Tiroide: inchaço e rouquidão pode ser o primeiro sinal de cancro
Estima-se que, todos os anos, surjam cerca de 500 casos de cancro na tiroide, no entanto, metade fica por diagnosticar. O que contribui para o subdiagnóstico desta patologia?
Cerca de 5% dos portugueses apresentam nódulos na tiroide e destes cerca de 10% são malignos. Contudo, a maior parte deles são de pequeno volume e não são visíveis nem palpáveis. Nem todas as pessoas estão atentas e conscientes da importância da tiroide, por vezes descurando o aumento do volume do pescoço ou a tumefacção (inchaço) cervical o que atrasa o diagnóstico.
Neste sentido, quais os tipos de cancro mais frequentes e seus principais sintomas?
O cancro da tiroide mais frequente é o carcinoma diferenciado da tiroide - carcinoma papilar e folicular –: o papilar representa 70-80% de todos os cancros da tiroide e o folicular 10-15%. O carcinoma medular da tiroide é menos frequente e aparece em cerca de 5-10% dos casos e o carcinoma anaplásico é muito raro estando presente em menos de 2% dos casos.
O cancro da tiroide pode ser completamente assintomático. Contudo, o aparecimento de uma tumefacção (inchaço) na parte anterior ou lateral do pescoço de crescimento rápido, dura e pouco móvel pode ser o primeiro sinal de cancro da tiroide. Mais ainda se esta se acompanhar de rouquidão ou dificuldade em engolir.
Que causas estão associadas ao desenvolvimento do cancro da tiroide?
Não se sabe bem porque é que o cancro da tiroide aparece. Pessoas com mais de 40 anos, com familiares com cancro da tiroide ou que foram submetidas a radiações, principalmente radioterapia da cabeça ou do pescoço, têm maior probabilidade de desenvolver um cancro da tiroide.
Como é feito o seu diagnóstico?
O diagnóstico é fácil e inicia-se com a palpação cuidadosa da tiroide que se localiza na face anterior do pescoço, seguindo-se a realização de uma ecografia, exame acessível, de baixo custo e sem riscos de radiação para a pessoa. A ecografia é o exame mais sensível que permite detetar e caracterizar os nódulos da tiroide. Quando estes apresentam algumas características ecográficas que possam fazer suspeitar de malignidade ou são de maior volume (>1,5 – 2cm) devem ser submetidos a uma punção aspirativa com uma agulha fina - são retiradas células que depois de coradas com reagentes específicos e observadas ao microscópio permitem classificar o nódulo como benigno ou maligno – cancro.
Alguns especialistas referem que o cancro da tiroide é o «melhor» cancro que se pode ter. Porquê? Qual a sua taxa de sobrevivência?
O carcinoma diferenciado da tiroide, que representa mais de 90% dos casos de cancro da tiroide, tem um prognóstico excelente e uma evolução lenta, por vezes arrastada ao longo de anos.
A mortalidade do carcinoma diferenciado da tiroide (papilar e folicular) é muito baixa (estima-se em 0,5 por 100.000 pessoas por ano). A maioria dos cancros é curável – mais de 80% cura após o primeiro tratamento, especialmente se de pequenas dimensões (menos de 2 cm) e sem gânglios metastizados no pescoço. Contudo se o cancro é de maior volume, se se insinua para fora da tiroide invadindo os tecidos adjacentes, se apresenta gânglios metastizados ou metástases à distância, a sua resposta ao tratamento está dependente da especificidade deste e do timing certo, pelo que deve ser efectuado por uma equipa multidisciplinar.
O carcinoma medular não tem tão bom prognóstico e o anaplásico tem muito mau prognóstico com uma sobrevida de 6-12 meses, contudo é muito raro.
Em que consiste o seu tratamento? E quais os cuidados a ter?
O tratamento inicial é cirúrgico e geralmente toda a glândula é retirada – tiroidectomia total, mas nalgumas circunstâncias pode ser suficiente retirar apenas metade desta - hemitiroidectomia. Quando na ecografia são detectados gânglios no pescoço suspeitos de conterem células malignas do cancro da tiroide – metástases, estes são também retirados na cirurgia.
Nalguns doentes apenas o tratamento cirúrgico é suficiente. Noutros casos é necessário fazer uma terapêutica com Iodo 131 (Iodo radioactivo) para eliminar restos de tumor que eventualmente tenham ficado no pescoço ou então gânglios metastizados. O Iodo é captado pelas células da tiroide e ao longo de alguns meses provoca a sua fibrose e morte.
Em circunstâncias especiais e muito raras poderá ser necessário realizar outros tratamentos médicos com fármacos que impedem a progressão do cancro.
Se toda a glândula tiver sido retirada na cirurgia não há mais produção de hormonas e, portanto, será necessário proceder à toma diária, em jejum, de um comprimido da hormona T4 (levotiroxina). No organismo é convertida em T3. É um tratamento simples e eficaz desde que na dose certa e é para toda a vida. A dose de levotiroxina deve ser ajustada periodicamente pelo médico especialista que acompanha o doente com cancro da tiroide, caso necessário, após a realização de análises.
A cirurgia apresenta riscos? Quanto ao tratamento hormonal, quais os efeitos secundários mais frequentes?
A cirurgia apresenta os mesmos riscos de qualquer outra cirurgia: infecção, hemorragia e complicações da cicatrização e outros riscos específicos. Ao lado da tiroide passam os nervos que vão para as cordas vocais, se estes forem inadvertidamente lesados durante a cirurgia o doente pode ficar rouco ou mesmo com dificuldade em falar ou em engolir. As glândulas que controlam a concentração de cálcio no sangue e que se denominam paratiróides são quatro e localizam-se 2 por cima e por trás da tiroide e 2 por baixo e por trás dos lobos da tiroide, são de pequeno volume (grão de arroz) e se forem retiradas ou danificadas durante a cirurgia, o doente operado pode necessitar de suplementos de cálcio temporariamente ou mesmo para o resto da vida.
O tratamento hormonal deve ser dado na dose certa para cada doente. Se a hormona da tiroide estiver em excesso o doente desenvolve um hipertiroidismo – pode apresentar agitação, palpitações, alterações do humor, aumento da sudorese, emagrecimento... Se dada em doses inferiores ás necessárias o doente fica com hipotiroidismo – sente cansaço, muito sono, edemas, apatia, depressão, pele seca e aumento de peso, entre outros sintomas.
De acordo com a especialista, a maioria dos cancros é curável. Mas temos de estar atentos.
Apesar de mais de 80% dos casos de cancro da tiroide ter um prognóstico positivo, quais as principais complicações associadas a estes tumores? Qual a importância da vigilância regular e, sobretudo, do diagnóstico precoce?
Mesmo com bom prognóstico é um cancro com possibilidade de recorrência tardia, nomeadamente aparecimento de metástases nos gânglios do pescoço ou noutros órgãos como osso e pulmão, daí a necessidade de um seguimento regular e específico por um clinico com experiência nesta patologia, ou mesmo por uma equipa multidisciplinar.
Um diagnóstico precoce e um tratamento especializado permitem conseguir curar este tumor rapidamente, por vezes só com o tratamento cirúrgico ou com cirurgia e uma dose baixa de Iodo radioativo.
Por que motivo as mulheres apresentam maior risco de desenvolver alterações na tiroide e, sobretudo, nódulos malignos?
As doenças endócrinas são mais frequentes nas mulheres e as doenças da tiroide, nomeadamente o cancro, obedecem à mesma regra. Pensa-se que as mulheres terão um ambiente hormonal mais propício ao aparecimento de doenças endócrinas e também por terem maior probabilidade de aparecimento de alterações do seu sistema imunológico apresentam mais doenças autoimunes da tiroide e alguns tipos de cancro.
No âmbito do Dia da Sensibilização para o cancro da Tiroide, e em jeito de conclusão, a que sinais devemos estar atentos e quais os principais conselhos?
Pessoas com mais de 40 anos com história familiar de cancro da tiroide ou que tenham sido submetidas a radiação da cabeça e pescoço devem vigiar periodicamente a tiroide.
Sempre que alguém note o aparecimento de uma tumefacção na face anterior do pescoço deve recorrer ao seu médico de forma a realizar uma ecografia da tiroide.
A tiroide é uma glândula fundamental ao funcionamento de todas as células, tecidos e órgãos do organismo. Reconhecer a sua importância como órgão vital e estar atento a sinais de doença como aparecimento de nódulos ou “inchaços” no pescoço levam a um diagnóstico e tratamento mais precoces do cancro.