Na maioria dos casos o diagnóstico é tardio

Tumores Neuroendocrinos: se não pensarmos neles, não os identificamos

Atualizado: 
12/11/2018 - 11:23
São tumores raros, de difícil diagnóstico uma vez que facilmente se confundem com outras entidades clínicas. De acordo com as estatísticas internacionais, um diagnóstico correto de NET pode levar em média 5 a 7 anos.

Os tumores neuroendócrinos (NET) são neoplasias derivadas das células enterocromafins, distribuídas difusamente pelo organismo, e por isso podem ter origem em diversos locais (tabela 1).

São tumores raros (embora a sua incidência tenha vindo a aumentar), de difícil diagnóstico, sendo frequentemente confundidos com outras entidades clínicas

(como por exemplo: síndrome do cólon irritável, úlcera péptica, distúrbio de ansiedade, asma, …). É por isso, que os NET têm como símbolo internacional a zebra.

De acordo com as estatísticas internacionais, um diagnóstico correto de NET pode levar em média 5 a 7 anos. Se os NET forem detetados no início do seu desenvolvimento, muitas vezes podem ser curados através da cirurgia. No entanto, em cerca de 60 a 70% dos casos o diagnóstico é tardio e o tratamento não é curativo, embora, muitas vezes, os sintomas possam ser controlados por vários anos.

Atualmente, os NET são classificados de várias maneiras, conforme a origem, a expressão hormonal e o grau histológico.

Em relação à sua origem os NET mais comuns são os do sistema gastrointestinal, sendo o intestino delgado o local mais frequente, seguido do reto, cólon, estômago, pâncreas e apêndice. Ainda em relação à localização, também podem ser classificados de acordo com o tecido de origem embrionária (tabela 1).

Devido à sua origem nas células neuroendócrinas, os NET têm a particularidade de poder secretar hormonas bioativas ‐ NET funcionantes‐ levando a uma clínica específica e que pode muitas vezes sugerir a localização do tumor primitivo. Como exemplo temos a produção de:

  • Serotonina, responsável por um dos sintomas mais característicos síndrome carcinoide, que produz diarreia, rubor facial e eventualmente palpitações e falta de ar ou tosse),
  • Gastrina, que aumenta a acidez gástrica pelo estômago, provocando úlceras pépticas; Insulina, que reduz os níveis de glicose no sangue;
  • Glucagon, que provoca hiperglicemia;
  • Catecolamina, ligada a hipertensão;
  • Peptídeos intestinos vasoativos (VIP), que causam diarreia;
  • Somatostatina, que inibe quase todos os hormonas do intestino, diminuindo o peristaltismo e prejudicando a absorção de nutrientes.
  • Entre muitas outras hormonas…

Os NET não funcionantes são tumores que apesar de poderem produzir hormonas não causam sintomas pois estas são biologicamente inativas. Estes crescem lentamente, atingindo grandes dimensões na altura do diagnóstico e a sintomatologia deve‐se fundamentalmente ao efeito de massa.

Em termos histológicos, os NET de grau 1 tem crescimento mais lento, menor proliferação celular e melhor prognóstico; os de grau 2, são mais heterogéneos clinicamente e de maior proliferação; e os carcinomas neuroendócrinos, pouco diferenciados (grau 3), são caracterizados por um alto índice de proliferação e comportamento mais agressivo.

Quando suspeitar de um NET?

Alguns dados permitem‐nos colocar a hipótese dos tumores neuroendócrinos do tubo digestivo (os TNE mais frequentes) com algum grau de suspeição:

  • Diarreia crónica, principalmente noturna, principalmente se associada a hipocaliémia (baixa de potássio);
  • Flushing não associado a hipersudorese;
  • Insuficiência tricúspide sem causa aparente;
  • Hipoglicémia em jejum em doente sem diabetes;
  • Diabetes ligeira a moderada de início recente em individuo sem fatores de risco;
  • Úlcera péptica recorrente;
  • Litíase biliar em doente com massa pancreática;

entre outros..

Dada a heterogeneidade em termos de localização e diversidade na sua forma de apresentação, o diagnóstico clínico dos tumores neuroendócrinos é complexo e deve ser abordado por uma equipa multidisciplinar que inclua a Oncologia, a Endocrinologia, a Gasteroenterologia, a Pneumologia, a Cirurgia, a Medicina Nuclear, a Imagiologia, Anatomia Patológica, a Medicina Interna e eventualmente a Urologia.

Autor: 
Dra. Catarina Saraiva - Endocrinologista Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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