UE tem que responder a vontade de os doentes tomarem as suas próprias decisões
Falando na abertura de uma conferência na Universidade de Lisboa, Carlos Moedas indicou que as pessoas "querem informação, e depois, com base nessa informação, tomar decisões", nomeadamente no setor da saúde.
"Isso é uma mudança a que temos de estar atentos, criar maneiras de as pessoas terem confiança nessa informação", para que possam tomar decisões certas, defendeu.
Carlos Moedas afirmou que, ao contrário do que acontecia há 20 ou 30 anos, em que as pessoas iam ao médico para que este "lhes dissesse o que fazer", hoje os pacientes confrontam os médicos com conhecimentos que os próprios clínicos não têm porque têm muitos doentes para acompanhar.
O papel da ciência, especialmente na compilação e análise de dados, é aprofundar a tecnologia que hoje permite às máquinas ler, interpretar informação e ajudar os médicos no diagnóstico.
O comissário para a Investigação, Ciência e Inovação citou o exemplo de "certos computadores que conseguem observar uma radiografia e detetar um cancro mais facilmente que uma pessoa, que tem um olho humano", sujeito a falhas.
Da parte dos médicos, a reação a este tipo de inovação científica é dizer: "Extraordinário! Posso concentrar-me em outras partes da minha profissão", afirmou Carlos Moedas.
"Acho que o princípio político que temos que ter para o futuro, em relação à inteligência artificial, é que as máquinas devem estar presentes, não para nos substituir mas para nos ajudar a sermos melhores", salientou Carlos Moedas.
O responsável europeu abriu os painéis de discussão em torno do consórcio Lisbon Living +, um consórcio criado pela Universidade de Lisboa dedicado à inovação em saúde e envelhecimento composto por académicos, autarcas, responsáveis da área social e associações de doentes.
Carlos Moedas afirmou que a vontade das instituições europeias é "favorecer esta cultura" de se juntarem várias disciplinas, e para isso se está a construir uma "cloud" de armazenamento virtual de informação para que os "quase 1,7 milhões de cientistas europeus possam arquivar todos os seus artigos, mas que possam também ter serviços de análise" de dados garantidos por máquinas capazes de "deep learning", ou seja, de ler e interpretar dados.
Da parte da União Europeia, com a qual Carlos Moedas considera que os cidadãos perderam "a ligação direta, porque há demasiados intermediários que ficam com o crédito", há trabalho feito a dar aos cidadãos mais informação para que tomem as decisões mais acertadas, como a divulgação dos malefícios do abuso de antibióticos.
"Foi obra da União Europeia, desde o ano 2000, conseguir pôr todos os hospitais da Europa a enviar dados sobre a utilização dos antibióticos", indicou.
O comissário europeu para a Ciência afirmou que "os problemas não têm fronteiras, há agora esta loucura do populismo e do extremismo, de fechar fronteiras" mas os maiores problemas, como a saúde, o clima ou a segurança, são globais, considerou.