Tabagismo: parar de fumar não é apenas uma questão de força de vontade
Estima-se que o consumo do tabaco seja responsável por cerca de 90% da mortalidade por cancro do pulmão por cerca de 30% da mortalidade por outro tipo de cancros, por mais de 90% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crónica, por cerca de 30% das mortes por doença coronária e 15% das mortes por doença cardiovascular.
Para além dos efeitos do consumo de tabaco na saúde dos fumadores ativos, existe evidência científica de que as pessoas expostas ao fumo do tabaco ambiental têm maior probabilidade de contrair cancro do pulmão, doença cardiovascular bem como patologia respiratória de natureza aguda e crónica.
Sabe-se também que o consumo de tabaco durante a gravidez é lesivo para a saúde do feto e favorece o aparecimento de complicações durante o parto.
O fumo do tabaco é altamente tóxico, contém cerca de 7000 substâncias químicas diferentes das quais 50 são agentes cancerígenos. Os cigarros contêm monóxido de carbono, alcatrão, irritantes, aditivos e numerosas substâncias prejudiciais à saúde.
A grande maioria dos fumadores é dependente da nicotina e segundo vários estudos a nicotina gera tanta dependência como a heroína, a cocaína e o álcool.
Parar de fumar é um processo difícil em que as tentativas podem terminar no reatar do tabagismo várias vezes, até completa abstinência.
Parar de fumar não é apenas uma questão de força de vontade. Os fumadores têm que aprender novos mecanismos de “copping” e cortar com velhos padrões de modo a ter sucesso.
Nas consultas especializadas os fumadores dispõem de equipas treinadas com múltiplos intervenientes, com aconselhamento e apoio comportamental, terapêutica farmacológica e plano personalizado de seguimento.
Quase todos os fumadores que tentam deixar de fumar, experimentam sintomas de privação. Começam geralmente ao fim de poucas horas e podem persistir várias semanas ou meses.
A síndroma de privação da nicotina aparece quando ocorre cessação abrupta, ou redução substancial da dose de nicotina num fumador crónico, e compreende alguns dos seguintes sintomas: desejo compulsivo de fumar, irritabilidade, frustração, ansiedade, dificuldade de concentração, cansaço, impaciência, insónia, obstipação, aumento de apetite e de peso.
A dependência do tabaco é uma doença crónica, que requere intervenções repetidas e é essencial que os profissionais de saúde forneçam aconselhamento e terapêutica farmacológica apropriada, do mesmo modo que o fazem para outras doenças crónicas, como a hipertensão arterial, a diabetes, ou a hipercolesterolémia.
Parar de fumar é a melhor atitude que os fumadores podem adotar para o melhorar a sua saúde e qualidade de vida. Os fumadores que deixam de fumar antes dos 50 anos reduzem para metade o risco de morrer nos 15 anos seguintes em comparação com os que continuam a fumar. Se deixarem de fumar antes dos 30 anos é possível anular este risco.
Passadas algumas horas do último cigarro, iniciam-se uma série de benefícios para a saúde, que continuam ao longo dos anos.
Existe uma efetiva diminuição do risco de doença coronária e cerebrovascular, cancro do pulmão e outros cancros e doença pulmonar obstrutiva crónica.
Deixar de fumar reduz a incidência de sintomas respiratórios, como tosse e expetoração, bem como de infeções respiratórias como bronquite e pneumonia.
O fumador também poupa muito dinheiro: um fumador de 20 cigarros/dia pode poupar cerca de 1600 euros por ano.
A nível económico mundial, os custos que esta epidemia acarreta são devastadores. Para além dos custos em termos de saúde pública para tratar as doenças relacionadas com o tabaco, há que considerar que o tabaco mata pessoas no auge da sua produtividade, privando famílias do seu sustento e nações da sua força de trabalho.
A cessação tabágica é a curto prazo a medida mais importante, pois reduz substancialmente a morbilidade e a mortalidade das doenças associadas ao tabagismo.
É indiscutível o aumento da sobrevida e da qualidade de vida dos ex-fumadores comparativamente com aqueles que continuam a fumar.
A cessação tabágica está entre as intervenções em saúde a que apresenta melhor relação custo-eficácia.