Alterações da voz

Sabia que a perda de voz pode ter causas psicológicas?

Atualizado: 
12/04/2022 - 10:58
Gripes, alergias e resfriados estão muitas vezes na origem da rouquidão ou da perda de voz. No entanto, não raras as vezes, estas alterações surgem na sequência de transtornos ou choques emocionais.

Sendo o principal meio de comunicação humana, a voz merece a nossa melhor atenção, pelo que devemos prestar atenção à mínima alteração. Disfonia e afonia são alterações da voz bastante comuns.

“As alterações da voz têm um espectro que vai desde a afonia (perda completa de voz) à disfonia (alteração da qualidade da voz), esta vulgarmente designada de rouquidão. Tecnicamente, a rouquidão é a voz áspera e rouca, mas a disfonia também contempla perda da intensidade ou alteração da frequência (mais aguda ou mais grave) que seria de esperar para o género ou idade”, começa por explicar Eugénia Castro, coordenadora da consulta da Voz do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho E.P.

Entre as principais causas de disfonia aguda estão as síndromes gripais, faringite, laringite ou a alergia, assim como as lesões provocadas pelo uso intenso da voz. “Nas alterações da voz de carácter crónico, as causas mais frequentes são o uso vocal intenso e prolongado, que pode dar origem ao desenvolvimento de lesões nas cordas vocais (nódulos, pólipos, quistos, edema) ou apenas envolver tensão e fadiga excessiva dos músculos envolvidos na produção da voz”, descreve a especialista adiantando que, nestes casos, é frequente o doente ter uma sensação de aperto na garganta e apresentar dificuldade em engolir.

No entanto, sendo que a produção da voz envolve vários órgãos e sistemas podem existir outras patologias que condicionem o seu desenvolvimento. “Uma das patologias que tem aumentado muito nos últimos anos relaciona-se com o refluxo gastroesofágico para a faringe e laringe. Embora muitas vezes coexista com outros fatores, ela tem uma prevalência muito significativa nos pacientes com alterações da voz e está sobretudo relacionada com fatores alimentares, stresse e sedentarismo, tão comuns nos dias de hoje”, acrescenta Eugénia Castro.

Também o tabaco, considerado um importante fator de risco, se constitui com “fator major” para o desenvolvimento de lesões nas cordas vocais e, embora mais raras, as lesões resultantes de cirurgia (da tiroide) podem resultar em importantes alterações na qualidade da voz.

Sempre que a rouquidão persista por mais de 15 dias, ou esta seja acompanhada de outros sintomas, como dificuldade em respirar ou engolir, tumefação ou outro sintoma que provoque desconforto, deve procurar a ajuda de um especialista. Mais ainda se a perda de voz for súbita e sem motivo aparente. “Para um fumador estes sinais de alerta são ainda mais importantes”, assinala a especialista.

Quando a perda de voz surge depois de um choque emocional

De acordo com a especialista, passou a ser bastante frequente surgirem casos de afonia que não apresentam qualquer relação com as causas acima descritas, e “em que o exame da laringe não apresenta alterações orgânicas” mas que parecem estar associados a um evento emocional ou stresse intenso.

“O cérebro coordena toda a atividade neuromuscular envolvida na produção da voz, direta e indiretamente”, começa por justificar a especialista. A verdade é que, a voz reflete o nosso estado emocional. “Quando estamos ansiosos, triste, zangados, a voz tem características específicas, pelo que é comum dizermos que a voz reflete a nossa alma”, revela acrescentando que esta relação pode ser a causa de disfonia e afonia prolongadas, “sobretudo por gerar tensão muscular acentuada e bloquear o sistema mecânico da vibração das cordas vocais”.

Nestes casos, o tratamento da alteração da voz passa pelo controlo direto do fator emocional relacionado. No entanto, tal como explica Eugénia Castro, nem sempre esta relação é evidente “porque o paciente não a consegue estabelecer (ou admitir) e o quadro é orientado como funcional, com falência prolongada do tratamento”.

Estatisticamente são as mulheres que mais padecem deste problema, até porque, revela a especialista, têm mais hábitos “de uso vocal intenso e prolongado”. Por outro lado, também são as que mais procuram apoio médico dentro destes contextos.

Apesar dos desafios que o seu diagnóstico pode apresentar, atualmente é possível um diagnóstico mais preciso, sobretudo no que diz respeito à patologia crónica “e sem benefício com o tratamento convencional”.

Ainda que estes casos não sejam fáceis de prevenir, a especialista alerta para os cuidados a ter com a saúde vocal de um modo global. “A prevenção é a melhor estratégia e o diagnóstico precoce a melhor arma para preservar a voz e melhorar o prognóstico”, afirma deixando algumas das principais recomendações:

Evite o uso vocal intenso e prolongado, ou seja não fale muito alto ou durante períodos prolongados, principalmente em ambiente ruidoso.

Fale pausadamente e articule bem as palavras, permitindo-se fazer alguns momentos de repouso para descansar a voz. Outra medida preventiva importante é não fumar e evitar frequentar ambientes de fumo.

A redução da ingestão de álcool, café, chá e bebidas com gás traz ainda benefícios quanto à preservação da saúde vocal, devendo apostar numa alimentação saudável.

As mudanças bruscas de temperatura ou a utilização de espaços com pó, cheiros intensos ou ar condicionado também são de evitar se quer manter a voz saudável. 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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