Estudo

Só 8% dos doentes com um enfarte fazem reabilitação cardíaca

Muitos doentes recusam fazer as 36 sessões para evitar pagar taxas moderadoras que a Sociedade Portuguesa de Cardiologia defende que deviam ser eliminadas para quem teve um enfarte.

Apenas 8% dos doentes com um enfarte agudo do miocárdio passam por programas de reabilitação cardíaca. O número, referente a 2014, foi agora divulgado na Revista Portuguesa de Cardiologia e significa um aumento face à última avaliação, mas segundo os médicos continua muito abaixo daquilo que seria minimamente desejável.

Ana Abreu, uma das autoras do estudo, explica à TSF que há várias razões que impedem o acesso a estes programas, que têm um efeito muito positivo não apenas na recuperação de quem teve um enfarte, mas também de quem sofre de insuficiência cardíaca ou fez uma operação ao coração.

A médica, que também trabalha num centro de recuperação, sublinha que estamos muito longe dos números de outros países europeus e ela própria ouve muitas vezes dos doentes que não querem entrar no programa de recuperação porque não têm dinheiro para taxas moderadoras e para deslocações durante meses, duas vezes por semana.

Ana Abreu sublinha que os colegas recebem muitas vezes a mesma resposta e explica: "As taxas não são muito altas, mas multiplicando por 36 sessões fazem uma diferença muito grande".

Razões que levam a Sociedade Portuguesa de Cardiologia a pedir a isenção de taxas moderadoras para quem teve um enfarte e avança para um programa de reabilitação cardíaca que inclui não apenas exercício físico mas também formação para ensinar o doente a viver com a doença e apoio psicológico. Ações que segundo os médicos são muito mais baratas para o Serviço Nacional de Saúde do que intervenções caras quando a doença se complica.

Só há centros em Lisboa, Porto e Algarve
O presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia admite que o estudo agora publicado revela que há mais doentes a fazerem reabilitação cardíaca e que, desde 2014, abriram mais alguns centros, pelo que já andaremos próximos dos 10% de doentes a entrarem nestes programas depois de um enfarte.

Miguel Mendes explica, contudo, que continua a ser muito pouco e estamos perante um problema complexo, pois muitas vezes são os próprios doentes que veem com maus olhos a atividade física e os médicos também não estão incentivados para esta área.

O médico recorda, no entanto, que estes programas de reabilitação são baratos para o Estado, aumentam a sobrevivência e qualidade de vida dos doentes e existem, infelizmente, apenas, em hospitais de Lisboa, do Porto e do Algarve.

Miguel Mendes recorda que um doente que teve um enfarte pode demorar meio ano a voltar ao trabalho, mas com exercícios de reabilitação pode demorar menos de dois meses, pelo que até para o Estado seria bom investir nesta área que apenas obriga a pequenos investimentos.

A TSF contactou há cerca de uma semana o Ministério da Saúde para obter um comentário as resultados deste estudo, mas continua à espera de resposta.

Fonte: 
TSF Online
Nota: 
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