequina é um fitonutriente da família dos polifenóis, com uma forte ação antioxidante.
O gene está ligado à plasticidade cerebral (capacidade de adaptação cerebral) e a certas capacidades intelectuais.
Segundo Rafael de la Torre, um dos investigadores, os pacientes tratados durante 12 meses com o antioxidante do chá verde, combinado com uma estimulação cognitiva permitiram que algumas das capacidades intelectuais, nomeadamente a memória de reconhecimento visual, melhorasse em relação aos que apenas receberam um placebo.
O efeito persiste ao longo de seis meses após o tratamento.
Os investigadores esperam confirmar os resultados quando analisarem a molécula em crianças cuja plasticidade cerebral é maior.
Vários especialistas já saudaram o interesse do estudo, mas mostraram-se prudentes, argumentando com as dificuldades em medir os benefícios intelectuais entre os pacientes.
Maria-Claude Potier, do Instituto do Cérebro e da Medula (ICM), com sede em Paris, manifestou-se, porém, contra "toda a automedicação com chá verde, dado que as diferentes variedades contêm quantidades também diferentes da substância chave.
A investigadora do ICM insistiu, de qualquer forma, na necessidade de se fazerem estudos de toxicidade antes de se prosseguirem as investigações sobre os produtos.