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ONU cria missão de emergência para combater a epidemia
As Nações Unidas anunciaram hoje a criação de uma missão de emergência para combater o Ébola com a função de coordenar todos os esforços internacionais para lutar contra a epidemia da doença em África. O anúncio foi feito pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, durante a reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas convocada especialmente para analisar a epidemia do Ébola na África Ocidental.
“Decidi estabelecer uma missão de saúde de emergência das Nações Unidas, combinando a perspectiva estratégica da Organização Mundial de Saúde com uma capacidade de logística e operativa muito firme”, afirmou.
A Missão das Nações Unidas para a Resposta de Emergência contra o Ébola (UNMEER, em inglês) vai enviar equipas avançadas para os países afectados antes do final deste mês, sublinhou o secretário-geral da ONU. Esta missão terá cinco prioridades: travar a epidemia, assistir os infectados, garantir a prestação de serviços básicos, preservar a estabilidade sanitária e prevenir futuras epidemias. “Esta situação sem precedentes requer medidas sem precedentes para salvaguardar a paz e a segurança”, afirmou Ban Ki-moon, no discurso realizado no início da sessão no Conselho de Segurança.
Este órgão da ONU, que tem a maior capacidade de decisão e que se reúne fundamentalmente para analisar as principais ameaças para a segurança mundial, só foi convocado anteriormente duas vezes para analisar um tema de saúde.
Ban Ki-moon disse que as duas ocasiões anteriores foram para analisar a epidemia da Sida e, como agora com o Ébola, examinar as “implicações para a segurança de um tema de saúde pública”.
“A crise do Ébola evolui para uma emergência complexa, com importantes dimensões políticas, sociais, económicas, humanitárias e de segurança”, disse. Sobre a epidemia do Ébola, declarou que “é a maior já vista no mundo”. “O número de casos duplica a cada três semanas. Somente na Libéria, agora há mais casos do que em quatro décadas de história da doença”, referiu.
O responsável descreveu as acções que os vários países anunciaram para cooperar na luta contra a epidemia. “Nenhum governo pode gerir esta crise por si só. A ONU também não o pode fazer sozinha”, assegurou Ban Ki-moon.
Novo balanço da Organização Mundial da Saúde
A febre hemorrágica Ébola fez 2.630 mortos em 5.357 casos registados na África ocidental, segundo o mais recente balanço da Organização Mundial de Saúde (OMS), hoje divulgado.
A epidemia, a mais grave desde a identificação do vírus, em 1976, iniciou-se na Guiné-Conacri no princípio deste ano. Desde então, fez 1.459 mortos em 2.720 casos na Libéria, de acordo com o balanço feito a 14 de Setembro.
Também desse dia datam os balanços da Guiné-Conacri, onde se registaram 601 mortes em 942 casos, e da Serra Leoa, com 562 mortos de entre 1.673 casos.
Os profissionais de Saúde foram particularmente atingidos, com 151 mortos.
Um foco distinto da doença está também a propagar-se numa região remota do noroeste da República Democrática do Congo (RDC), de uma estirpe diferente daquela que atinge a África ocidental.
Já matou 40 pessoas em 71 casos desde que surgiu, a 11 de Agosto, segundo um balanço datado de 15 de Setembro. Dois outros países africanos registaram igualmente casos da doença: a Nigéria, com oito mortos em 21 casos, de acordo com um balanço de 14 de Setembro, e o Senegal, com um caso diagnosticado, de um estudante da Guiné-Conacri cuja cura as autoridades senegalesas anunciaram a 10 de Setembro.
A doença, também designada como febre hemorrágica do vírus Ébola, tem uma taxa de mortalidade de quase 90%. A infecção ocorre por contacto directo com os fluidos corporais, sangue, líquidos biológicos ou secreções. O período de incubação oscila entre os dois e os 21 dias. O doente torna-se contagioso a partir do momento em que os sintomas se manifestam – apenas não o é durante o período de incubação.
Segundo a OMS, é possível dizer que não há mais transmissão de Ébola num país “42 dias depois de o último caso ser registado”.
ONU reforça operações nos países afectados com 16,8 milhões de euros
O Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou hoje que irá reforçar as suas operações na Guiné-Conacri, na Libéria e na Serra Leoa, os três países mais afectados pelo surto de Ébola, graças a contribuições de 16,8 milhões de euros.
As contribuições do Banco Mundial e Fundo internacional para a Agricultura e o Desenvolvimento (IFAD) destinam-se a apoiar a assistência alimentar nos países afectados pela epidemia de Ébola", referiu aquela agência das Nações Unidas em comunicado.
Numa altura em que a comunidade humanitária internacional está a ser muito solicitada, esta contribuição irá reforçar as operações do PAM nas regiões afectadas pela pior epidemia de Ébola registada até à data, indica o documento.
Com esta contribuição, o PAM irá ajudar 1 milhão de pessoas na Guiné-Conacri, na Libéria e na Serra Leoa. Até hoje, a organização assistiu 147.000 pessoas nestes três países.
"Não podemos atender as necessidades de saúde destas comunidades sem encarar os problemas cada vez maiores da fome e da segurança alimentar (...) Acolhemos este apoio crítico, o PAM irá ajudar a atender as necessidades alimentares urgentes das famílias e das comunidades afectadas (...) sem comida nem agua não se pode combater a epidemia de forma efectiva", disse, em Roma, o director-executivo do PAM, Ertharin Cousin.
Aquela agência da ONU irá receber 14,44 milhões de euros do Banco Mundial que serão distribuídos entre as operações na Guiné-Conacri (5,48 milhões de euros) Serra Leoa (4,64 milhões de euros) e Libéria (4,32 milhões de euros. Esta doação faz parte de um programa de assistência de 105 milhões de euros aprovados pelo Banco Mundial na terça-feira. A promessa de 2,32 milhões de euros do IFAD anunciada na quarta-feira irá permitir ao PAM preservar a segurança alimentar nas comunidades locais dentro de todos os países afectados pelo Ébola.
O PAM é a maior agência humanitária internacional, cujo objectivo é a luta contra a fome, distribuindo comida em zonas em situações de emergência. Em 2013, assistiu mas de 80 milhões de pessoas em 75 países.
Equipa de sensibilização do governo é morta em vila na Guiné-Conacri
Sete responsáveis locais e jornalistas guineenses, desaparecidos terça-feira durante uma campanha de sensibilização sobre o vírus Ébola no sul da Guiné-Conacri, foram mortos por habitantes da vila de Womé, anunciou hoje o Governo.
Os sete corpos foram encontrados naquela vila, que fica próxima de N´Zérékoré, a segunda maior cidade da Guiné, numa região de floresta, declarou à rádio o ministro da Comunicação guineense, Alhoussein Kaké Makanéra. A maior parte dos habitantes de Womé fugiu da vila.
Os cadáveres, que estavam numa fossa séptica de uma escola primária, são “dos membros da delegação governamental que estavam a fazer uma campanha de sensibilização junto das populações sobre como se comportar neste período de riscos com a epidemia do Ébola”, disse à agência francesa AFP o porta-voz do Governo, Albert Damantang Camara. “É realmente triste e é duro de acreditar, mas foram mortos friamente pelos aldeões de Womé”, acrescentou o porta-voz, assegurando que o Governo fará “tudo ao seu alcance para travar e levar os responsáveis diante das autoridades judiciais competentes”.
Camara lamentou “as vítimas inocentes”, assassinadas com machetes e tiros, indicando ainda que entre os mortos estão responsáveis da área da saúde locais e jornalistas de rádio.
Os aldeãos, que atacaram e mataram os integrantes da delegação governamental, suspeitaram que a equipa de sensibilização vinha matá-los, isso porque, segundo eles, o Ébola “não é mais que uma invenção dos brancos para matar os negros”, explicou o tenente tinha Richard Haba, da polícia local. Nos confrontos de terça-feira, 21 pessoas ficaram feridas e seis pessoas foram detidas pelas autoridades policiais. No dia posterior, o Governo enviou uma outra delegação, chefiada pelo ministro da Saúde, para tentar acalmar a situação na vila.
O governante de N´zérékoré denunciou hoje numa rádio local que “pessoas na sombra manipulam as populações sob o pretexto de que o Ébola não passa de uma invenção dos brancos”.
O primeiro-ministro Mohamed Said Fofana condenou “com a mais firme energia o assassínio de cidadãos guineenses, que representavam o Estado no exercício das suas funções”, referindo que "sete corpos foram descobertos, num total de nove desaparecidos".
OMS apela a manutenção dos esforços para travar epidemia
A Organização Mundial de Saúde (OMS) apelou para que se mantenham os esforços para conter a epidemia de Ébola em África, após o assassínio de sete pessoas na Guiné-Conacri que ensinavam a população a prevenir a doença.
“Estas mortes devem ser investigadas, mas não devem deter-nos no nosso diálogo com as comunidades. Devemos continuar a explicar-lhes o nosso trabalho e a demonstrar empatia pelas vítimas, as suas famílias e a comunidade”, disse o médico Pierre Formenty, especialista da OMS para o Ébola. “De outro modo, não será possível que nos escutem e não se poderá controlar o surto”, adiantou o epidemiólogo, que regressou a Genebra após um mês na Libéria a trabalhar para deter a propagação do vírus.
“As populações das zonas rurais sofrem muito e não confiam nos governos”, referiu Formenty, adiantando que o incidente “mostra a complexidade” do que se enfrenta para travar a epidemia.