Úlcera de Buruli pode ter-se espalhado com as alterações climáticas
Segundo resultados de uma pesquisa feita por pesquisadores da Universidade de Bournemouth, os surtos de úlcera de Buruli “podem ser desencadeados por mudanças climáticas, com chuvas a desempenharem um grande papel na disseminação da doença”.
A úlcera de Buruli, considerada uma das principais doenças tropicais negligenciadas, é causada por uma microbactéria capaz de produzir uma toxina que pode levar à destruição da pele e dos tecidos moles, com a formação de grandes úlceras que afectam as pernas ou os braços.
A doença ocorre, com frequência, em indivíduos que habitam áreas próximas de leitos de reservatórios de água – rios de fluxo lento, lagoas, pântanos e lagos - mas há registo de casos que ocorreram após inundações.
O estudo estabeleceu uma ligação entre os surtos de úlcera de Buruli na Guiana Francesa, na América do Sul, e as mudanças nos padrões de chuva, incluindo eventos extremos de chuva impulsionada pelo fenómeno El Niño Oscilação Sul (ENOS), descrito como possível influenciador no aumento da ocorrência de cheias.
O investigador da Universidade de Bournemouth Aaron Morris, citado pela ScienceDaily, considerou “extremamente importante compreender como os níveis de infecção respondem a fatores climáticos, especialmente com mal-entendidos que existem sobre doenças emergentes, tais como a úlcera de Buruli”.
“Essas ligações ajudam-nos a lançar luz sobre a sua ecologia e permite-nos prever os surtos com mais precisão. Eles também são vitais para compreender como as mudanças climáticas afectarão a dinâmica e o surgimento de patogenias no futuro”, acrescentou Aaron Morris.
A investigação sobre a úlcera de Buruli, realizada na Guiana Francesa, centrou-se na relação entre biodiversidade e a propagação de doenças em seres humanos, o que abre caminho para futuras pesquisas sobre o impacto da biodiversidade e mudanças climáticas na propagação de doenças.
O primeiro caso africano da úlcera de Buruli foi relatado em 1950 no antigo Zaire, actual República Democrática do Congo, mas, nos últimos anos, a Organização Mundial da Saúde registou a ocorrência da doença em três dezenas de países do continente americano, asiático e do Pacifico Ocidental, principalmente, em regiões tropicais e subtropicais.
A enfermidade é reconhecida como um problema de saúde pública no Uganda, na Nigéria, Gabão, Gana, Camarões, Libéria, Costa do Marfim, Malásia, Nova Guiné, Togo, Guiana Francesa e República do Benin.