Semana Mundial das Alergias

Subdiagnóstico facilita progressão de doença alérgica

Atualizado: 
03/04/2017 - 15:02
No âmbito da Semana Mundial das Alergias, que se assinala entre 2 e 8 de Abril, a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica alerta para o subdiagnóstico e subtratamento das alergias respiratórias. Diminuição da qualidade de vida ou progressão da doença são algumas das complicações apontadas.

A obesidade, a mudança nos hábitos alimentares, o sedentarismo ou a crescente utilização de antibióticos são algumas das causas apontadas para o aumento de casos de alergia respiratória registados nos últimos anos. “São várias as causas apontadas e que se prendem muito com as alterações profundas do estilo de vida das sociedades ocidentais no últimos 50-60 anos, como a maior permanência dentro das casas, um menor contato com estímulos infecciosos pouco perigosos, a poluição ou as alterações climáticas que, por exemplo, são responsáveis por maior quantidade de pólenes na atmosfera e durante mais tempo”, começa por explicar o alergologista Manuel Branco Ferreira.

De acordo com o especialista, estima-se que entre 30 a 35% da população portuguesa sofra de doença alérgica respiratória, sendo a rinite alérgica a patologia mais frequente, “logo seguida de asma brônquica”.

“Nas crianças a doença alérgica respiratória é a causa mais frequente de doença crónica”, revela o clínico adiantando que “em Portugal a maior parte dos doentes com alergia respiratória tem alergia aos ácaros do pó doméstico ou a pólenes de plantas, árvores e ervas. Alguns doentes são ainda alérgicos a fungos (bolores) ou a pelos de animais”.

Conjuntivite, rinosinusite e lariingotraqueíte crónicas são outras patologias relativamente frequentes e que, muitas vezes, fazem acompanhar as queixas de rinite ou asma.

Comichão, corrimento e obstrução/congestão nasal são os principais sintomas de rinite alérgica. “Na asma os sintomas são a tosse seca crónica, a chiadeira no peito, a falta de ar e a sensação de aperto toraccico”, explica acrescentando que, em ambos os casos, os sintomas são frequentemente recorrentes.

E é na recorrência dos sintomas que reside, muitas vezes, o maior obstáculo para o seu diagnóstico.

“Uma patologia que está presente quase todos os dias, e desde tenra idade, tem tendência a ser entendida pelo doente quase como normal e como um sofrimento de que tem de padecer, apenas sendo reportados os episódios de grande agravamento que, por exemplo, levam o doente à urgência ou que o obrigam a faltar ao trabalho”, afirma o secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC).

Por outro lado, a pouca importância que alguns médicos dão às patologias alérgicas, “que não têm uma grande mortalidade e que às vezes são olhadas como patologias «menores»”, condiciona a sua avaliação.

“No entanto, o impacto na vida destas pessoas é muito significativo e podemos dizer que, por exemplo no caso da rinite, a rinite é uma doença banal apenas para quem não sofre dela”, afirma Manuel Branco Ferreira.

A alergia respiratória não causa apenas sofrimento físico pelos sintomas. “Também tem grande impacto no bem-estar psíquico porque os doentes respiram pior, sentem-se mais cansados, não conseguem descansar de noite, podem ter quadros de algum embaraço social (por exemplo, se estiver sempre a espirrar ou a assoar-se ou a tossir) que levam a retração social, isolamento e eventualmente depressão”, justifica.

A diminuição da qualidade de vida surge, deste modo, como uma complicação importante da alergia não tratada.

Por outro lado, a doença alérgica pode evoluir para uma forma mais grave. “Estas situações de inflamação crónica das vias aéreas podem evoluir em termos de se irem tornando progressivamente mais graves, com menor resposta à terapêutica SOS ou de alívio e ainda afetarem outros órgãos para além dos iniciais”, explica o alergologista dando como exemplo a evolução para asma dos doentes com rinite não tratada.

“Finalmente nas fases mais avançadas da doença alérgica podemos já ter quadros com fibrose irreversível, ou seja, em que as diferentes estruturas desses órgãos são substituídas por tecido fibroso (cicatrizes) perdendo-se irremediavelmente a função desses tecidos”, acrescenta.

Quando recorrer a consulta de especialidade

“Os casos mais ligeiros podem perfeitamente ser medicados por médicos generalistas e se essa medicação for suficiente não há necessidade de consultar um especialista”, afiança Manuel Branco Ferreira.

No entanto, nos casos em que a terapêutica não fôr suficientemente eficaz deve procurar ajuda especializada. “Essa consulta torna-se necessária quando se quer identificar a causa da alergia ou fazer tratamento com as vacinas da alergia e obviamente nos casos mais graves”, acrescenta.

Como principais recomendações, o secretário-geral da SPAIC destaca a necessidade do doente conhecer bem a sua doença alérgica no sentido de evitar o contato com o alérgeno. “No caso dos doentes alérgicos aos pólenes estes devem procurar conhecer os níveis polínicos na sua área de residência, o que podem fazem através da consulta ao Boletim Polinico da Rede Portuguesa de Aerobiologia disponível de forma gratuita no site da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica”, acrescenta.

Manuel Branco Ferreira reforça ainda a importância de seguir “criteriosamente” as indicações terapêuticas do médico. “Particularmente no que diz respeito a manter algumas terapêuticas de uma forma mais ou menos continuada e mesmo na ausência de sintomas, bem como tratar precocemente os sintomas que eventualmente possam surgir”, adianta terminando esta série de conselhos reafirmando que “quando adequado” o doente deve procurar a opinião de um especialista.

 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Fonte: 
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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.