Síndrome de Fadiga Crónica: sintomas e tratamento
O que é?
Ainda que não seja bem compreendida, a Síndrome de Fadiga Crónica, também designada por Encefalomielite Miálgica (EM) ou Síndrome de Fadiga Pós-viral, consiste num quadro complexo de fadiga extrema e persistente. Embora seja a causa de apenas 3% de todos os casos de exaustão, a verdade é que esta é uma entidade clínica extremamente incapacitante que conduz a uma falta de energia profunda, sendo ainda mal compreendida e aceite.
Considerada uma doença rara, estima-se que, em Portugal, esta possa atingir cerca de 15 mil pessoas. E embora seja mais frequente entre as mulheres a partir dos 40 anos, a verdade é que esta síndrome não olha a sexos nem idades, podendo ser diagnosticada ainda na infância.
Causas continuam desconhecidas
Embora existam muitas teorias sobre o que a provoca, a verdade é que ainda não se conhece o que está na origem desta Síndrome.
No entanto, admite-se que este quadro resulte da combinação de um conjunto de fatores.
Entre as hipóteses mais discutidas estão as infeções virais, que se pensa poderem estar na origem de um quadro de fadiga extrema. Para sustentar esta teoria, há relatos de que o seu diagnóstico terá surgido na sequência de gripes e outras infeções virais persistentes. No entanto, ainda não foi possível demonstrar esta relação.
Por outro lado, em alguns casos foi possível constatar algumas fragilidades no sistema imunitário e no sistema nervoso autónomo - a parte do sistema nervoso que controla as funções automáticas vitais do corpo (tensão arterial, ritmo cardíaco e temperatura corporal) - dos pacientes que desenvolveram esta síndrome.
De acordo com a Associação Nacional contra a Fibromialgia e Síndrome de Fadiga Crónica, “existe também a possibilidade de algumas pessoas desenvolverem SFC devido a um traumatismo cerebral ou exposição a uma toxina”.
Diagnóstico e principais sintomas
Até à data não existe nenhum exame auxiliar de diagnóstico que confirme a doença. Este é feito mediante exame clínico e pela exclusão de outras patologias que têm como sintoma principal o cansaço, como é caso das disfunções da tiroide, lúpus, esclerose múltipla, hepatite, distúrbios do sono ou depressão.
Quando não existe nenhuma doença que justifique os sintomas referidos pelo paciente, o diagnóstico de Síndrome de Fadiga Crónica é concluído quando, por mais de seis meses, a fadiga seja considerada debilitante e obrigue a uma redução substancial da sua atividade e a ela se associem pelo menos mais quatro sintomas dos Critérios Minor, como:
- Dor de cabeça (frequentemente referida como enxaqueca)
- Garganta inflamada
- Aumento dos gânglios linfáticos no pescoço ou nas axilas
- Dor muscular inexplicável
- Dor nas articulações
- Sono não reparador
- Mal-estar que persiste por mais de 24 horas após exercício
- Perda de memória ou concentração
No entanto, os doentes podem, ainda, apresentar sintomas bem diferentes, como febre, irritabilidade e confusão.
Tratamento
Tratando-se de uma doença sem cura, o tratamento tem em vista o alívio dos sintomas proporcionando a melhor qualidade de vida possível ao paciente. Por outro lado, e uma vez que esta Síndrome não atinge dois doentes da mesma forma, podendo os seus sintomas variar de intensidade, este é adaptado caso a caso.
Assim, o tratamento farmacológico deve incidir sobre os sintomas específicos de cada doente e, uma vez que estes são particularmente sensíveis a determinados fármacos (nomeadamente aos que atuam sobre o Sistema Nervoso Central), ele deve iniciar-se com doses baixas, aumentando gradualmente até que seja bem tolerado.
De acordo com a Associação Nacional contra a Fibromialgia e Síndrome de Fadiga Crónica, estes são os principais grupos terapêuticos:
Antidepressivos Triciclícos
«Baixas doses de antidepressivos triciclícos melhoram o sono, tornando-o mais reparador. A dor generalizada também pode sofrer uma diminuição.
Neste grupo incluem-se a amitriptilina, a nortriptilina, a desipramina e a doxepina.»
Antidepressivos
«Os antidepressivos das novas gerações como os SSRI (inibidores seletivos da recaptação da serotonina) têm sido prescritos em doentes com esta patologia com algum benefício. Deste grupo fazem parte a fluoxetina, a paroxetina e a sertalina. Outros fármacos, com mais algumas especificidades a nível dos neurotransmissores, têm produzido bons resultados e são eles a venlafaxina, a trazodona e a bupropiona.»
Ansiolíticos
São fármacos prescritos para tratar situações de pânico e ansiedade e não devem ser usados por rotina no tratamento da doença, alerta a associação. O alprazolam, o clonazepam e o lorazepam são os fármacos que fazem parte deste grupo.
Estimulantes
«A fadiga, por si só, não é uma indicação formal para uma terapêutica sintomática. Contudo se a fadiga representa letargia ou sonolência diurna poderá haver necessidade de uma abordagem farmacológica. Alguns ensaios mostraram que a amantadina e o modofanil serão úteis.»
Anti-inflamatórios não esteróides (AINS)
Este grupo de medicamentos pode ser prescrito para alívio da dor e febre. «Os mais utilizados são: o naproxeno, o ibuprofeno e o piroxicam.».
Antialérgicos
«Alguns doentes apresentam histórias de alergia, e estes sintomas podem ressurgir periodicamente. Os anti-histamínicos não sedativos são eficazes. Neste grupo de fármacos os mais importantes são: o astemizol e a loratadina.»
Contudo, a terapêutica antialérgica serve apenas para tratar os sintomas alergia, não sendo um tratamento eficaz para a Síndrome de Fadiga Crónica.
Antihipotensores ou Antihipertensores
«Em geral, só alguns antihipotensores produzem efeito nos doentes com SF». No entanto, estes medicamentos devem ser usados com a máxima cautela. Do grupo dos antihipotensores a fludrocortisona é a mais prescrita.
A importância do exercício físico
As dores e a fadiga levam a que muitos doentes se tornem inativos. No entanto, os especialistas afirmam que a prática de exercício físico é o melhor complemento ao tratamento desta doença.
O doentes devem por isso ser encorajados a iniciar e/ou continuar um programa de exercícios aeróbios de resistência muscular, tendo em consideração de que uma dor ligeira ou moderada nos músculos após o exercício não é prejudicial.
Para além de aumentar a autoestima e o bem-estar físico, a prática de atividade física melhora a qualidade de vida do doente já que ajuda a manter os músculos relaxados e flexíveis, aumenta a resistência muscular, melhora a postura e alivia os sintomas de dor.
De acordo com alguns estudos, os exercícios devem ser praticados no período da manhã.