Terapêutica que melhora visão pode ser generalizada
A revista The Lancet divulgou, esta quinta-feira [16 de Janeiro], que uma equipa de cirurgiões da Universidade de Oxford, no Reino Unido, usou, com sucesso, uma técnica de terapia genética para melhorar a visão de seis pessoas com coroideremia - doença hereditária rara que causa a morte de células que detectam a luz - e que poderiam ficar cegas.
Miguel Seabra, que liderou o estudo na fase de testes em laboratório, admitiu que a terapêutica pode ser “generalizada a todos os doentes” com coroideremia “num horizonte de cinco anos, se os resultados forem confirmados” em mais doentes.
Miguel Seabra, investigador do Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e actual presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, adiantou que uma nova fase do estudo, que poderá começar no próximo ano, irá alargar o universo de doentes a testar, nomeadamente noutros pontos da Europa e no Canadá. O médico precisou que os “resultados promissores” do ensaio clínico conduzido no Reino Unido, resultam de 20 anos de trabalho, que incluíram previamente testes em laboratório com ratinhos.
Segundo o investigador, a terapia experimentada em seis doentes com coroideremia, e que agora está a ser testada com doses superiores, poderá ser alargada a outras doenças genéticas da retina que levam à cegueira, como retinites pigmentosas ou degeneração macular.
A terapia testada com êxito consistiu em introduzir um gene na retina para corrigir um defeito no ADN que provoca a perda progressiva de visão. De acordo com os resultados divulgados na revista The Lancet, os doentes revelaram, ao fim de seis meses, melhorias na visão a baixa luz, com dois deles a conseguirem ler nas linhas da tabela optométrica de Snellen (as letras vão diminuindo de tamanho de linha para linha). Um dos doentes conseguiu mesmo ver, pela primeira vez, as estrelas numa noite de verão.
Miguel Seabra clarificou que não se trata de uma “terapêutica regenerativa”, apenas “permite parar o processo degenerativo”, pelo que deve ser aplicada o mais cedo possível, sendo que, nos casos estudados, “houve um aumento da função” das células da retina “que não estavam mortas, mas que não estavam a trabalhar bem”.
O investigador assinalou que “as melhorias espectaculares” verificadas ocorreram em doentes com “uma degradação da visão maior”.
A coroideremia é causada pela mutação de um gene chamado CHM, que provoca uma alteração na camada do tecido ocular entre a esclera (a zona branca do olho) e a retina (a parte colorida).