Estudo

Tratamentos anti-idade podem ser viciantes e perigosos

O número de mulheres entre os 19 e os 34 anos a realizar este tipo de intervenções aumentou 41%. O objetivo é evitar marcas e rugas que ainda nem sequer apareceram numa obsessão que pode ser perigosa.

As gerações mais novas acreditam que quanto mais cedo se começar a aplicar botox, melhor se vai conseguir prevenir o surgimento de marcas que ainda nem sequer apareceram no rosto.

Os últimos dados levantados pela International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS) contaram 20 milhões de intervenções realizadas em todo o mundo só em 2014. Desses 20 milhões, quase oito correspondem aos chamados tratamentos flash anti-idade: a toxina butulínica (botox) e os preenchimentos de ácido hialurónico. Dois anos depois, os números serão muito superiores e, em conjunto, essas intervenções representam o primeiro lugar das mais realizadas no mundo nos dias de hoje, escreve o Observador.

Numa cultura assente na imagem corporal, poderemos estar a alimentar uma tendência perigosa?

O botox pode reduzir sintomas de depressão ou, afinal, é um vício?

No início de 2016, um estudo realizado pela universidade de Texas-Austin trouxe a público uma teoria positiva: 9 em cada 10 participantes mostraram sinais de redução nos sintomas de transtornos de depressão após injeções de botox.

No entanto, novos dados tornados públicos este mês vieram contradizer este estudo e alertam para os perigos de estarmos perante uma nova obsessão: a idade. De acordo com os dados da American Society for Aesthetic Plastic Surgery, o número de mulheres entre os 19 e os 34 anos a realizar este tipo de intervenções aumentou 41 por cent0 desde 2011, tendo também sido visível um aumento por parte dos homens que, agora, representam 10 por cento do total de utilizadores de botox.

Citada pelo jornal britânico The Guardian, Dana Berkowitz, professora de sociologia da Universidade do Estado do Louisiana e autora do livro Botox Nation: Changing the Face of America (Geração Botox: Mudando a Cara da América) defende que as mulheres estão erradas quando acreditam que o botox é preventivo e que, para piorar, os próprios médicos estão a fomentar esta ideia. Berkowitz questiona mesmo se os médicos estarão a criar comportamentos viciantes ao sugerirem a sua aplicação cada vez mais cedo.

“O problema é que o botox só dura entre quatro a seis meses, uma vez que se uma pessoa começa a ver linhas, vai voltar imediatamente ao cirurgião para repetir. As mulheres que entrevistei falaram sobre o viciante que se torna”, diz Berkowitz ao The Guardian.

Mas há ainda uma outra parte do problema, ainda mais grave: o universo da cosmética (dermatologistas, cirurgiões, influentes digitais) está a fomentar a ideia de que quanto mais cedo se começar a aplicar botox, melhor se vai conseguir prevenir o surgimento de marcas que ainda nem sequer apareceram no rosto. Berkowitz destaca uma frase que a impressionou: “É como quereres limpar o quarto antes que fique demasiado sujo”.

Em Portugal, os preços para cada sessão de botox rondam os 300 a 400 euros e, atualmente, vemos cada vez mais jovens com pouco mais de 20 anos com o rosto já “artilhado” para o futuro.

“Eu uso botox porque é preventivo. Tenho uma amiga que começou a usar aos 22 anos e, assim, as rugas nem sequer se formam” é uma outra citação que Berkowitz retirou das suas entrevistas.

Para juntar ao problema, num artigo publicado em agosto de 2016, o Observador já tinha falado dos perigos destas intervenções a preço de saldo e dos cuidados que são necessários perante as “festas do botox”, um conceito famoso que também já existe em Portugal, muito apelativo para os mais jovens e onde se chegam a dar injeções a 25 euros.

No seu livro, Dana Berkowitz critica este conceito preventivo porque é perigoso: continua a criar nas mulheres a ideia de que não correspondem a um qualquer padrão e que a idade, ao invés de ser natural, é algo de que devemos fugir a sete pés.

Fonte: 
Observador
Nota: 
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