A saúde das portuguesas
A saúde da mulher portuguesa é afetada na maior parte das vezes, por patologia não da área ginecológica, mas sim por patologia cardiovascular que pode ir desde a insuficiência venosa periférica, à hipertensão, ao acidente vascular cerebral (AVC) e também ao enfarte do miocárdio. A hipercolesterolemia, a diabetes mellitus e as doenças osteoarticulares são também muito frequentes na nossa população feminina. Todas estas patologias podem ser agravadas pela menopausa. É muitas vezes a partir desta fase da vida das mulheres que estes problemas começam a surgir e aqui o ginecologista já terá algum papel quer na prevenção quer no tratamento.
Dependendo dos estratos sociais, existe sempre lugar para melhorar a informação sobre os cuidados a ter na prevenção de doenças ginecológicas e sistémicas. Nunca é demais partilhar informação sobre os cuidados a ter para evitar determinadas patologias e sobre os rastreios nomeadamente de cancro do colo do útero, da mama, que em diferentes idades são ou deveriam ser obrigatórios, partindo essa iniciativa dos médicos, mas sobretudo das doentes que os procurem se estiverem bem informadas.
A hereditariedade é sempre um fator a ter em conta, tanto nas doenças metabólicas, como nas cardiovasculares e osteoarticulares. Na área ginecológica sabemos hoje que existem determinados tipos de doença maligna, nomeadamente o cancro da mama e o do ovário que podem depender de fatores genéticos, portanto familiares. Existem hoje em dia, exames específicos para essas mulheres de maior risco.
Mais do que sinais de alarme existem comportamentos que podem melhorar a qualidade de saúde e de vida das mulheres e esses podem variar entre hábitos alimentares corretos, exercício físico ou atividade física regular, cessação tabágica, até às idas regulares ao seu médico de medicina geral e familiar e ao seu ginecologista, para realização de exames periódicos de rotina que podem servir para o despiste de várias patologias a tempo de serem tratadas.
Diferentes ciclos afetam a saúde feminina
A gravidez, por si só, pode desencadear doenças como a diabetes, a hipertensão, alterações renais, que podem tornar-se crónicas, mas é também protetora nomeadamente do cancro do ovário e da mama, ou seja, acredita-se que a prevalência destas duas patologias é menor nas mulheres que estiveram grávidas várias vezes e que amamentaram os seus filhos.
Também na gravidez, por alterações hormonais e por aumento de tensão a nível dos mecanismos de suporte do pavimento pélvico, pode aparecer um quadro de incontinência urinária de esforço, que de transitório pode passar a permanente
A menopausa, com a diminuição drástica de estrogénios, pode afetar ou desencadear patologias diversas: depressão, alterações cognitivas, diminuição da líbido, incontinência urinária e patologia do pavimento pélvico, alteração do metabolismo dos lipídeos e dos hidratos de carbono, hipertensão, diabetes mellitus, osteoporose...
Todos sabemos que a incontinência urinária continua a ser considerada uma “epidemia escondida”. E se vemos que nos estratos mais jovens e nas mulheres trabalhadoras um maior à vontade para referirem o problema ao seu médico, ainda existem muitas – a grande parte - que esconde ou que vive sozinha o problema porque o considera inevitável, tendo em conta o exemplo das mulheres da família de gerações anteriores, que também se queixavam do mesmo problema. Aceitam como natural e dependente do envelhecimento, o que não é, desconhecendo que existem tratamentos simples com taxas de sucesso acima dos 90%, cirurgias minimamente invasivas, não incapacitantes e com rápido retorno à sua vida diária normal, quando se trata de uma incontinência urinária de esforço e medicação e outros tratamentos mais inovadores, para a incontinência urinária de urgência.
Como já referi atrás, embora a incontinência urinária de esforço (aquela em que a mulher perde com a tosse, espirro, riso, pegar em pesos, dar uma corrida) possa ser mais prevalente nas mulheres que tiveram partos vaginais, a própria gravidez, por alterações hormonais e pela ação do útero gravídico sobre os mecanismos de suporte da bexiga, pode ser responsável por esse tipo de patologia.
Incontinência urinária de urgência atinge 40% das mulheres, durante ou após o parto
Incontinência urinária de urgência
No entanto convém saber que a cesariana está associada a outro tipo de incontinência urinária – a de urgência (a mulher sente uma vontade súbita e inadiável de urinar que não consegue inibir e perde ou pequenas gotas ou de forma catastrófica), e ao aparecimento de outros sintomas relacionados com alterações da inervação da bexiga que sofreu danos durante a cirurgia – noctúria (acordar com vontade de urinar várias vezes por noite), que tem efeitos muito prejudiciais na qualidade do sono destas mulheres e no descanso necessário para um dia de trabalho, aumento da frequência urinária (necessidade de ir mais do que oito vezes por dia à casa de banho), o que pode prejudicar o relacionamento em determinados postos laborais.
Cerca de 40 por cento das mulheres que tiveram filhos vão apresentar um quadro de incontinência urinária (IU), ao longo da vida. Não existe qualquer razão para contrariar o que é natural – o parto normal, indicando uma cirurgia agressiva – a cesariana, para tentarmos evitar uma hipótese – a IU, em tempo que não sabemos definir e que pode ser corrigida com uma cirurgia minimamente invasiva.
Durante a gravidez a mulher pode e deve ser ensinada e incentivada a fazer exercícios de fortalecimento do pavimento pélvico. Estes exercícios são conhecidos como os exercícios de Kegel.
Quando não tratada, pode ser fator de isolamento, de baixa autoestima que em último caso leva a síndromes depressivos. São mulheres que deixam de conviver até com a própria família, de executar as suas tarefas diárias, que deixam de participar nos eventos sociais ou familiares, por medo de perderem e mesmo com dispositivos de contenção (pensos) cheirarem mal. Muitas vivem em função de ter uma casa de banho por perto. Não podemos também ignorar o facto de este problema poder interferir com o relacionamento do casal. Concluindo, é um problema que pode afetar os aspetos sociais, afetivos, laborais e económicos da mulher com este problema.
Cancros na mulher
Sem dúvida o mais prevalente é o cancro da mama, em seguida o do colo do útero e posteriormente o do ovário.
Os fatores de risco apontados para o cancro da mama, continuam a ser objeto de debate, em todo o mundo. No entanto sabe-se que a hereditariedade é um problema major a ter em conta (se a mãe, a irmã, uma tia, tiveram cancro da mama em idade jovem o risco aumenta), o consumo de álcool e de tabaco, a ausência de gravidezes e de amamentação, a menarca (1ª menstruação) precoce e menopausa tardia, a obesidade, a raça branca, o uso de terapêutica hormonal de substituição (THS) e ainda a idade que não pode ser um fator considerado pouco importante - o risco de desenvolver cancro da mama vai aumentando conforme vamos envelhecendo, sendo raro antes dos 30 anos. Mais de 50 por centro dos cancros da mama são diagnosticados em mulheres acima dos 65 anos de idade. Há estudos que apontam também para o sedentarismo, falta de atividade física como fator de risco.
Quanto ao cancro do colo do útero, as evidências apoiam uma relação de causa efeito, entre alguns tipos de papiloma vírus humano (HPV) e este tipo de carcinoma, tornando assim esta patologia numa doença sexualmente transmissível. As lesões percursoras de cancro do colo do útero são cada vez mais frequentes em idades precoces, devido ao início de vida sexual mais cedo, mas também mais diagnosticadas em programas de rastreio precoce e também por maior esclarecimento da população feminina jovem que hoje em dia sabem que devem recorrer ao ginecologista ou ao seu médico de medicina geral e familiar, para a realização de exames de despiste.
O cancro do ovário parece estar relacionado primeiro com o fator hereditário e depois com a nuliparidade, a obesidade, os tratamentos de infertilidade, a raça branca. O uso de contracetivos durante cinco anos, parece diminuir o risco. O mesmo já não acontecendo com a terapêutica hormonal de substituição utilizada pelas mulheres na pós-menopausa. Nesta última situação as opiniões dividem-se mas tudo indica que quando utilizada por longos períodos de tempo aumenta o risco.
Menopausa sem desconforto
A menopausa como já fui referindo ao longo deste texto, trás algumas alterações, nem sempre compensatórias para a qualidade de vida da mulher. Numa altura em que poderiam viver, já com os filhos criados e sem a ameaça de uma gravidez não desejada, uma vida mais confortável, as alterações hormonais da menopausa, alteram muitas vezes a libido da mulher e a capacidade de ter relações sexuais gratificantes. Muitos artigos se escrevem sobre este problema, mas na realidade não existe nenhum tratamento verdadeiramente eficaz para tratar este problema quando acontece. Convém acrescentar que este não é um problema transversal a todas as mulheres em menopausa, mas é um dos que mais frequentemente é referido em consulta.
Estima-se que as mulheres vivam um terço da sua vida em pós-menopausa. Com a menopausa vêm também os efeitos adversos da falta de proteção dos estrogénios no que diz respeito ao aparelho cardiovascular e à qualidade do osso. As alterações no metabolismo dos lipídeos e dos hidratos de carbono - aparecendo os quadros de hipercolesterolemia e de diabetes mellitus, as alterações tiroreoideias, alterações cognitivas ligeiras e do humor sob a forma de depressão.
A solução nestes casos é primeiro incentivar a mulher a realizar, de forma regular, exercício físico, alimentação saudável que inclua uma correta ingestão de cálcio, cessação de hábitos tabágicos, exercitar a mente com alguma forma de atividade intelectual e medicar por fim quando as patologias já estão instaladas. A THS é recomendável em mulheres que não tenham contraindicações (e isso é ao médico ginecologista que compete avaliar). Os regeneradores de massa óssea e/ou fixadores de cálcio, não descurando as necessidades de vitamina D para que o cálcio ingerido seja absorvido e fixado, são importantes nas mulheres com osteoporose. A vitamina D é produzida na pele por exposição ao sol que com os devidos cuidados é necessária.
A crise poderá ter levado as mulheres a descurar mais a sua saúde. Não só a nível da medicina privada e variando de região para região do país (principalmente nas regiões onde a população é mais dependente de empregos fabris, visto que aí é onde há mais desemprego e empresas que fecham e cujos empregados tinham seguros de saúde que deixaram de poder pagar), as consultas estão a diminuir, como a nível do serviço nacional de saúde, se nota que uma doente que não esteja isenta do pagamento de taxas moderadoras, muitas vezes escolhe a consulta que lhe fará mais falta, se tiver várias patologias e duas ou três consultas marcadas num mês.
Esperança média de vida é maior
Tanto a população masculina como a feminina estão a envelhecer e cada vez a esperança de vida é maior para ambos os géneros. Sabe-se realmente que as mulheres tendem a viver mais tempo do que os homens e que as mulheres acima dos 80 anos são o grupo que mais tem aumentado nestes últimos anos.
A informação, os rastreios, o acesso regular a consultas de rotina no médico de medicina geral e familiar que orientará para a especialidade, a mudança de hábitos alimentares e de vida e a tomada de consciência de que é necessário evitar o sedentarismo e a obesidade. As gravidezes desejadas e bem vigiadas, com suplementações vitamínicas que não só ajudam a boa formação do feto mas também ajudam a evitar problemas futuros na mulher. Todas as novas abordagens terapêuticas nomeadamente no que diz respeito à contraceção, terapêutica hormonal de substituição e osteoporose.