Dia Mundial da Prevenção do Suicídio

Suicídio é segunda causa de morte em jovens adultos

Atualizado: 
09/09/2016 - 17:29
De acordo com a Organização Mundial de Saúde mais de 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos. E para cada caso fatal há pelo menos outras 20 tentativas fracassadas. Para assinalar a data, instituída em 2003, que alerta para aquele que é já considerado um importante problema de Saúde Pública, a psiquiatra Ana Peixinho descreve os fatores de risco e destaca alguns sinais de alarme.

Todos os anos mais de 800 mil pessoas põem termo à vida e um número muito superior faz tentativas de suicídio.

Cada suicídio é uma tragédia que afeta a família e a comunidade com efeitos a longo prazo em quem vive de perto com esta realidade. O suicídio surge em qualquer faixa etária sendo a segunda causa de morte na faixa etária dos 15 aos 29 anos (2012), só ultrapassada pelos acidentes rodoviários. A partir dos 70 anos, verifica-se um aumento significativo na taxa de suicídio, que triplica o seu valor.

O suicídio não ocorre exclusivamente em países desenvolvidos, mas é um fenómeno global que ocorre em todas as regiões do mundo. De facto, 75% dos suicídios ocorre em países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento (2012).

Em Portugal, a taxa de mortalidade por suicídio em 2014 foi de 11,7 por 100 mil habitantes, enquanto em 2012 e 2013 foi de 10,1, por 100 mil habitantes.

Os homens apresentam uma taxa de suicídio três vezes superior.

Existe ainda uma distribuição geográfica marcada no suicídio, que é tradicionalmente menor no Norte e maior na região Sul, embora esta variação tenha vindo a atenuar-se.

Por tudo isto, o suicídio é considerado um importante problema de Saúde Pública, que pode ser prevenido com intervenções multidisciplinares adequadas, baseadas na evidência e, habitualmente, pouco dispendiosas.

Quem está em risco?
O risco entre suicídio e doença mental (particularmente Síndrome Depressivo e Perturbação do Uso de Álcool) está bem estabelecido nos países desenvolvidos. No entanto, muitos suicídios decorrem de situações de impulsividade em momentos de crise com dificuldade em lidar com fatores stressantes externos, como dificuldades financeiras, roturas conjugais ou dor e doença crónicas.

Por outro lado, situações de conflito, catástrofes, violência, abuso ou luto e o próprio isolamento social estão fortemente associados a comportamentos suicidários.

As taxas de suicídio são superiores em grupos vulneráveis, como refugiados e populações migrantes, indigentes, homossexuais, bissexuais, transsexuais e presos.

No entanto o maior fator de risco para suicídio é uma tentativa prévia.

Métodos de suicídio
Calcula-se que cerca de 30% dos suicídios se devem a auto-envenenamento com pesticidas, a maioria dos quais ocorre em zonas rurais de países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. Outros métodos frequentes são o enforcamento e a utilização de armas de fogo.

É importante reconhecer os métodos mais utilizados para definir estratégias de prevenção eficazes ao seu acesso.

Prevenção e controlo
A prevenção do suicídio engloba medidas a nível comunitário e individual que incluem:

- Redução do acesso aos meios de suicídio (pesticidas, armas de fogo e algumas medicações)

- Introdução de políticas de consumo de álcool que reduzam o seu consumo lesivo

- Identificação precoce, tratamento e prestação de cuidados aos indivíduos com Doença Mental e Perturbação do Uso de Álcool, dor crónica e episódios de stress emocional agudo

- Follow up dos indivíduos que fizeram tentativas de suicídio prévias e disponibilização de apoio comunitário

O suicídio é um tema complexo e as medidas para a sua prevenção requerem coordenação e colaboração entre vários sectores sociais incluindo saúde, educação, agricultura, finanças, justiça e defesa.

Estigma e tabu
O estigma, particularmente em redor da Doença Mental e do Suicídio, faz com que muitas pessoas que pensam pôr termo à vida ou que já o tentaram não procurem ajuda especializada.

A prevenção do suicídio não tem sido adequadamente conduzida devido à falta de consciência do suicídio como um grave problema de saúde pública e do tabu em várias sociedades para o discutirem. Até à data só alguns países incluíram a prevenção do suicídio nas suas prioridades de políticas de saúde.

Aumentar a consciência da comunidade e acabar com o tabu é fundamental para progredir na prevenção do Suicídio.

Fatores de Risco: Características que predispõem um individuo a considerar, tentar ou cometer suicídio

Tentativas de Suicídio prévias

-  História de Suicídio na família

-  Abuso de Substâncias

-  Perturbações de Humor (Síndrome Depressivo, Doença Bipolar)

-   Acesso facilitado a métodos letais

-   Fatores Stressantes Externos (dificuldades financeiras, roturas conjugais, catástrofes, violência, luto…)

-  História de trauma ou abuso

-  Doença crónica, incluindo dor crónica

-  Exposição ao comportamento suicidário de terceiros

Fatores protetores: Características que diminuem a probabilidade de um individuo considerar, tentar ou consumar o suicídio

- Acompanhamento em Saúde Mental, fácil acesso a diferentes intervenções clínicas

- Relações estruturadas de amizade, familiares e comunitárias

- Capacidade de resolução de problemas e conflitos

- Fácil acesso aos cuidadores (ex: chamada telefónica de follow up do profissional de saúde)

Sinais de alarme: indicam risco imediato de cometer suicídio.

- Falar ou escrever frequentemente sobre morte, morrer ou suicídio

- Fazer comentários de desesperança e culpabilidade

- Utilização de expressões que evidenciam falta de motivação para viver (ex: “era melhor se não estivesse aqui”, “quero acabar com isto”…)

- Aumento do consumo de álcool ou drogas

- Isolamento social

- Comportamentos imprudentes ou de risco

- Alterações bruscas de humor

- Falar em se sentir aprisionado ou em ser um peso para os outros

Se alguém dá indícios de quer cometer suicídio, oiça e tenha em conta as suas preocupações. Não tenha receio em fazer perguntas sobre os seus planos. Mostre-lhe que se preocupa e que essa pessoa não está sozinha. Encoraje-a  a procurar ajuda profissional imediatamente. Não a deixe sozinha.

Autor: 
Ana Peixinho - Psiquiatra - Coordenadora da Unidade de Psiquiatria e Psicologia - Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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