Sarampo voltou por causa do movimento antivacinas
O movimento antivacinação, que tem ganho cada vez mais adeptos no mundo industrializado, é o grande responsável pelo ressurgimento de surtos de sarampo e de tosse convulsa nos Estados Unidos. A ideia já andava no ar, escreve o Diário de Notícias, porque existe uma coincidência temporal clara entre os dois fenómenos, mas agora está mesmo confirmado. É isso que mostra um estudo publicado no The Journal of the American Medical Association (JAMA), por médicos e investigadores da Universidade de Emory, em Atlanta.
"Uma parte substancial dos casos de sarampo nos Estados Unidos na era posterior à sua eliminação foram [de pessoas] não vacinadas intencionalmente", escrevem os autores, que passaram em revista todos os dados sobre surtos de sarampo e de tosse convulsa no seu país desde 2000, a data em que aquelas duas doenças foram ali consideradas eliminadas.
Afinal, o que aconteceu depois disso foi que elas ressurgiram e os surtos, a cada ano, tornaram-se mais expressivos.
A análise dos investigadores mostra exatamente isso. O número de casos de ambas as doenças aumentou sistematicamente ao longo da última década e meia, "o que esteve associado ao fenómeno da recusa da vacinação", sublinha a equipa coordenada por Saad Omer.
No caso da tosse convulsa, essa relação, entre o movimento antivacinação e o aumento de casos da doença, também foi encontrada. No entanto, os autores reconhecem que o seu ressurgimento estará igualmente associado a uma perda de imunidade nas populações vacinadas. Alterações no agente patogénico parecem permitir-lhe escapar à ação plena da vacina.
Seja como for, os números têm sido crescentes para as suas doenças infecciosas. E o maior surto de sarampo nos Estados Unidos da última década e meia ocorreu, justamente, entre dezembro de 2014 e fevereiro do ano passado.
Sabe-se que ele começou na Disneilândia, na Califórnia, mas a sua origem nunca se conseguiu identificar. Em fevereiro de 2015, quando o surto foi debelado, a doença tinha alastrado a 23 estados, num total de 668 casos, o maior número desde que a doença tinha sido considerada eliminada. Como não podia deixar de ser, isso reacendeu o debate sobre a opção de muitas famílias de não vacinar os filhos, uma vez que os não imunizados favorecem o contágio e a ocorrência de mais casos.
Em plena expansão desse surto de sarampo, o presidente Obama foi à televisão para apelar à vacinação de todos, pais e filhos, que não estivessem imunizados.
O sarampo é uma doença viral altamente contagiosa - o contágio faz-se por via aérea, como a gripe -, que causa febre, tosse e uma erupção cutânea característica, e nas situações mais graves pneumonia, surdez e outras complicações que podem levar à morte. Depois das campanhas de vacinação do século passado, o sarampo foi declarado, em 2000, praticamente eliminado nos Estados Unidos - o que aconteceu, aliás, nos países ocidentais que estabeleceram programas de vacinação universal.
Portugal é um desses países, onde o sarampo não constituí um problema. Nos últimos dois anos, por exemplo, não houve nenhum caso, e em anos anteriores, registaram-se sobretudo casos isolados importados de outros países, que não deram origem a mais doentes.