Hoje é Dia Mundial da Voz

“A sua voz é a sua impressão digital. É importante uma boa impressão!”

Atualizado: 
16/04/2014 - 15:29
Assinala-se hoje o Dia Mundial da Voz, “um instrumento de inestimável valor na comunicação humana”, mas que exige cuidados especiais. Saiba quais.

A voz é para Carlos Ribeiro, Presidente da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia “um instrumento de inestimável valor na comunicação humana, na transmissão de conhecimento, de afectos e de emoções”.

Hoje assinala-se o Dia Mundial da Voz, e conforme nos conta o especialista “tudo o que fizermos para preservar tão precioso bem é do mais elementar bom senso”. É por isso que é de primordial importância assinalar este dia para sensibilizar todas as pessoas para os cuidados a ter, de forma a bem cuidar da sua voz, evitando tudo o que a pode danificar e promovendo o rápido diagnóstico e tratamento das doenças que a possam atingir.

Por estes dias são muitas as campanhas que alertam para a necessidade de implementar hábitos de vida saudável muito importantes para “despertar” as pessoas para a velha máxima “mais vale prevenir que remediar”. Carlos Ribeiro considera fundamental que “a população deve ser alertada para a maravilha que é poder usar a nossa voz no dia-a-dia, como elemento fundamental da nossa expressão e relação inter-pessoal”.

O especialista alerta para o facto de na rotina diária, nem sempre darmos o devido valor ao que temos, inclusive a utilização da voz torna-se “banal” até ao momento em que a por alguma razão a perdemos. “É bom que durante uns segundos pensemos no prejuízo para a nossa vida se ficássemos impedidos de falar por uma hora, um dia, um mês... ou por toda a vida...”, desafia o especialista. Apesar dos muitos meios de comunicação alternativos a voz continua a constituir o melhor mensageiro das nossas certezas, dúvidas, angústias, alegrias ou tristezas.

 

Principais alterações da voz

As principais alterações da voz são devidas a doenças como: laringites, lesões benignas das cordas vocais (nódulos, polipos e quistos), refluxo gastro-esofágico e faringo-laríngeo, utilização incorrecta da voz, paralisia das cordas vocais e cancro da laringe. Esta última afecta cerca de 500 pessoas a cada ano e “representa a quinta causa morte por cancro a nível mundial, a seguir ao cancro do pulmão, intestino, bexiga e próstata”, explica Carlos Ribeiro, acrescentando que Portugal é o terceiro país da Europa com maior incidência do cancro da laringe. No que toca às restantes doenças relacionadas com a voz não existe um registo nacional como acontece para os casos oncológicos.

O importante é que a população esteja sensibilizada para a importância de cuidar da voz, que “ao longo de milhares de anos da nossa evolução, constituiu o suporte quase exclusivo da comunicação entre os seres humanos, levando ao desenvolvimento de um código de elevada complexidade: a linguagem audio-oral”.

Na opinião de Carlos Ribeiro a população em geral “tem um bom nível de esclarecimento quanto à necessidade de procurar auxílio em caso de perturbação prolongada das capacidades vocais, por receio de patologias de natureza tumoral”. Tem, acrescenta, “menor preocupação com a prevenção e com os cuidados necessários para manter uma boa qualidade vocal e uma voz saudável”.

Mas não basta a população em geral estar informada e atenta, também os profissionais de saúde devem estar permanentemente atentos às medidas de prevenção das doenças da voz, sobretudo em grupos de risco, como os professores e educadores em geral, médicos, actores, cantores, ministros religiosos e outros profissionais que dependem da voz no seu dia-a-dia e dela fazem um forte instrumento de trabalho. Aos profissionais de saúde cabe-lhes, diz o presidente da Sociedade, contribuir para a preservação da qualidade vocal dos seus doentes através de medidas educacionais e de avisados conselhos. “Por maioria de razão devem ser os primeiros a alertar para qualquer alteração de voz, promovendo o diagnóstico e o tratamento precoce”.

 

Tratamentos

Apesar do fácil e rápido acesso aos tratamentos na suspeita de lesão tumoral os “doentes da voz” encontram dificuldades diversas. Sobretudo, conta Carlos Ribeiro, “se oriundos de classes com menores rendimentos: no acesso ao atendimento e tratamento médicos, pelos custos das deslocações, perda de remuneração no trabalho ou possibilidade de se ausentarem para irem às consultas médicas ou a sessões de terapia da fala, dado que necessitam de várias sessões”.

O especialista alerta para o facto de muitas vezes serem os próprios doentes a desvalorizar o problema e não procurar ajuda de imediato, justificando que “talvez passe com o tempo”, “foi da água fria ou da corrente de ar que apanhei”, “amanhã estarei melhor”. “Tendem a valorizar pequenas flutuações na voz como melhoria clínica evidente, atrasando a procura de uma verdadeira solução”, alerta.

“É muito importante prevenir”, realça Carlos Ribeiro. Assim, em caso de desconforto vocal ou rouquidão arrastada, que perdura por mais de10 a 14 dias, que se prolonga para além do episódio que lhe deu origem, consulte o seu otorrinolaringologista. Só ele tem os meios necessários para promover o diagnóstico correcto e dar início ao tratamento necessário. “A sua voz é a sua impressão digital! É importante uma boa impressão!”

 

Cuidados para uma voz saudável

Os grandes inimigos da voz são o tabaco (fumador activo ou passivo) e o álcool, com especial atenção para as bebidas destiladas. “Estes agentes multiplicam os seus efeitos negativos se surgirem em associação no mesmo indivíduo. Também se reveste de grande importância a exposição a fumos, vapores tóxicos, poeiras e agentes poluidores”, explica.

Para além destes cuidados especiais, é importante ter em atenção que os cuidados gerais de higiene de vida, incluindo uma alimentação saudável, uma boa ingestão de água diariamente, a realização de exercício físico e uma boa conduta em relação ao sono, são fundamentais para manter uma voz saudável ao longo de toda a vida. É importante cultivar um estilo de vida tranquilo, evitando o stress e, sobretudo, evitando que o stress se exteriorize através da intensidade e do mau uso da voz.

O especialista chama especial atenção à “sobrecarga vocal em ambientes desportivos ou musicais, o uso habitual da voz em registos muito intensos, bem com a exposição a variações bruscas de temperatura, também contribuem para o aparecimento de lesões das cordas vocais, de natureza benigna, mas que prejudicam a qualidade de a voz e, logo, a qualidade de vida. Não há vida de qualidade sem uma voz com qualidade!”.

Por outro lado, Carlos Ribeiro esclarece que a trilogia jantar, sofá e cama, favorece o refluxo gastroesofágico e tem repercussão directa no aparecimento de doença laríngea.

“É aconselhável, também do ponto de vista vocal, que a refeição da noite seja leve e com reduzido teor de gorduras. Após o jantar deve-se cultivar o bom hábito de dar um pequeno passeio a pé, de preferência incluindo alguma actividade de carácter social, de forma a relaxar e preparar o corpo e a mente para um bom período de sono”, nota o responsável.

Por outro lado, o doente deve também da atenção a crises de alergia respiratória, a história de sinusopatia, e a síndromes gripais arrastados, dado que a tosse que é comum a estes quadros clínicos, é factor de grande esforço e stress vocal, agravado pelas crises de pigarrear constante.

 

Actividades da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (SPORL-CCF)

A Otorrinolaringologia portuguesa tem uma história rica em iniciativas no âmbito do Dia Mundial da Voz. De Norte a Sul do País, serviços grandes e pequenos, - que se agigantam nestes dias - levam a cabo valiosas iniciativas de sensibilização, acompanhamento e rastreio dos problemas da voz na população. É frequente a disponibilização de equipas compostas por médico Otorrino e Terapeutas de Fala, para acções de divulgação e rastreio gratuito. “Os casos simples são ali mesmo orientados e as situações mais complexas são encaminhadas para o sistema hospitalar. Cabe à Sociedade Portuguesa de ORL-CCF apoiar e publicitar estas iniciativas, por todos os meios ao seu alcance. É muito importante transmitir ao público que deve apostar numa boa prevenção”.

Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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