Tabagismo: um problema de todos nós!
É fundamental relembrar e reforçar os efeitos prejudiciais do tabaco, porque os ‘números’ continuam a ser assustadores. Por outro lado, sendo este um fator de risco passível de ser modificável pela alteração do estilo de vida, deve ser incentivado que nunca é tarde demais para deixar de fumar, salientando-se o benefício clínico da cessação tabágica.
Segundo a Organização Mundial de Saúde o tabaco é responsável pela morte de cerca de metade dos fumadores, correspondendo globalmente a mais de sete milhões de óbitos por ano. Este problema atinge ainda maiores proporções, porque mais de 80% dos fumadores residem em países em vias de desenvolvimento, nos quais o crescimento populacional é exponencial.
Os mecanismos que justificam os malefícios do tabaco são diversos. Por exemplo, o tabaco é composto por mais de 4000 substâncias químicas, das quais pelo menos 250 são prejudiciais para a saúde e mais de 50 são comprovadamente cancerígenas.
Entre as diversas complicações clínicas e efeitos prejudiciais do tabaco, destacam-se pela sua gravidade e impacto prognóstico, as neoplasias e as doenças cardiovasculares. No que diz respeito às neoplasias, pode-se afirmar que o tabaco se associa ao desenvolvimento de cancro em praticamente todos os órgãos do organismo, tais como o pulmão, cólon, laringe, esófago, fígado, estômago, pâncreas, rim, bexiga, entre outros. Neste contexto, destaca-se obviamente o cancro do pulmão, causado na grande maioria (>90% dos casos) pelo tabaco. Os fumadores apresentam um risco cerca de 25 vezes superior para o desenvolvimento desta doença. Em termos respiratórios o tabaco também está na base do aparecimento de outras doenças caracterizadas por uma elevada mortalidade e morbilidade, salientando-se a doença pulmonar obstrutiva crónica (bronquite crónica ou enfisema pulmonar).
Em termos cardiovasculares o tabaco é um fator de risco major para a ocorrência de eventos graves como o acidente vascular cerebral e o enfarte agudo do miocárdio (risco 2-4 vezes superior ao dos não fumadores), as principais causas de morte global na atualidade. Neste âmbito, o tabaco despoleta diversas alterações fisiopatológicas que contribuem para o desenvolvimento de aterosclerose, contribuindo assim para a oclusão arterial progressiva originando angina de peito no caso das artérias coronárias e para a rotura de placas ateroscleróticas não obstrutivas, originando eventos agudos como o enfarte agudo do miocárdio, potencialmente fatal. Por outro lado, o tabagismo associa-se a outros fatores de risco cardiovascular, como a hipertensão arterial, a diabetes e a dislipidemia, que combinados aumentam o risco da ocorrência de complicações graves, incluindo a morte.
O espectro dos malefícios do tabaco não se esgota nestas doenças. Afeta a fertilidade e a função sexual, promove o desenvolvimento de alterações oftalmológicas como cataratas, doenças músculo-esqueléticas e durante a gravidez é responsável por múltiplas complicações. A manutenção do hábito durante a gravidez pode precipitar partos pré-termo e afetar o crescimento fetal e o desenvolvimento de diversas malformações irreversíveis e com implicações para o resto da vida.
Além dos fumadores, não se podem esquecer os efeitos clínicos prejudiciais a que os fumadores passivos estão sujeitos, incluindo o risco acrescido de complicações cardiovasculares.
Apesar de se poder afirmar que ‘quanto mais tabaco pior’, a mensagem principal de aconselhamento não deve ser ‘fume menos’, mas sim, ‘deixe de fumar’. Mesmo os fumadores com pouca intensidade (menos de 5 cigarros por dia) têm maior risco para a ocorrência destes eventos clínicos. Portanto, nunca é tarde para deixar de fumar e a cessação tabágica reduz o risco de complicações como o cancro e as doenças cardiovasculares.
No entanto, este hábito causa dependência, não sendo frequentemente fácil abandoná-lo. A motivação e a consciencialização da necessidade de deixar de fumar são passos iniciais fundamentais, mas o aconselhamento com profissionais de saúde dedicados e especializados em cessação tabágica é crucial.
Além dos efeitos para a saúde, o tabaco também acarreta um elevado impacto socioeconómico, sendo responsável por uma elevada taxa de absentismo laboral e incremento nos gastos com a saúde. Portanto, o tabaco é uma realidade que temos de combater, com implicações para todos nós, sejamos ou não fumadores. De facto, este combate não deve ser focado apenas nos fumadores e no tratamento das suas complicações, devendo ir mais longe, a começar na educação e na implementação de programas preventivos abrangentes que ultrapassem o individual e nos envolvam a todos nós enquanto sociedade.
Deixe de fumar, viva mais e melhor!