70% dos doentes apresentam excesso de peso

Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono: obesidade é o principal fator de risco

Atualizado: 
15/03/2018 - 11:31
Considerada um problema de Saúde Pública, a Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono atinge cerca de 4% da população adulta, sendo os homens os que apresentam maior risco de desenvolver a patologia. Hipertensão, enfarte, AVC e diabetes são as comorbilidades associadas.

A apneia obstrutiva do sono é uma perturbação dos padrões normais da respiração durante o sono, que se caracteriza por episódios repetidos de apneia e/ou de hipopneia resultantes do colapso das vias aéreas superiores, geralmente ao nível da faringe,  e que se estima atingir cerca de 4% da população com idade superior a 65 anos.

“Habitualmente, depois dos 50 anos, um em cada cinco homens e uma em cada nove mulheres tem a doença”, começa por referir a coordenadora da Unidade de Sono e Ventilação não Invasiva do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte, Paula Pinto.

Esta diferença de prevalência entre géneros estará relacionada com as características anatómicas que os distingue. “Os homens apresentam, em média, um maior calibre da via aérea superior, tornando-a mais vulnerável ao colapso”, explica a pneumologista referindo que o sexo masculino apresenta um risco duas a três vezes superior de desenvolver a patologia quando comparado ao sexo feminino. No entanto, alguns estudos demonstram que, por manifestarem mais frequentemente sintomas atípicos, esta patologia é largamente negligenciada nas mulheres.

Entre os fatores de risco, a obesidade é apontada como sendo o mais significativo para o desenvolvimento da apneia obstrutiva do sono, estimando-se que cerca de 70% dos doentes apresentem excesso de peso. “Os doentes com síndrome de apneia obstrutiva do sono são frequentemente obesos, com um ressonar muito intenso, com pausas respiratórias visualizadas durante o sono”, revela.

Cada pausa respiratória pode durar entre 10 segundos e mais de um minuto, chegando a acontecer várias vezes por hora.  Como consequência, assiste-se a uma diminuição parcial da quantidade de oxigénio no sangue e ao aumento da quantidade de dióxido de carbono,  que conduz a “micro-despertares” com efeitos de correção da respiração.

Para além das comorbilidades associadas, como é o caso das doenças cardíacas – enfarte do miocardio ou arritmias -, hipertensão arterial, diabetes ou dislipidémia, a síndrome de apneia obstrutiva do sono apresenta um grave impacto na qualidade de vida dos doentes.

“Os doentes com apneia obstrutiva do sono apresentam alterações neuropsicológicas, nomeadamente, perturbações do humor, concentração e memória, bem como hipersonolência diurna condicionadoras de uma má qualidade de vida pessoal, social e laboral”, enumera Paula Pinto. Por outro lado, um estudo português mostrou que mais de metade (64,4%) dos doentes com apneia do sono é atingido pela disfunção eréctil e diminuição da líbido.

Vários anos podem decorrer entre os primeiros sintomas e o diagnóstico

Uma vez que este é um distúrbio de “instalação progressiva ao longo de vários anos e que se manifesta predominantemente durante a noite, sem que o doente se aperceba”, podem decorrer vários anos entre o início dos sintomas e o seu diagnóstio. Neste sentido, pode-se afirmar que esta é uma patologia subdiagnosticada com graves repercussões para a saúde em geral.

“Por outro lado, alguns médicos ainda não estão muito sensibilizados para a associação desta entidade com doenças cardíacas, o que leva a um atraso no diagnóstico e no tratamento atempado desta patologia”, acrescenta a pneumologista.

O seu diagnóstico é obtido através de um estudo do sono – a polissonografia – que consiste na monitorização do sono durante a noite “por técnicos especializados e que permite avaliar a gravidade da patologia”.

Quanto ao tratamento, este depende da evolução da doença.  “Existe um tratamento muito eficaz para a apneia do sono que consiste na utilização de um ventilador – CPAP – que funciona através de uma máscara que se aplica no nariz, durante a noite, e que fornece ar a uma pressão contínua, impedindo que as vias respiratórias fechem”, explica a pneumologista Paula Pinto.

No entanto, em alguns casos, nomeadamente em situações ligeiras de apneia do sono, é possível recorrer a cirurgia, designada por uvulopalatofaringoplastia, ou a dispositivos de avanço mandibular (DAM).

A uvulopalatofaringoplastia conduz à melhoria em 87% dos casos e está indicada quando há excesso de tecido mole redundante no palato, úvula ou pilares anteriores. O seu prognóstico, no entanto, dependente de vários fatores como a idade, sexo, peso, aspeto faríngeo ou características do ronco e dos episódios apneicos. Sabe-se por exemplo, que a obesidade é  a principal condicionante aos bons resultados.

Em relação aos dispositivos de avanço mandibular, estes “são dispositivos que, tal como o nome indica, avançam a mandíbula, atuando de forma mecânica na via aérea superior, evitando o  seu colapso. Ao mesmo tempo, evitam a queda da língua, uma vez que não permitem o total relaxamento da mesma”.

Seja qual for o caso, a especialista recomenda a consulta de um centro especializado em patologia do sono e, em matéria de prevenção, reforça a importância da adoção de hábitos de vida saudáveis. “Perda de peso nos doentes obesos e evicção do tabaco e bebidas alcoólicas”, conclui.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock