Estudo

Tratamento direcionado reduz tumores cerebrais pediátricos

A quimioterapia e a radiação são tratamentos eficazes contra o cancro, pois conseguem eliminar células em rápida divisão, incluindo células tumorais. Mas para as crianças – cujos corpos ainda estão em crescimento – esses tratamentos podem causar danos ao longo da vida. Esta é uma questão particularmente importante para crianças com cancro cerebral, pelo que os investigadores estão a trabalhar arduamente de forma a encontrar tratamentos que reduzam os efeitos secundários sem perderem a sua eficácia.

Cientistas do Sanford Burnham Prebys Medical Discovery Institute, nos Estados Unidos, relataram que uma terapia direcionada que bloqueia uma proteína chamada LSD1 foi capaz de encolher tumores em animais com uma forma de cancro cerebral pediátrico conhecido como meduloblastoma.

Os inibidores de LSD1 estão atualmente a ser avaliados em ensaios clínicos para outros tipos de cancro.

O estudo foi publicado na revista Nature Communications.

“Sujeitar uma criança em desenvolvimento à quimioterapia e radiação pode ter efeitos devastadores a longo prazo. Algumas crianças até se tornam deficientes intelectuais como resultado do tratamento, e não podem ir à faculdade, viver sozinhas ou alcançar outros marcos importantes”, explicaram os cientistas.

“O nosso laboratório está a trabalhar para entender os caminhos genéticos que conduzem ao meduloblastoma, de forma a que possamos encontrar melhores formas de intervir e tratar os tumores. Este estudo mostra que um tratamento personalizado baseado no tipo de tumor específico de um paciente pode estar ao nosso alcance”.

O meduloblastoma é o tumor cerebral pediátrico maligno mais comum. Mais de 350 crianças são diagnosticadas com o cancro a cada ano, só nos Estados Unidos, sendo que o tratamento padrão envolve cirurgia para remover o tumor seguido de quimioterapia e radiação.

Um terço das crianças acaba por sucumbir ao cancro; para os dois terços das crianças que sobrevivem, muitos têm efeitos secundários severos e duradouros derivados do tratamento, incluindo comprometimento cognitivo e aumento do risco de desenvolvimento de outros tipos de cancro devido aos danos causados ao ADN.

Nos últimos anos, os cientistas descobriram que o meduloblastoma não é uma doença, mas quatro subtipos distintos que diferem nas mutações que os causam, nas células das quais o cancro surge e na probabilidade de sobrevivência a longo prazo.

Um subtipo chamado meduloblastoma do Grupo 3 é a forma mais letal da doença.

Este trabalho baseia-se num trabalho anterior que estudou o meduloblastoma do Grupo 3, no qual os cientistas demonstraram que um fator de transcrição (uma proteína que se liga ao ADN e ativa genes) chamado GFI1 é ativado em cerca de um terço dos tumores do Grupo 3.

No estudo anterior, os cientistas usaram abordagens de análise genética para criar modelos de meduloblastoma em ratos de forma a confirmarem que o GFI1 é crítico para esses tumores – um indicador importante que vale a pena perseguir.

No entanto, os fatores de transcrição são inerentemente difíceis de atingir terapeuticamente, ganhando o apelido de “indestrutível”.

Assim, os cientistas procuraram por um cúmplice do GFI1 – uma proteína que interage com ele e que pode ser mais facilmente direcionada – e descobriram um modificador epigenético chamado lisina demetilase 1 (LSD1).

“O LSD1 parece ser o calcanhar de Aquiles deste cancro”, disseram os cientistas que acabaram por confessar ter tido a sorte de já existir “um inibidor de LSD1 que está a ser testado em ensaios clínicos para outros tipos de cancro”.

Os cientistas obtiveram um inibidor de LSD1 e testaram-no nas cobaias com meduloblastoma do Grupo 3 ativado por GFI1.

O estudo mostrou que o fármaco diminuiu drasticamente o tamanho dos tumores cultivados sob a pele dos animais, reduzindo o cancro em mais de 80%, o que sugere que o medicamento também pode ser eficaz contra os tumores dos pacientes se puder ser administrada no cérebro.

“O nosso laboratório está agora a trabalhar em tecnologias de distribuição de fármacos que possam transportar esse medicamento através da barreira hematoencefálica até ao tumor. Se essas abordagens forem bem-sucedidas, um inibidor de LSD1 pode ser uma terapia promissora direcionada para crianças com meduloblastoma do Grupo 3 dirigido por GFI1”.

Fonte: 
PIPOP
Nota: 
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